11 de março, 2018
Fátima não foi uma invenção da Igreja, diz Pe. João Paulo QuelhasCapelão investigou documentação inédita sobre o tempo que mediou entre a data das Aparições e a Carta pastoral sobre o culto de Nossa Senhora de Fátima
Fátima não foi uma invenção da Igreja, que durante muito tempo adotou uma atitude “passiva e expetante” em relação às Aparições, afirmou esta tarde o capelão do Santuário de Fátima, Pe. João Paulo Quelhas, no segundo de cinco “Encontros na Basílica”, com a conferência “O reconhecimento eclesial das Aparições de Fátima”. O sacerdote da diocese de Beja, doutorado em Teologia Dogmática, que se encontra atualmente em Fátima, percorreu toda a cronologia e os documentos publicados no período que medeia as Aparições e a publicação da primeira Carta Pastoral sobre o culto de Nossa Senhora de Fátima, assinada por D. José Alves Correia da Silva, a 13 de outubro de 1930. As Aparições de Fátima haviam ocorrido três anos antes de D. José Alves Correia da Silva entrar na Diocese como primeiro bispo da Diocese restaurada. Os documentos existentes revelam que não se interessou de imediato pelo assunto, mas foi aos poucos tomando algumas iniciativas, indiciadoras das suas convicções mais pessoais e íntimas, ressalvou o sacerdote. Segundo o Pe. João Paulo Quelhas a prudência usada pela Igreja contrastou num primeiro momento com o fervor e a “teimosia da fé”, de milhares de pessoas que anualmente peregrinavam à Cova da Iria, como noticiou a imprensa da época. Para o sacerdote, o reconhecimento eclesial das Aparições “foi progressivo” e manifestou-se através de alguns atos como visitas, correspondência trocada entre prelados e até entre o Núncio Apostólico em Portugal e a Santa Sé, a nomeação de uma comissão canónica para averiguação dos factos e só depois se declarou as Aparições dignas de crédito, permitindo oficialmente o culto de Nossa Senhora de Fátima , centrado numa Mensagem que, cada vez mais, era reconhecida como dirigida ao mundo inteiro. Uma mensagem que, para o sacerdote, nos remete para o Amor e a Misericórdia de Deus. "A mensagem específica das aparições comprova que Deus, na sua misericórdia, através da mãe do seu filho, vai levantando os corações e avivando a sua fé, evitando que a sua ira se abata sobre o mundo", porque a sua bondade "é maior" do que os pecados cometidos pelos homens. Além da conferência, a Basílica acolheu um recital com Eva Braga Simões, Hugo Sanches e Carmina Repas Gonçalves, centrado em Maria, figura importante no pensamento teológico ocidental. Durante os séculos XVI e XVII, os hinos gregorianos de louvor a Maria serviram de base para uma miríade de elaborações polifónicas de enorme beleza e, neste recital, foram apresentados alguns dos mais importantes cantos marianos da liturgia como o Ave Maria Stella e Stabat Mater, trabalhados por quatro dos mais importantes polifonistas portugueses do Renascimento e Barroco: Pedro Escobar, D. Pedro de Cristo, António Carreira e Duarte Lobo. À voz de Eva Braga Simões juntou-se o alaúde de Hugo Sanches e a viola de gamba de Carmina Repas Gonçalves, num formato intimista que convidou ao recolhimento, introspeção e elevação espiritual, como refere a folha de sala. O próximo “Encontro na Basílica” é no dia 3 de junho com André Pereira, que proferirá a conferência “Graça e Misericórdia: as aparições de Pontevedra e Tuy”. O recital será realizado pelo Grupo Coral Sol Nascente, com a direção de Vianey da Cruz. |