10 de dezembro, 2020

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“Fátima nasce de personalidades fortes que abdicam de uma vida em torno de uma verdade” refere Helena Matos

A jornalista e investigadora é a convidada do Podcast #fatimanoseculoXXI. Fala de Lúcia de Jesus- “uma das personalidades mais marcantes do século XX português”- e da relação entre os papas e Fátima: “É impossível hoje um Papa não vir a Fátima”

 

Fátima “é o maior movimento de massas” em Portugal e nasce da determinação de pessoas como a Irmã Lúcia, “que abdicaram de ter uma vida própria em nome da defesa de uma verdade” refere Helena Matos na conversa sobre Fátima no Século XXI, o podcast mensal do Santuário de Fátima disponível em www.fatima.pt/podcast, no Itunes e no Spotify.

“Fátima nasce de personalidades fortes que abdicam de uma vida em torno de uma verdade”, muitas vezes, “com sacrifício pessoal” avança a investigadora .

“Para que Fátima crescesse há um sacrifício pessoal na vida de Lúcia, que foi profundíssimo. Foi alguém que abdicou de tudo, até da sua própria identidade”, sublinhou ao lembrar o que foi pedido à jovem vidente quando entrou no convento, desde o pedido para não falar de Fátima até à impossibilidade de obter o diploma da quarta classe porque o seu nome não poderia aparecer na pauta do exame.

“Deve ter sido algo brutal. Só uma pessoa com uma enorme capacidade de despojamento pode ter sido capaz de um feito destes, de assimilar isto tudo” refere Helena Matos que não poupa nos elogios à personalidade da vidente, cujo processo de beatificação decorre em Roma.

“Nós costumamos valorizar muito ativistas, sobretudo quando são mulheres, mas diante de Lúcia temos de perceber que ela tem algo de muito mais especial: tem uma força, uma determinação e um carisma inigualáveis” apesar de ter sido depreciada pela imprensa da altura e até pela própria família, sobretudo a mãe, com quem mantinha uma relação tensa, como destaca Helena Matos que frisa a importância da verdade e da mentira na história de que é tecida a vida da religiosa carmelita. Apavorada pelo facto de a mãe não acreditar nela, “Lúcia vai sentir uma necessidade de provar a verdade constantemente”.

“A Lúcia é uma sobrevivente: da doença, que dizima os primos, e de uma história da qual é a protagonista “, no entanto “um protagonismo que implica que ela se apague por completo”.

“Ela não tem necessidade de agradar, de dizer coisas para que as pessoas gostem dela; ela diz as coisas que acha que tem de dizer, com frontalidade e isto, ao longo de uma vida, implica uma determinação muito grande” e “não tem nada a ver com um fenómeno contemporâneo dessa altura que era o elogio das crianças prodígio”.

“Esta personalidade precisa, e o tempo certamente garantirá a distância necessária, que se faça um estudo mais aprofundado , porque é, sem dúvida, uma das pessoas mais marcantes do século XX português. E como é que ela conseguiu isso, estando em locais fechados, não comunicando diretamente com o mundo, é a grande questão” refere. Aliás, “ainda não consegui encontrar uma resposta para uma questão que tenho desde que investiguei tudo isto: o que seria Fátima se Lúcia não tivesse partido?”.

No podcast #fatimanoseculoXX, Helena Matos fala também da relação entre São João Paulo II e Lúcia, duas pessoas que sabiam que não tinham muito tempo a perder, mas “muito cientes de que tinham algo para fazer”. De resto, a relação da religiosa com os Papas e destes com Fátima é tema de reflexão da investigadora.

“Do ponto de vista jornalístico, e comunicacional, esta relação é muito importante: nós sabemos sempre que o próximo Papa terá ido a Fátima”.

“Julgo que é impossível um Papa hoje não vir a Fátima; aliás, provavelmente, o próximo Papa já veio a Fátima” refere meio a brincar para reforçar a importância deste lugar e dos seus protagonistas para a Igreja em geral.

“Quando Fátima começa a diocese era uma das mais insignificantes dioceses portuguesas; hoje ser bispo de Leiria Fátima não é qualquer coisa. Além de um fenómeno de massas, Fátima criou um lugar dentro da hierarquia da Igreja Católica e ser bispo desta diocese é algo importante na estrutura da Igreja” refere Helena Matos.

A jornalista e documentarista, que tem dedicado grande parte do seu trabalho à investigação, diz ainda que não se consegue perceber a história do século XX, “e muito provavelmente a do século XXI”, sobretudo em Portugal, sem estudar Fátima, não só do ponto de vista da fé mas também do ponto de vista de outros factos “que fazem parte da nossa identidade”.

“Há momentos em Fátima, como por exemplo a Procissão do Adeus, que transcendem muito a questão religiosa. No adeus há a expressão de uma identidade nacional que é a saudade. Isto faz parte do nosso património, da nossa cultura” e por isso, quando visitamos Fátima “não são apenas os lugares de culto mas também outros, como o Museu, que nos permitirão perceber o que somos” refere.

De entre os aspetos de Fátima a estudar em Fátima há ainda, entre outros, a questão das mulheres.

“Fátima é muito elas. Nos anos 50 partem em grupos, caminham sozinhas com grande determinação e depois vemo-las a cumprir as promessas em Fátima. Do ponto de vista terreno não sei o que teria sido Fátima sem a determinação, sem a força, sem a capacidade de sofrimento das mulheres”.

O podcast #fatimanoseculoXXI está disponível em www.fatima.pt/podcast , Itunes e Spotify.

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