20 de abril, 2023

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“Há caminho para além da dor, da justa revolta e da injustiça”

Igreja em Portugal pediu perdão às vítimas de abusos sexuais e apontou um caminho de renovação, numa celebração que juntou os bispos portugueses na Basílica da Santíssima Trindade, em Fátima, esta manhã.

 

Uma Missa por intenção das vítimas de abusos sexuais foi celebrada pelos bispos portugueses, esta manhã, na Basílica da Santíssima Trindade, no Santuário de Fátima. A presidir à celebração esteve o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. José Ornelas, que, na homilia, reconheceu a “enormidade destruidora da violência e do abuso”, assim como a “absoluta necessidade de a Igreja se colocar ao lado de quem sofre”, reiterando o pedido de perdão às vítimas de abusos sexuais e apontando um caminho de renovação “para além da dor, da justa revolta e da injustiça”.

Logo no início da celebração, que se inseriu numa jornada nacional de oração de poder e de consciência na Igreja em Portugal, o presidente da celebração declarou o “sentido de penitência humilde, de solidariedade e proximidade cristã” a que apontava a Eucaristia, ao lembrar todas as “vítimas de comportamentos completamente iníquos, cruéis e manipuladores, por vezes disfarçados de atenção, afeto e até de motivação religiosa”.

“Irmãs e irmãos, hoje, aqui na Cova da Iria, em Fátima, na conclusão de uma Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, reunimo-nos, os bispos e todos os cristãos que quiseram e puderam, para celebrar a Eucaristia, tendo especialmente presente as pessoas que foram vítimas de abusos sexuais, de poder e consciência na Igreja”, começou por dizer o prelado, assumindo, de seguida, “a dor, a perturbação” das vítimas e também a incapacidade da Igreja em “tomar consciência e de velar como devia, para evitar estes abusos e para lidar com a gravidade das ofensas que foram feitas”.

“Reconhecemos e apresentamos, a cada um e a cada uma daqueles e daquelas que sofreram estes abusos em ambiente eclesial, um profundo, sincero e humilde pedido de perdão, em nome da Igreja, na qual eles confiaram e onde sofreram tão injusta e perturbadora violência”, declarou o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, ao pedir “a força, a coerência e a determinação de tudo fazer para que as pessoas que sofreram tão injustamente possam ter condições de superar os dramas que lhes foram infligidos, recuperar a estabilidade e a esperança na vida”.

 

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"Queremos empreender um caminho de reparação e de superação das dificuldades"

Na homilia que proferiu na celebração, D. José Ornelas reconheceu a “enormidade destruidora da violência” dos abusos e afirmou a “absoluta necessidade de a Igreja se colocar, antes de mais e acima de tudo, ao lado de quem sofre esta devastadora realidade”.

“Não se pode passar ao lado nem encobrir, por comodidade ou conivência. Não se pode pactuar com situações e atitudes que comprometam, deste modo, a vida de pessoas inocentes. A “tolerância zero”, de que fala o Papa Francisco, exprime esse compromisso fundamental para com a vida e a justiça, em favor dos que foram iniquamente delas privados”, reiterou, ao clarificar que esta atitude não é dirigida contra ninguém e que também inclui os que “causaram estes males” e que “precisam de ser libertados dessas atitudes que os despersonalizam”.

O presidente da celebração renovou o pedido de perdão em nome da Igreja em Portugal, reconhecendo o “mal que foi imposto, de forma injusta e abusiva e no ambiente onde menos deveria ter acontecido”.

“Essa dor é também a nossa e continuará a doer enquanto a vossa não for curada. Mas é uma dor que nos acorda, nos motiva e nos abre humildemente a ir ao vosso encontro, a escutar o que é incómodo, a reconhecer a dor e a procurar partilhá-la e, na medida do possível, aliviá-la e colaborar, por todos os meios, na libertação daqueles que foram tão dramaticamente afetados”, disse o presidente da CEP, ao apontar “caminhos de futuro” na experiência fraterna e solidária a que a Igreja deve estar disposta.

“Estamos a criar condições para que esse encontro seguro e transformador seja possível. É convosco, e na medida do vosso desejo, que queremos empreender um caminho de reparação e de superação das dificuldades”, assegurou o prelado, traçando um horizonte de esperança na renovação eclesial.

“Há caminho para além da dor, da justa revolta e da injustiça. Convosco, com o vosso testemunho, com a vossa inconformidade e tenacidade de vida, esperamos também ser Igreja renovada e inconformada com qualquer tipo de mal”, concluiu.

Na oração dos fiéis, foi ainda feita uma prece particular pelas pessoas que foram vítimas de qualquer espécie de abusos, onde a assembleia pediu pela “cura das suas feridas e a coragem para uma vida nova” em “Cristo ressuscitado”. A mesma proposta de oração universal foi enviada pelos bispos aos membros do clero e de institutos consagrados, para ser utilizada nas celebrações eucarísticas de quinta-feira, dia em que a Igreja se congrega numa jornada nacional de oração pelas vítimas de abusos sexuais, de poder e de consciência na Igreja.

 

 

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