12 de fevereiro, 2021

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“Fátima tem de ser a expressão de uma solidária salvação”, refere Eugénio da Fonseca

Rosto do voluntariado e da Cáritas ao longo de mais de 20 anos, Eugénio da Fonseca é o convidado do podcast #fatimanoseculoXXI de fevereiro. Professor, licenciado em Ciências Religiosas pela Universidade Católica Portuguesa, tem dedicado a vida ao cuidado do outro. 

 

O Santuário “cuida da salvação espiritual” da pessoa, mas também cuida da salvação da pessoa “como um todo”, porque a mensagem de que se faz anunciador aponta para uma “solidariedade salvífica”. A apropriação da expressão pedida de empréstimo por Eugénio da Fonseca ao bispo auxiliar de Braga, D. Nuno Almeida, que a proferiu numa Peregrinação Internacional Aniversária, é intencional.

“Desse grande altar do mundo têm emanado grandes apelos para que na pastoral das comunidades, aonde regressam os peregrinos depois de estarem em Fátima, possam ser desenvolvidos gestos concretos”, explica o ex-presidente da Cáritas. “Esta é uma expressão identitária de Fátima: Fátima tem de ser a expressão de uma solidária salvação” sendo que, “quando se fala em salvação, a perspetiva é de que seja do homem todo e de todos os homens”, nos planos “espiritual e material”, esclarece.

“Sou testemunha, enquanto presidente da Cáritas, das ajudas e das causas que o Santuário abraçou como suas, seja dentro seja fora do país. E, por nós, imagino o que é a ação de bem fazer do Santuário”, acrescenta sublinhando as diferentes dimensões da pastoral da Instituição, seja litúrgica, catequética ou social. “O que me parece é que essa ação, assim como a luz que se mete em cima dos telhados para que se glorifiquem as obras e se louve a Deus, também através de Maria, deveria ser mais explicitada, porque sei que são muitas e variadas as ações concretas que o Santuário desenvolve e que não são do conhecimento público”, refere ainda.

Por isso, elege como desafio para o segundo século de Fátima uma “nova dinâmica da pastoral social” e uma afirmação do Santuário a partir de três linhas de ação: o acolhimento, que deve ser cuidado, nomeadamente no quadro da celebração do sacramento da Reconciliação;  na reposição do “sentido da peregrinação”, despertando o desejo do caminho e no estímulo ao “diálogo inter-religioso”.

“Neste tempo de pandemia, o Santuário propôs uma peregrinação espiritual, mas o ser humano precisa de se pôr a caminho. Logo que termine a pandemia há que retomar ações para levar os peregrinos a Fátima, ações que nos possam fazer refletir sobre o sentido da vida e da nossa existência”, adianta sublinhando uma dimensão específica: “O Santuário de Fátima tem tido esta capacidade de ser um lugar de encontro de várias religiões. A seguir a esta pandemia estou certo de que a necessidade deste diálogo vai ser ainda mais premente. Creio que as religiões vão ter um papel fundamental na nova ordem mundial, no diálogo entre países e nações”, constata Eugénio da Fonseca ao reservar “um papel-chave” do Santuário.

Por outro lado, acrescenta, “é fundamental criar uma dinâmica de pastoral social”, despertando uma “consciência de comunidade no sentido mais alargado”.

“O Santuário tem um grande desafio pela frente: ser esperança no tempo presente e ter a capacidade, através da narrativa que brota dos diferentes altares de Fátima, de afirmar a presença de um Deus que nos ama e que nos há de salvar, a cada um de nós e a nós todos”, refere destacando esta “profecia” de Fátima, que é “sempre atual”.

Eugénio da Fonseca fala dos protagonistas de Fátima – os Santos Pastorinhos – e da sua “simplicidade que nos faz parecer mesmo irmãos, de facto”, do “cuidado e da disponibilidade com que partilhavam o pouco que tinham” e da forma como rezavam. “A oração é uma das maiores formas de partilha, e eles tiveram essa graça do dom do Céu, aonde iam buscar a sua força”, refere exemplificando com o tempo em que estiveram detidos e convocaram os que, como eles, estavam privados de liberdade para rezarem e converterem os seus corações.

“A perfeição total está-nos garantida na bem-aventurança eterna, mas temos sempre esta possibilidade de conversão e, sobretudo, de acreditar que o ser humano tem potencial para se redimir, e que essa redenção é-nos dada pela graça de Deus através de cada um de nós” adianta, frisando que “ não é uma inevitabilidade o mundo viver em plena desgraça, em caminhos que põem obstáculos à salvação de muitos ; o que importa é que cada um de nós,  com a nossa palavra e exemplo, seja capaz de ser redentor, à imagem de Cristo. Isto faz-se amando e amando o próximo como os Pastorinhos amavam”.

“A História encontra-se numa encruzilhada e nós somos convocados a refletir sobre a necessidade de uma mudança de rumo. O que eu vejo nesta pandemia muitas vezes é uma clara tensão entre o campo político e o da ciência e, francamente, acho que agora estamos no tempo da ciência. É tempo de deixar a ciência falar e não tirar dividendos políticos. E deixe-me dizer-lhe aqui que a Igreja tem tido uma atitude muito correta não enveredando por um campo muito providencialista, mas indo ao encontro das necessidades reais das pessoas”, fazendo-se próxima ao jeito do bom samaritano, que a nova Encíclica do Papa Francisco, Fratelli Tutti, avança. “Esta carta reforçou em mim a esperança de uma mudança social que o Papa pede”, refere, ainda, enaltecendo o conceito de “amizade social” que o Santo Padre evoca. “A amizade social é um termo mais rico do que a cidadania, pois esta amizade é uma etapa de um processo amoroso que todos temos dentro de nós e que somos chamados a desenvolver em ordem a prepararmos esse encontro com Deus”.

“A Igreja é convidada a falar da amizade social que nos incita a um comportamento: sermos vizinhos uns dos outros”, acrescenta. “O individualismo para o qual fomos levados por um sistema económico que valoriza o ter, com menosprezo do ser, pode ser combatido por esta proximidade, por esta vizinhança”, diz.

“O povo diz na sua sabedoria popular que ninguém deve pregar a estômagos vazios. O pobre não é pobre porque quer; precisamos de parar de dizer que a pobreza é uma fatalidade” adianta. “Muitas vezes estigmatizamos o pobre quando deveríamos estigmatizar a pobreza. Amar o pobre para que ele compreenda que somos irmãos, porque somos filhos do mesmo Pai, não é uma tarefa fácil, mas tem de ser uma prioridade da Igreja” refere.

O podcast#fatimanoseculoXXI com Eugénio da Fonseca pode ser ouvido na íntegra em www.fatima.pt/podcast ou através do SoundcloudiTunes e Spotify.

 

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