12 de maio, 2011

Peregrinação Internacional Maio 2011
Homilia 12 de Maio
CARDEAL  SEAN O´MALLEY, OFM Cap
Foi para mim um grande privilégio ter sido convidado a presidir às celebrações da peregrinação de Maio no Santuário de Nossa Senhora de Fátima. No entanto, quando D. António Marto me falou, não me apercebi que também era suposto pregar no dia 12. Assim tive um breve momento de hesitação ao tentar decidir de que vos haveria de falar esta noite. Tenho sempre presente o meu primeiro sermão que acabou mal e o meu único consolo é que o primeiro sermão de Jesus também acabou mal. Tanto assim que a população de Nazaré o levou até um precipício para o atirar de lá abaixo. É que a minha primeira missão foi como capelão de uma prisão. Estava um tanto apreensivo porque nunca tinha ido a uma prisão e nunca tinha feito um sermão. Não sabendo por onde começar, fui para a minha cela no mosteiro consultar o livro sobre como escrever uma homilia. A sugestão era clara: «aborde os temas dentro do horizonte da sua comunidade». De repente, tive uma inspiração. Decidi falar sobre as grandes fugas da Bíblia. Contei aos prisioneiros sobre Daniel na cova dos leões, os três jovens na fornalha ardente, São Pedro acorrentado, São Paulo escapando num cesto por cima dos muros de Damasco. Fui escutado com toda a atenção e pareceu-me que não me tinha saído mal. Mas nessa noite, seis prisioneiros escaparam da prisão e eu estava a ver que o meu primeiro sermão ia ser o último...
O que dizer a milhares de peregrinos que vêm a este lugar santo, onde o céu e a terra se encontram? Jesus disse que se não nos tornarmos como crianças não entraremos no reino dos céus. E aqui em Fátima, a Mãe de Deus veio visitar umas crianças, duas das quais foram beatificadas pelo Beato Papa João Paulo II. Vimos aqui com um coração de criança, cheios de confiança e carinho pelo nosso Pai do Céu e por Maria, Mãe de Deus. No caso de Fátima, a escolha dos videntes é parte integrante da mensagem. Nós que aqui estamos esta noite, também nos temos que tornar como crianças se queremos entrar no reino dos céus. E vimos aqui entregar a nossa vida nas mãos de Nossa Senhora.
Em Fevereiro deste ano tive o privilégio único, com vários outros bispos, de celebrar a Eucaristia no Cenáculo em Jerusalém no local mesmo onde Jesus celebrou a última Ceia com os Seus discípulos. É também o sítio onde Nossa Senhora e os Apóstolos perseveraram juntos em oração nessa primeira novena que culminou com a efusão do Espírito Santo no dia de Pentecostes. Festejamos Pentecostes como o nascimento da Igreja. Pedro e os outros Apóstolos, que tinham tido tanto medo a ponto de fugir do Calvário, estão agora cheios de graça e coragem. Depois de Pentecostes, começam a anunciar as maravilhosas obras de Deus, com ousadia, corajosamente, numa língua que todos entendiam. E assim como Maria se torna Mãe do Salvador em Belém, torna-se Mãe da Igreja no Pentecostes.
Estamos aqui reunidos como no Cenáculo porque queremos perseverar na oração com a nossa Mãe que veio cá à Cova da Iria para nos encorajar a sermos fiéis a uma vida de oração e penitência. A tradição conta que Nossa Senhora e os Apóstolos fizeram a primeira novena rezando durante nove dias consecutivos desde a Quinta-feira da Ascensão até ao Domingo de Pentecostes. Em Fátima, temos uma novena de aparições: três aparições do anjo e seis aparições de Nossa Senhora. As aparições de Fátima iriam inaugurar um novo Pentecostes e ser como uma explosão de renovamento e crescimento espirituais. No Pentecostes, a Igreja estava unida com Maria na oração e unida com Pedro no anúncio destemido do Evangelho de Jesus Custo crucificado e ressuscitado.
A mensagem de Fátima com a sua visão apocalíptica veio num momento crucial da nossa história. O século Vinte é o século mais sangrento, mais violento da história da humanidade. É o século que viu nascer o comunismo, o nazismo e o fascismo. É o século do holocausto e da bomba atómica, de duas guerras mundiais, do aborto e da eutanásia legalizados. A Nossa Mãe queria estar ao nosso lado e chamar o mundo de volta para Deus. Quando eu era criança rezávamos todos os dias na Missa pela conversão da Rússia e pela queda da Cortina de Ferro; e essas preces foram ouvidas.
Na primeira década do século Vinte e Um, o mundo continua abalado pela guerra e pela violência. A morte de Osama bin Laden na semana passada lembra-nos o confronto entre o Ocidente Cristão e os expoentes radicais do Islão. Assim como creio que a escolha de crianças para videntes faz parte da mensagem, tenho para mim que o lugar das aparições - Fátima - também faz parte da mensagem. D. Fulton Sheen no seu livro O Primeiro Amor do Mundo: Maria, Mãe de Deus, dedica um capítulo a Maria e aos Muçulmanos. O Alcorão tem versos que falam da Anunciação, da Visitação, da Natividade. Há descrições de Anjos que acompanham Nossa Senhora dizendo-lhe: «Deus escolheu-te e purificou-te e elegeu-te entre todas as mulheres da terra». No capítulo dezanove do Alcorão, há 41 versos sobre Jesus e Maria. Fátima era a filha predilecta de Maomé mas quando ela morreu o profeta escreveu: «serás a mais abençoada de todas as mulheres no paraíso, depois de Maria». De certa forma, estou convencido que Maria ajudará a fazer a ponte entre o Cristianismo e o Islão.
A mensagem de Nossa Senhora de Fátima é sempre actual, sempre crucial e é por isso que três Papas cá vieram celebrar a Eucaristia e chamar a atenção do mundo para a mensagem de oração, penitência e conversão trazida por Maria.
Nossa Senhora desceu do céu e foi a Fátima que escolheu vir. Ela é a mestra que conduziu os Pastorinhos a um conhecimento mais profundo do amor da Santíssima Trindade e levou-os a saborear o próprio Deus como a mais maravilhosa realidade da existência humana. Esta experiência da graça fê-los apaixonarem-se por Deus em Jesus de tal maneira que Jacinta exclamava: «Gosto tanto de dizer a Jesus que O amo! Quando lho digo muitas vezes parece que tenho um lume no peito mas não me queimo». E Francisco dizia: «Do que gostei mais foi de ver a Nosso Senhor, naquela luz que Nossa Senhora nos meteu no peito. Gosto tanto de Deus!» O nosso Santo Padre Papa Bento XVI disse quando esteve aqui connosco em Fátima no ano passado: «Exemplo e estímulo são os Pastorinhos, que fizeram da sua vida uma doação a Deus e uma partilha com os outros por amor de Deus. Nossa Senhora ajudou-os a abrir o coração à universalidade do amor. De modo particular, a Beata Jacinta mostrava-se incansável na partilha com os pobres e no sacrifício pela conversão dos pecadores. Só com este amor de fraternidade e partilha construiremos a civilização do Amor e da Paz».
O Papa Bento XVI exorta todos: «Aprendei a mensagem de Fátima! Vivei a mensagem de Fátima! Divulgai a mensagem de Fátima!» Maria encoraja-nos a viver uma vida cristã autêntica obedecendo aos mandamentos de Deus e cumprindo os deveres inerentes ao nosso estado de vida. Nossa Senhora convida-nos a crescer em virtude, a evitar o pecado e a sermos rápidos a confessar as nossas faltas. Maria diz-nos que temos de rezar todos os dias, especialmente o rosário. Sem Deus, não somos nada, por isso temos que rezar se queremos ter a força necessária para viver como bons cristãos. O pedido que Nossa Senhora mais repete, é que rezemos o terço todos os dias. Nossa Senhora pede que guardemos a devoção dos cinco primeiros sábados que requer empenho e sacrifício. E finalmente, Nossa Senhora insiste connosco para que façamos sacrifícios pela conversão dos pecadores e para que aceitemos pacientemente os sofrimentos da nossa vida em reparação pelos nossos pecados e pelos pecados dos outros. A melhor maneira de nos tornarmos próximos de Cristo é de unir os nossos sacrifícios e sofrimentos aos Seus. Ao unirmos os nossos sacrifícios com os de Custo, por amor a Deus Pai e por amor às almas que estão longe de Deus, podemos participar na salvação do mundo.
Não há maior poder que o amor sacrificial de Deus e nós somos chamados a participar nele.
Durante a sua Missa em Lisboa no ano passado, o Santo Padre disse: «a prioridade pastoral, hoje, é fazer de cada mulher e homem cristão uma presença irradiante da perspectiva evangélica no meio do mundo, na família, na cultura, na economia, na política. Testemunhai a alegria da presença forte e suave [de Jesus] a todos. Dizei-lhes que é belo ser amigo de Jesus».
Possa esta peregrinação ser um novo Pentecostes nas nossas vidas e insuflar nos nossos corações a alegria e o entusiasmo dos Pastorinhos. Com eles rezamos: «Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e não Vos amam.»
Santuário de Fátima, 12 de Maio de 2011
Seán O´Malley, OFM Cap,
Arcebispo de Boston
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