20 de julho, 2010

D. Jacinto Botelho, Bispo de Lamego, pronunciou no dia 17 de Julho, na Igreja da Santíssima Trindade, a Santa Missa da vigília da peregrinação anual do Movimento da Mensagem de Fátima.
De seguida, a homilia, na íntegra:
 
O recinto que pisamos, não deixa de evocar em cada um de nós, e mantém vivas todas as emoções aqui sentidas há pouco mais de dois meses, com a visita de Sua Santidade, Bento XVI.
Uma saudação muito amiga para quantos acorreis, de todo o Portugal continental e insular, ao lugar onde nasceu a vossa razão de ser. e também no centenário do nascimento da pequenina Jacinta. Vindes como Mensageiros de Fátima para, neste lugar bendito da Cova da Iria, beberdes a autenticidade da mensagem sem deturpações ou desvios, para a ouvirdes e receberdes da boca da Mãe, tal e qual a comunicou a três crianças em 1917. Na realidade os primeiros mensageiros foram os pastorinhos, Lúcia, Francisco e Jacinta e são por isso, para os que aqui nos encontramos o melhor exemplo a imitar. Com toda a razão a Missa desta Vigília é a dos Beatos Francisco e Jacinta.
Talvez possamos dizer que a finalidade das aparições, desde as do Anjo de Portugal, foi preparar os pequeninos para ouvir, assimilar e difundir a mensagem recebida. 
A primeira leitura falou-nos do chamamento de Samuel. Também os pastorinhos foram chamados: Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em acto de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores? A resposta imediata foi, segundo as Memórias da Irmã Lúcia: Sim, queremos. Penitência e oração, são, como habitualmente cantamos, o cerne do recado que nos trouxe Nossa Senhora. E também a nós, a Mãe do Céu, nos dirige o mesmo pedido. A vossa adesão ao Movimento e concretamente esta Peregrinação Nacional, são prova inequívoca do vosso assentimento, e da vossa preocupação e decisão de viver com seriedade o compromisso que assumistes. A atitude fundamental é a recomendada por Heli ao pequeno Samuel: Falai, Senhor, que o Vosso servo escuta.
O mensageiro não pode interromper a ligação pessoal e consciente com a pessoa que o envia. Sabe distinguir a sua voz e, como disse Jesus, o Bom Pastor, nunca a trocará nem a confundirá com a voz do mercenário, do que não é pastor. Não faltam hoje vozes mais aliciantes e porventura mais sugestivas. A primeira qualidade do mensageiro é a total e escrupulosa fidelidade à mensagem que tem obrigação de conhecer. Mas este conhecimento não é possível sem humildade e simplicidade de coração, porque só a estes – os simples e os humildes – é que o Senhor se revela, como ouvimos, no mesmo contexto, num dos Evangelhos desta semana: Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes e as revelastes aos pequeninos. Queremos, nesta peregrinação, poder merecer a Graça de correspondermos a esta confidência de Jesus. Pedimo-la antes de mais, conscientes da nossa miséria pessoal e da nossa fragilidade, pela intercessão da Senhora de Fátima e dos Beatos Francisco e Jacinta. Para tanto, como os pequeninos, prometemos ser fiéis à recitação do Terço, tão insistentemente pedida pela Mãe do Céu e consolidaremos na nossa vida pessoal a devoção à Eucaristia, marcante característica da espiritualidade do Movimento.
Como afirmou Sua Santidade, Bento XVI, também na Vigília do passado dia 13 de Maio, aqui em Fátima, “no nosso tempo em que a fé, em vastas zonas da Terra, corre o perigo de apagar-se, como uma chama que já não recebe alimento, a prioridade que está acima de todas é tornar Deus presente neste mundo e abrir aos homens o acesso a Deus. Não a um deus qualquer, mas Àquele Deus que falou no Sinai; Àquele Deus cujo rosto reconhecemos no amor levado ao extremo em Jesus Cristo crucificado e ressuscitado. Queridos irmãos e irmãs, adorai Cristo em vossos corações! Não tenhais medo de falar de Deus e de ostentar sem vergonha os sinais da vossa fé, fazendo resplandecer aos olhos dos vossos contemporâneos a luz de Cristo, tal como a Igreja canta na noite da Vigília Pascal, que gera a humanidade como família de Deus.”
Este tem de ser o vosso programa de vida e o critério orientador da vossa missão de mensageiros. Não é fácil e exige de vós um generoso e corajoso remar contra a corrente. Vivemos no meio dum ambiente dominado por uma sensualidade despudorada, agressiva e provocadora que se exibe com todo o descaramento como expressão de mentalidade evoluída e actualizada. Neste contexto, falta na maioria dos casos a preparação séria para o casamento. O avançar para a união familiar é uma banalidade, condicionada pelos apetites ou ao sabor do instinto, numa falta de respeito, num desprezo atrevido perante o projecto de Deus criador do matrimónio entre um homem e uma mulher, uno e indissolúvel o qual, sob pena duma auto-destruição da humanidade, não pode ficar à mercê das novidades que o degradam e vilipendiam. Há valores que são inegociáveis e irrecusáveis. Não podemos ficar indiferentes diante de tantas aberrações, mas, com a persistência serena que nos vem do Evangelho e na linha da própria Mensagem que anunciamos, contribuir e colaborar com os meios de que dispomos, para uma formação séria dos futuros lares que possibilite a implantação de conscientes «igrejas domésticas» a testemunhar na alegria, a exigência que a honesta e santa vida familiar comporta.
Outro aspecto para o qual gostaria de chamar a vossa atenção, sem querer demorar-vos muito, é a permanente actualidade da caridade fraterna, como a expressão primeira duma autêntica vivência cristã. O tempo é de crise, como estamos já cansados de ouvir, mas, por isso, de mais atenta proximidade de quantos precisam, seguindo o procedimento e exemplo do bom samaritano da parábola, que ouvimos no domingo passado. Caríssimos Mensageiros, precisais de ser corações que vêem, como nos recomenda Bento XVI, para minimizar as dificuldades dos que já experimentam a pobreza e a fome, vítimas de injustiças que continuam a gerar o escândalo das assimetrias entre os exageradamente ricos que são capazes de aproveitar a crise como factor de enriquecimento, e os que, sem esperança, perderam já a voz e a coragem de denunciar a injustiça que os martiriza.  
Gostaria de terminar, testemunhando-vos o meu apreço pela solicitude pastoral que realizais com os doentes, ajudando-os a descobrir a riqueza espiritual que representam na Igreja e na sociedade; e confidenciando-vos o encanto, a alegria e ao mesmo tempo a esperança que me dá a vossa preocupação de multiplicardes os núcleos de adoração-reparação ao Santíssimo Sacramento constituídos por crianças. Não é esta a lição que o Evangelho que ouvimos nos quis dar? Quem for humilde como esta criança esse será o maior no reino dos Céus […] Não desprezeis um só destes pequeninos. Eu vos digo que os seus Anjos vêm constantemente o rosto de meu Pai que está nos Céus.
Que a Senhora da Mensagem que preside à nossa peregrinação nos ajude a regressar às nossas comunidades mais comprometidos e mais humildes. Amém.
D. Jacinto Botelho
Fátima, 17 de Julho de 2010
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