22 de setembro, 2004


13 de Setembro de 2004
Fátima


1- Ex 20, 1-3.7-8.12-17
2- Hebr. 12, 5-7.11
3- Lc 1, 26-38

Em circunstâncias propícias e benéficas Deus manifestou-se ao Seu povo. Foi no Êxodo, que é símbolo de protecção e solicitude, tempo de libertação e caminhada para a paz na abundância da terra prometida. Neste Êxodo da esperança e das tentações de desânimo Deus afirma a sua identidade e desempenha um papel central para a memória: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egipto, dessa casa da escravidão” (Ex. 20, 1).
O Senhor fala a linguagem pessoal da intimidade relacional e não a. linguagem formal de sistema. Previne contra o politeísmo: “não terás outros deuses”. Nem politeísmo, nem idolatria, nem substitutos de Deus. “Não invocarás o nome de Deus em vão”, que é uma ousadia sem respeito e uma falsidade.
“Lembrar-te-ás do dia de Sábado, para o santificares” (Ex 20, 8): é o dia do descanso, a coroar o processo da Criação e a antecipar o Domingo da Aliança definitiva.
Neste contexto dos Mandamentos de Deus, que sublinham e aprofundam a Lei natural, aparece, vindo de Deus, o sublime mandamento que corresponde à aspiração, à capacidade e ao melhor sentimento de todos, e por isso também dos filhos de Deus “Honrarás pai e mãe, a fim de prolongares os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te vai dar” (Deut. 20, 12).
A grata experiência do Êxodo constituiu para. o primeiro povo de Deus a base da sua mística de unidade como povo e foi pelas vicissitudes do Êxodo que essa mística se aprofundou. A Igreja de Cristo e do Espírito, tem nessa peregrinação a caminho da liberdade uma das referências mais fortes, não só pelo entusiasmo e exaltação, mas também pelos desânimos, provações e desafios à esperança.
Nos inícios do Cristianismo o autor da carta aos Hebreus sentia a necessidade de se dirigir aos cristãos para lhes explicar a fé dos antepassados como justificação dos seus ideais e razão da sua perseverança.
A figura de Maria, Mãe de Jesus, tem um lugar e uma função ímpar na exemplaridade da fé e como modelo para nós. Da revelação divina e do magistério da Igreja consta: “Querendo Deus, na sua benignidade e sabedoria, levar a cabo a redenção do mundo, “ao chegar a plenitude dos tempos, enviou Seu Filho, nascido de mulher, … a fim de recebermos a filiação adoptiva” (Gal 4. 4-5) (L.G. 52).
O episódio da Anunciação põe diante da nossa mente a história e o mistério, a dúvida e a fé, a perturbação e o medo, o Céu e a Terra as criaturas com Maria, e Deus na Trindade das Pessoas divinas.
É um autêntico poema (cf. Lc. 1, 26-38): “Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo”. Maria ficou perturbada, e o Anjo aca1mou-a: “Não temas”. É que o Anjo veio anunciar a Maria:
“Conceberás e darás à luz um Filho,
chamar-se-á Filho do Altíssimo,
será chamado Filho de Deus”.
“A Deus nada é impossível”
“O Espírito Santo virá sobre ti”
Se Maria disse sim (Fiat) foi na obediência da fé:
“Eis a escrava do Senhor;
faça-se em mim segundo a tua palavra”.
Quando logo a seguir Maria visitou Isabel esta saudou-a como “Mãe do seu Senhor” e exclamou: “Bem-aventurada tu que acreditaste que teriam cumprimento as coisas que te foram ditas da parte do Senhor (Lc. 1,, 43-45). E o magistério da Igreja diz que ‘Maria brilha como modelo de virtudes sobre toda a família dos eleitos” (L.G. 65).
Modelo de virtudes a partir da obediência de fé, Maria é visada nesta explicação simples e concreta de S. Mateus: “O nascimento de Jesus deu-se do seguinte modo: Maria, sua Mãe, noiva de José, antes de terem vivido em comum, encontrava-se grávida por virtude do Espírito Santo” (Mt. 1, 18).
Bem-aventurada porque acreditou, “filha. predilecta do Pai e templo do Espírito Santo” (L.G. 53), Mãe dos membros de Cristo e Mãe amantíssima da Igreja (cf.  L.G. 53), Maria está pedagogicamente no nosso caminho ..., mas antes e à frente como tipo da Igreja, para nos ensinar a acreditar que Deus o Pai que criou o universo e o rege com amor e sabedoria; e está presente no Filho que é a sua imagem e se fez Homem; e que realizou historicamente o Seu projecto de amor na e pela força do Espírito que no foi enviado.
Se este é o testemunho da nossa fé cristã, é também razão da nossa devoção filial a Maria, envolvida desde toda a eternidade como consta da Anunciação, neste mistério de Deus e da nossa salvação, por Cristo.
Se de facto foi o Espírito Santo que orientou e levou os discípulos de Cristo á compreensão da verdade plena sobre o projecto de Sa1vação, foi por Maria e a propósito de Maria que a humanidade tomou contacto com as coordenadas e a concretização do Mistério que por Maria encheu o nosso mundo.
Atentos aos valores fundamentais da sociedade e da Igreja, concentramo-nos aqui a reflectir sobre a ‘Famí1ia célula primária. e vital da sociedade”. Esta afirmação é para nós cristãos um axioma consensual e inegável, e consta, tal e qual, do Decreto Conciliar sobre o Apostolado dos Leigos (nº 11). É difícil encontrar quem de nós discorde forma1mente, mas não será tão difícil encontrar fortes e categóricas discordâncias na prática.
Por outro lado, a Igreja ensina que “segundo o desígnio de Deus, o matrimónio é o fundamento da mais ampla comunidade da família (Fam. Cons. 14). João Paulo II disse um dia que “a família se torna um laboratório de humanização e de verdadeira solidariedade” (Jubileu das Famí1ias, nº 5). É por isso natural que a Igreja considere a família nascida do sacramento do matrimónio é o berço e o lugar onde pode encontrar-se mais facilmente com as pessoas. Reflexo do amor trinitário, a Família é chamada a tornar-se aquilo que é (Fam. Cons. 17), a descobrir a própria identidade e missão. Enquanto “Igreja doméstica” é uma comunhão de pessoas que se amam, indissolúvel entre os cônjuges e abrangente em relação ao complexo familiar. Em relação aos fi1hos os Pais têm o dever de assumir a função de um verdadeiro “ministério de educação” proclama a Igreja.
Sem questionarmos os modelos de família que estão fora da nossa cultura e tradição (fora ou contra), insistimos que aqui e nesta circunstância nos referimos à família que resulta do sacramento do matrimónio, à luz da revelação em que se enquadra o mistério e facto da Encarnação que Maria tornou possível pelo seu livre consentimento, e à luz da concretização do projecto do Amor de Deus.
Criado à imagem e semelhança de Deus, o homem é imagem deste Deus Amor, porque “Deus é amor” e vive em si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor. Criando-a à sua imagem e conservando-a continuamente no ser, Deus inscreve na humanidade do homem e da mulher a vocação, e, assim, a capacidade e a responsabilidade do amor e da comunhão” (Fam Cons. 11). A Igreja, que afirma que “o amor é a fundamental e original vocação do ser humano” (Ibid) também afirma e defende que “o próprio Deus é o autor do matrimónio” (G.S. 48).
A mútua doação no matrimónio é a resposta de fidelidade dos esposos ao desígnio, à vontade de Deus Criador, e uma expressão de aliança que evoca todas as Alianças entre Deus e o Seu povo, a culminar com a nova e definitiva Aliança em Jesus Cristo.
Na carta Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa, intitulada “A Família, Esperança da Igreja e do Mundo”, de 31 de Maio de 2004, denunciávamos os “sinais de degradação preocupante de alguns valores fundamentais: uma cultura do provisório, do prazer, do consumo e do bem-estar material, urna cultura da facilidade, do individuo, uma cultura mediatizada do irresponsável e da morte” (cf. nº 12). Há de facto hoje uma enorme confusão no modo de apreciar os valores sobre o matrimónio e a família, na linha da Revelação e da Tradição da Igreja, e na naturalidade com que se introduzem outros modelos de família e conceitos diferentes sobre o amor e o matrimónio.
Quando se fala de conceitos e de leis sobre o matrimónio e a família, de princípios e projectos sobre a sociedade e a educação, sobre as competências do Estado e da Igreja, transparecem e manifestam-se as grandes linhas de convergência e de acordo, de alertas e de apelos em ordem a uma sociedade melhor e a um futuro de esperança. Mas o que certamente mais nos fere é o “acordo” tácito e silencioso em que alimentamos a hipocrisia geral e cada vez mais preocupante. De modo consciente? Objectivamente, com certeza.
Que nostalgia nos invade quando lemos as seguintes palavras da Irmã Lúcia nas suas Memórias: “A Mãe dizia que o matrimónio era a árvore da vida que Deus tinha plantado no jardim do mundo, e que o fruto dessas árvores eram as crianças, que era preciso criar com muito amor, educar com muito cuidado, porque elas vinham trazer à terra a nova vida com que Deus nos enriquece… Dizia também que Deus tinha proibido a Adão comer do fruto da árvore da vida, porque esse fruto era a vida que só a Deus pertence transplantar do tempo para a eternidade, que por isso nos deu o preceito de não matar: “Não matarás”.
Sem exegese científica e sem confrontações ideológicas, estas são palavras simples de sabedoria intuitiva, de fé sem hesitações, de cristianismo vivido na fidelidade à Igreja. E continuam a ecoar, em Fátima e na Igreja, no mundo e na diversidade cultural e religiosa, como apelo à santidade no matrimónio, à felicidade no lar, à alegria na fecundidade responsável e generosa, ao respeito pelas crianças, ao culto pela vida.
Que a Senhora, Mãe, Rainha e fonte de Esperança, seja nossa Medianeira junto do Filho, Jesus Cristo, e venha em nosso auxílio, para alimentar e fortalecer a nossa Esperança cristã.
Fátima, 13 de Setembro de 2004
D. Armindo Lopes Coelho, Bispo do Porto
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