13 de fevereiro, 2020

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Fazer a Paz “é uma responsabilidade diante de Deus” adianta D. Wilmar Santin

 

O Prelado da diocese de Itaituba, no estado do Pará, Brasil, esteve em Fátima de passagem entre Roma, onde participou no Sínodo dos Bispos para a Amazónia e o Brasil. Carmelita, doutorado em História da Igreja, foi ordenado bispo pelo Papa Bento XVI e, numa entrevista à Voz da Fátima falou dos desafios que a Mensagem deixada por Nossa Senhora coloca nos dias de hoje, da expetativa em relação à exortação pós-sinodal e dos temas fraturantes que marcaram a reunião no Vaticano, a que o Papa assistiu participando em todas as sessões plenárias.

 

A Paz é um tema muito central em Fátima. O que é que a mensagem de Fátima pode trazer ao mundo na composição da ecologia integral que o Papa defende?

Para a definição dessa ecologia temos de partir sempre da nossa fé e do que nos diz a nossa fé; quando a professamos, é que “cremos em Deus, Pai todo poderoso, Criador do Céu e da Terra...”. Se nós cremos que Ele é o criador e que vemos o mundo e o planeta terra, em concreto, como uma criação de Deus, que nos foi deixada como herança, temos de cuidar dela. Temos de nos assegurar de que aquilo que deixamos às futuras gerações, se não estiver melhor, pelo menos que esteja tão bem como nos foi deixado. Esta é a nossa obrigação.

 

Mas não é isso que temos feito, nomeadamente na Amazónia de onde vem...

É... comportamo-nos mais como o filho pródigo e esbanjamos a nossa herança. Temos de ser capazes de fazer melhor e não esbanjar a nossa herança. O nosso lema tem de ser preservar e, assim sendo, ajudar a criar essa consciência de que nós temos um dever para com os outros em geral. Nós temos uma responsabilidade diante de Deus: fazer a Paz. E a paz não tem de ser simplesmente ausência de guerra.

 

O que é que está a acontecer, então, para nós que nos dizemos cristãos não estarmos a fazer nada daquilo que dizemos, em profissão fé?

Nós estamos a deixar-nos levar muitas vezes por uma visão errada da vida, por um progresso que se tornou ele próprio vítima de si. Que progresso é este que não preserva a natureza, que destrói o homem e o torna escravo das suas opções?

 

Comportamo-nos como donos em vez de administradores?

Sim, sem dúvida.

 

Fátima alertou-nos e alerta-nos para o perigo da arrogância do homem através da sua condição de pecador...

Sem dúvida, a Mensagem de Paz que daqui ecoou para o mundo inteiro há cem anos continua a ser atual. Nossa Senhora apareceu no final da guerra; ela pediu oração pela Paz. A Igreja tem de voltar a ser capaz de ensinar a rezar pela Paz. E a Paz não tem que ser só a ausência de guerra, no sentido bélico. Isto não é algo que esteja acima de nós. Cada um precisa de paz e na justa medida em que formos capazes de alcançar individualmente a paz também conseguiremos contagiar os outros com essa mesma paz. Quando acontece a conversão do coração, cada pessoa é agente e instrumento de mudança do seu mais próximo e assim sucessivamente. Havendo a pacificação de cada um existirá, portanto, uma pacificação gradual do mundo: primeiro na família, depois na sociedade e depois a paz entre países... Reze-se o terço; é muito importante e o Papa tem insistido.

 

O Senhor Bispo vem de Roma, onde participou nos trabalhos do Sínodo. O que espera da exortação apostólica pós-sinodal?

Não vai ter grandes novidades, mas vai indicar um caminho que se iniciou com a preparação do Sínodo e que não vai ter mais volta. Nós vamos ter de mudar a Igreja na Amazónia. Criar uma Igreja mais ministerial. Não tem mais como ficarmos centralizados na figura do bispo e do padre. A Amazónia é um bom lugar para fazer cumprir o que foi decidido pelo Concilio Vaticano II. A Igreja Católica tem uma estrutura que está muito centralizada na figura do padre. As Igrejas Evangélicas têm uma outra flexibilidade e, por isso, chegam sempre aos locais primeiro que nós. Precisamos de mudar para cumprir melhor a missão que Jesus nos confiou: levar a Boa Nova aos confins do mundo. Não estamos a conseguir porque temos uma estrutura muito pesada e muito hierarquizada. Temos de criar um mecanismo que nos garanta uma maior agilidade na tomada de decisões, que descentralize a decisão do padre e, por outro lado, que garanta uma maior mobilidade.

 

O que é que isso quer dizer em concreto?

Por exemplo, na Amazónia queremos ter a possibilidade de ordenar homens casados. Não se trata de abolir a regra do celibato ou que os atuais padres possam casar. O que foi pedido e sugerido ao Papa Francisco foi a possibilidade de cada diocese explorar aquilo que o Direito Canónico já permite: homens casados que, em comunidades recônditas, onde existam dificuldades comprovadas de impossibilidade de deslocação regular de um sacerdote, o possam substituir e celebrar todos os sacramentos. Mas para isso terá de ser ordenado. Agora cabe ao Papa o estabelecimento dos critérios.

 

Isso implica também mulheres?

Aí já é mais complicado... Porque se há registo de que no passado, na Igreja primitiva, havia diaconisas a verdade é que ainda não se chegou à conclusão do modo como eram ordenadas ou se o eram, nomeadamente se havia a imposição das mãos. Enquanto isso não se provar acho que a questão não será resolvida. Nessa matéria o sínodo propôs ao Papa a continuidade de mais estudos sobre o assunto. Mas a realidade mostra-nos que as mulheres já estão ao serviço. Na prática, e indo à etimologia da palavra, as mulheres já estão a exercer o Diaconado e até, vamos dizer, um poder do Evangelho quando Jesus diz que o maior é aquele que serve. Elas são as maiores servidoras da Igreja e do povo de Deus, seja como catequistas, seja como líderes comunitárias.

 

Têm o poder da influência, mas não têm o da decisão nem têm acesso ao Sacramento da Ordem. Aliás, nem há mulheres instituídas nos ministérios de acólito ou de leitores...

Sim, mas olhe que no Brasil não é assim. Veja bem a realidade: na maioria das faculdades as mulheres lideram na Academia; estão em maior número e ocupam posições importantes; estando mais capacitadas têm lugares mais importantes. Na sociedade civil as mulheres estão a assumir protagonismo; nalgumas dioceses, como na minha, por exemplo, mais de 70% do governo da diocese já está entregue a mulheres. É uma questão de tempo. Eu sou do sul do Brasil e tenho um ritmo mais acelerado que o das gentes que sirvo na Amazónia. E eles dizem-me que o rio corre sempre com a mesma velocidade. Porque é que nós havemos de querer introduzir alterações noutra velocidade? A estrada mais longa é a que vai da cabeça ao coração; mudar a cabeça e enviar para o coração, exige muito mais tempo, mas não quer dizer que não chegue lá.

 

 (Fátima Luz e Paz, Ano 16, N.º 64, 13 de fevereiro de 2020)

 

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