23 de setembro, 2004

Homilia do Cardeal Stephen Fumio Hamao,
durante a Celebração Eucarística do dia 13 de Agosto de 2004:
 
A FAMíLIA MIGRANTE
Instrumento de paz no mundo de hoje
 
 
É com grande alegria e emoção que me encontro neste Santuário de Nossa Senhora de Fátima, entre vós que assim numerosos viestes de toda a Europa (todo o Mundo).

Trago-vos antes de tudo as saudações e a benção do Santo Padre João Paulo II, que está particularmente ligado a este Santuário e que, neste lugar, tem rezado pela a paz no mundo.
Dirijo a todos vós aqui presentes, e também às vossas famílias, a mais cordial saudação em nome do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, que tenho a alegria de presidir e que me permite encontrar as pessoas em mobilidade em todas as partes do mundo.
Esta Peregrinação coincide com a trigésima segunda Semana Nacional das Migrações. A equipa de animação deste Santuário dedica-a este ano ao tema da Família migrante.
O texto do Evangelho que acabámos de proclamar introduz-nos no mistério da Santa Família de Nazaré. Deus revelou-se no seio de uma família. Deus quer viver conosco na intimidade de uma família. Nós somos chamados a viver em família com Deus. Isto é, temos o dever, de reviver em família todo o amor redentor de Cristo, todo o amor com o qual ele amou e salvou sua mãe e seu pai, e com o qual eles o amaram.
Existe, na nossa vida humana, alguma coisa de eterno que se cria e se revela, e a “Jornada” de hoje celebra este valor contido nas nossas acções quotidianas. Devemos fazer, da nossa família, uma Sagrada Família, isto é, uma família na qual se aceita não compreender tudo, mas sim superar conflitos e incompreensões por meio da fé; onde se aceita acreditar sempre, amar sempre, apesar das desilusões e sofrimentos. O mundo foi salvo, a obra da redenção do mundo foi preparada ao longo daqueles trinta anos, numa Família cheia de fé e de amor recíproco.
Com certeza, é difícil realizar tudo isto, sobretudo na família migrante, exposta a tantos perigos e dificuldades: o problema da integração, cada vez mais difícil na nova sociedade; a relação cada vez mais problemática entre os pais e os filhos; a convivência entre os mesmos que se torna cada vez mais difícil e conflituosa, por causa da diferente cultura que os filhos recebem no novo ambiente; o problema da transmissão dos valores familiares na intervenção educativa; o problema da inserção dos filhos no processo escolar.
Mas, não obstante as dificuldades, a família permanece sempre um lugar onde, no seu interior, se faz a aprendizagem de relações verdadeiramente fraternas; onde, mais do que noutro lugar, se faz a experiência de um amor gratuito, além das virtudes e méritos pessoais, como aconteceu no seio da Sagrada Família de Nazaré.
Só nestas condições a família migrante se transformará num meio verdadeiramente eficaz para a construção de um mundo de paz e de fraternidade nas sociedades hodiernas, como deseja o Papa, que escolheu para a Jornada Mundial do Migrante e do Refugiado deste ano, o tema “migrações em perspectiva de paz”.
Somos chamados hoje a pedir à Nossa Senhora exatamente esta coragem e generosidade: encontramo-nos aqui reunidos não somente para venerá-la, mas, sobretudo, para escutar novamente a sua mensagem, o seu convite à oração, e suplicar-lhe a paz no mundo, que ela deseja instaurar com a nossa contribuição pessoal e sacrifício.
 
Vivemos hoje sob o pesadelo de uma guerra camuflada, que nos esmaga num sentimento de medo. O terrorismo astucioso que pode ferir em toda parte e em cada instante; o problema não resolvido do Médio Oriente; as doenças que propagam o contágio e a morte; o grave problema da fome e outros tantos flagelos que ameaçam a sobrevivência da humanidade, a serenidade das pessoas e a segurança da sociedade.
É preciso retornar, portanto, à mensagem que Nossa Senhora confiou a Lúcia, Francisco e Jacinta, há oitenta e sete anos, num contexto histórico como a primeira guerra mundial, muito semelhante àquele em que vivemos hoje. Ela falou de oração, de penitência, de conversão, de solidariedade; revelou o seu desvelo pelo destino da humanidade e ofereceu-nos a sua mediação para a salvação de todos os homens e mulheres.
O Santo Padre esteve várias vezes neste Santuário para agradecer a Nossa Senhora a intervenção miraculosa que lhe salvou a vida no atentado de 13 de Maio de 1981, mas sobretudo para implorar de Maria a sua mediação na solução dos problemas do nosso tempo, sobretudo do problema da paz. Fátima nos estimula, portanto, a ir ao encontro de Maria, Mãe da Igreja e do mundo, Mediadora da graça, Rainha da paz.
Todos vós sois chamados a dar testemunho desta mensagem nas nações particulares em que viveis. O migrante, com a sua humildade e simplicidade de vida e com o seu sacrifício no trabalho quotidiano, torna-se o instrumento privilegiado, com o qual Nossa Senhora deseja converter o mundo à paz, à fraternidade, à solidariedade.
Num mundo dilacerado por tantos problemas que, são frequentes na experiência de cada dia da emigração (desigualdade das condições de vida, jovens sem trabalho, pessoas marginalizadas, idosos abandonados), é importante que todos nós nos sintamos responsáveis pelo crescimento e pela felicidade de todos.
“As migrações – afirmou o Papa, por ocasião da Jornada da paz de 2001 – constituem uma grande oportunidade, se as diferenças culturais são acolhidas como ocasião de encontro e de diálogo e quando a repartição desigual dos recursos mundiais provoca uma nova consciência da solidariedade que deve unir a família humana”. Trata-se, portanto, de descobrir os valores comuns a todas as pessoas e a todas as culturas, tornando possível o encontro de todos os povos: a solidariedade, a paz e a vida. 
Fala-se tanto, hoje, da necessidade do diálogo entre as culturas. Vós, migrantes, sois portadores de um novo modo de dialogar: trata-se de um “diálogo de vida”, isto é, de um diálogo entre pessoas de diferentes culturas e religiões que se partilha na vida quotidiana; nas escadas de casa com uma saudação cordial, no lugar de trabalho com actos de solidariedade, com a participação nos problemas dos outros. Um diálogo que significa, sobretudo, capacidade de conviver com os outros, de escutá-los, de compreendê-los, de aceitá-los com a sua mentalidade e que assim toca intimamente a experiência vivida pelas pessoas, as suas ansiedades e preocupações,
Seguindo estes conselhos, que Nossa Senhora deseja dirigir-nos, conseguiremos traçar, na sociedade de hoje, um verdadeiro “itinerário de paz” e eliminar a prepotência de quem privilegia o uso da força, ao invés do amor, da compreensão e da solidariedade. É este compromisso que Nossa Senhora nos pede, e que todos nós somos chamados a viver nas nossas famílias, no lugar de trabalho, nas relações com os outros.
Nossa Senhora, Rainha da paz, nos proteja e nos ajude neste dever assim tão difícil, mas também tão actual e fascinante, para que no mundo de hoje possamos testemunhar a presença de Cristo Ressuscitado, príncipe da paz.
 
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