13 de setembro, 2015

Amados Peregrinos e Peregrinas,
O evangelho de hoje (Lc 8,19-21) nos traz o episódio em que a Mãe e os irmãos de Jesus foram até onde Ele estava e queriam vê-Lo. Aqui convém explicar que a expressão “irmãos de Jesus”, de acordo com a herança patriarcal de Israel, não significava só os irmãos de sangue e sim também os parentes mais próximos, como os primos. O uso da expressão nesta perícope deve ser entendida à luz da reacção de Jesus e do sentido que Ele dá sobre quem é sua mãe, seus irmãos e irmãs. Na tradição cristã a expressão deste evangelho sempre foi entendida concretamente como sendo os parentes próximos e nunca como possíveis irmãos de sangue, filhos de Maria.
À primeira vista, a reacção de Jesus foi muito estranha. Por exemplo: não Ele não foi ao encontro de sua Mãe para abraçá-la e demonstrar todo o amor e carinho que Ele tinha por Ela, como nós faríamos.
O evangelista Marcos descreve a reacção de Jesus um pouco mais detalhada: “Então Jesus olhou para as pessoas que estavam sentadas ao seu redor e disse: Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe" (Mc 3,34-35).
Jesus com suas palavras não tinha intenção de negar os vínculos de parentesco natural nem desprezar sua mãe, mas alargar o sentido de pertença à Sua família! Para Jesus, o critério para pertencer à família Dele deixa de ser o sanguíneo e passa a ser o espiritual, ou seja, fazer a vontade de Deus. Para Jesus o que vai definir o verdadeiro sentido de família é a escuta e a prática da Palavra de Deus.
Portanto, é a palavra de Deus que cria uma nova família ao redor de Jesus: "Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática." Como consequência, Maria se tornou duplamente "mãe": primeiro porque gerou Jesus e segundo porque mais do que ninguém ela soube escutar a Palavra e fazer sempre a vontade de Deus.
Para Jesus, a escuta e a prática da Palavra de Deus devem criar laços familiares mais fortes do que os laços de sangue. E assim, o escutar a Palavra e o pôr em prática esta Palavra produzem o efeito de nos tornar mãe, irmãos e irmãs de Jesus.
Como devotos de Nossa Senhora de Fátima, devemos ter a Mãe de Deus como modelo de vida. Se olharmos a vida de Maria, constataremos que primeiro ela escutou a Palavra e, depois, se tornou a Mãe do Senhor (cf. Lc 1,43). A mesma coisa pode acontecer com cada um de nós hoje, se acolhermos a Palavra que nos é dirigida. Jesus quer crescer no mundo e o principal caminho para este crescimento somos todos nós. Ele quer crescer em nós, como cresceu em São Paulo a tal ponto do grande Apóstolo poder afirmar: “Eu vivo, mas não sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
Se acolhermos a sua Palavra, se a contemplarmos e a conservarmos em nosso coração, se lhe dermos espaço, se procurarmos sempre recordá-la, se ela se tornar a luz dos nossos passos, Jesus crescerá em nós, à nossa volta e no mundo.
Maria é o principal modelo de como se deve escutar e acolher a Palavra de Deus na vida. Para nos dispormos interiormente com proveito na escuta e acolhimento da Palavra, devemos estar em atitude constante de conversão e de oração, como está bem claro na mensagem de Fátima.
Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores” é o pedido feito por Nossa Senhora, em sua aparição aqui em Fátima no dia 19 de Agosto de 1917. Por isso a nossa vida deve se tornar uma oração contínua. Neste contexto, a oração do Rosário deve ter um lugar privilegiado, visto que Ela, em todas as aparições, recomendou rezar o Rosário (terço). Inclusive na última aparição Ela apresentou-se como a Senhora do Rosário e insistiu: “continuem sempre a rezar o terço todos os dias”.
Quero destacar outro aspecto importante da oração tendo como exemplo a própria Mãe de Jesus. A inspiração vem da 1ª leitura (Act 1,6-14) de hoje: a oração em comunidade. O autor dos Actos dos Apóstolos narra que a comunidade primitiva rezava unida: “Todos eles perseveravam na oração em comum, junto com algumas mulheres – entre elas, Maria, mãe de Jesus – e com os irmãos dele”. (Act 1,14). O autor sagrado fez questão de frisar que todos perseveravam na oração em comum e cita explicitamente a presença de Maria, mãe de Jesus, entre eles. Isto quer dizer que, como devotos de Nossa Senhora, devemos imitá-la, além da escuta da Palavra, também na oração em comum. Não podemos ficar numa oração individualista, mas a nossa oração deve nos comprometer com a comunidade e com a Igreja.
O Papa Bento XVI, comentando esta passagem dos Actos, diz:
Venerar a Mãe de Jesus na Igreja significa aprender dela a ser comunidade que reza. Muitas vezes, a oração é determinada por situações de dificuldade, por problemas pessoais que nos levam a dirigir-nos ao Senhor para receber luz, consolação e ajuda. Maria convida a abrir as dimensões da oração, a dirigir-nos a Deus não só na necessidade, nem só para nós mesmos, mas de modo unânime, perseverante e fiel, com «um só coração e uma só alma» (cf. Act 4, 32) (Audiência Geral - 14 de Março de 2012).
Nós somos chamados à santidade, e para darmos uma resposta positiva a Deus é necessário agir. Para agirmos correctamente, a liturgia de hoje e a mensagem de Fátima nos ensinam que devemos estar sempre a escutar a Palavra de Deus, pôr em prática esta Palavra, rezar sem cessar e ter uma atitude de conversão permanente.
Que esta Peregrinação seja para todos uma experiência inesquecível para que cada um possa permanentemente dar uma resposta positiva ao chamado à santidade. Que a Virgem de Fátima proteja a todos e fortifique-os na fé, na esperança e na caridade. Ámen.
 
+ Wilmar Santin, O.Carm.
Bispo da Prelazia de Itaituba, Pará - Brasil
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