23 de março, 2022

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Fátima e Vaticano unidos na Consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria

Oração do Papa dirige-se a toda a humanidade, para que seja preservada da ameaça nuclear

 

O Papa vai rezar esta sexta-feira para que a humanidade seja preservada da “ameaça nuclear”, durante o Ato de Consagração a que vai presidir no Vaticano, em ligação a Fátima, invocando a paz, particularmente na Ucrânia e na Rússia.

“Apagai o ódio, acalmai a vingança (...); Libertai-nos da guerra, preservai o mundo da ameaça nuclear; Rainha do Rosário, despertai em nós a necessidade de rezar e amar; Rainha da família humana, mostrai aos povos o caminho da fraternidade; Rainha da paz, alcançai a paz para o mundo”, refere o texto da oração de consagração ao Imaculado Coração de Maria, divulgado hoje pelo Vaticano e disponível, online, em 32 línguas, incluindo o russo e ucraniano.

A cerimónia na Basílica de São Pedro tem início marcado para as 17h00 (mais uma que em Fátima) durante a tradicional celebração penitencial de Quaresma a que o Papa preside, incluindo um momento de confissões. A consagração vai decorrer, simultaneamente, na Cova da Iria, onde o cardeal Konrad Krajewski, esmoler pontifício, vai presidir à recitação do Rosário, na Capelinha das Aparições, a partir das 16h00, na qualidade de legado pontifício.

“O povo ucraniano e o povo russo, que Vos veneram com amor, recorrem a Vós, enquanto o vosso Coração palpita por eles e por todos os povos ceifados pela guerra, a fome, a injustiça e a miséria” refere a oração que será proferida pelo Papa Francisco e pelo cardeal Krajewski, em união com todos os bispos e padres do mundo inteiro, convidados, em carta própria enviada pelo Papa, a participar neste ato.

“Por isso nós, ó Mãe de Deus e nossa, solenemente confiamos e consagramos ao vosso Imaculado Coração nós mesmos, a Igreja e a humanidade inteira, de modo especial a Rússia e a Ucrânia(...), fazei que cesse a guerra, providenciai ao mundo a paz(...).Assim a Vós consagramos o futuro da família humana inteira, as necessidades e os anseios dos povos, as angústias e as esperanças do mundo” prossegue a oração do Santo Padre.

Francisco lembra que a humanidade “perdeu o caminho da paz”.

“Esquecemos a lição das tragédias do século passado, o sacrifício de milhões de mortos nas guerras mundiais. Descuidamos os compromissos assumidos como Comunidade das Nações e estamos a atraiçoar os sonhos de paz dos povos e as esperanças dos jovens” refere o Papa ao salientar que “adoecemos de ganância, fechamo-nos em interesses nacionalistas, deixamo-nos ressequir pela indiferença e paralisar pelo egoísmo”.

“Preferimos ignorar Deus, conviver com as nossas falsidades, alimentar a agressividade, suprimir vidas e acumular armas, esquecendo-nos que somos guardiões do nosso próximo e da própria casa comum (...)Tornamo-nos indiferentes a todos e a tudo, exceto a nós mesmos”, sublinha ainda.

Esta oração será proferida pelo Cardeal Konrad Krajewski em Fátima, diante da Imagem que se venera na Capelinha das Aparições, à mesma hora que o Papa a proferirá em Roma.

 

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Recorde-se que neste mesmo dia, há 38 anos, o Papa São João Paulo II consagrou o mundo ao Imaculado Coração de Maria, diante da imagem da primeira escultura de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, que se venera na Capelinha e que se deslocou ao Vaticano nessa ocasião cumprindo a sua sétima saída da Cova da Iria.

O Pontífice que mais vezes visitou Fátima, em resposta aos apelos da Mensagem de Fátima, entendeu fazer um ato de consagração ao Imaculado Coração de Maria, no dia 25 de março de 1984, um ano de pois de ter iniciado o Ano Santo dedicado à Redenção.

A 25 de março de 2020, o cardeal D. António Marto consagrou Portugal e Espanha, e mais 22 países, ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria, pedindo auxílio e proteção para os tempos de pandemia.

A 20 de outubro de 2019, os bispos católicos portugueses consagraram a Igreja Católica ao Sagrado Coração de Jesus, em Fátima, durante a missa de encerramento do Ano Missionário, no Santuário de Fátima, assinalando também os 175 anos de presença em Portugal do Apostolado da Oração.

A primeira consagração de Portugal ao Imaculado Coração de Maria aconteceu a 13 de maio de 1931, oito meses depois do reconhecimento oficial das aparições pelo bispo de Leiria, no final da primeira peregrinação nacional do episcopado português a Fátima.

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No passado domingo, na primeira celebração a que presidiu em Fátima, como bispo da diocese de Leiria Fátima, D. José Ornelas Carvalho afirmou que “O tema do leste europeu, desde o tempo das aparições, tem lugar específico nesta realidade, o que significa uma Igreja e um Deus que em Maria se revela atento ao que se passa no mundo, e com um coração que é capaz de acolher”.

“Eu acho muito significativo, porque se o Papa entende que a universalidade e a centralidade da Igreja não se medem só por Roma, mas sim por tantos lugares que significam aquilo que é ser Igreja e Fátima é um desses lugares”, disse o novo bispo de Leiria-Fátima, lembrando que “Unidos aqui em Fátima pedimos a paz e a reconciliação, pedimos cura para as feridas tremendas que esta guerra abriu e não eram precisas”.

Na aparição de junho, Nossa Senhora apresenta o seu Coração Imaculado como «refúgio e o caminho que [...] conduzirá até Deus.» De novo, em julho, depois da visão do inferno, ela o reafirma ao propor a consagração ao seu Coração Imaculado como meio de conversão e reparação. A devoção ao Coração de Maria torna-se, nomeadamente com o pedido de consagração da Rússia e de tudo o que esta simbolizaria, expressão da presença de Deus que acompanha o drama da história dos homens, convidando os crentes a uma visão outra da história, projetada sobre uma dimensão escatológica. Em Pontevedra e Tuy, nas visões que fecham o acontecimento de Fátima, o apelo à consagração é renovado, sendo-lhe associada a comunhão reparadora dos primeiros sábados.

Enquanto caminho que conduz a Deus, o Coração de Maria é um coração moldado segundo o Coração de Deus – «dar-vos-ei pastores segundo o meu coração» (Jer 3,15) – e consagrar-se a ele é acolher-se na vontade de se deixar converter pela misericórdia divina. O Coração Imaculado é ícone dos desígnios de misericórdia que Deus tem sobre o seu povo, o que se torna particularmente relevante no momento da história que o mundo atravessa.

 

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ATO DE CONSAGRAÇÃO AO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA, 25 DE MARÇO DE 2022

Ó Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, recorremos a Vós nesta hora de tribulação. Vós sois Mãe, amais-nos e conheceis-nos: de quanto temos no coração, nada Vos é oculto. Mãe de misericórdia, muitas vezes experimentamos a vossa ternura providente, a vossa presença que faz voltar a paz, porque sempre nos guiais para Jesus, Príncipe da paz.

Mas perdemos o caminho da paz. Esquecemos a lição das tragédias do século passado, o sacrifício de milhões de mortos nas guerras mundiais. Descuidamos os compromissos assumidos como Comunidade das Nações e estamos a atraiçoar os sonhos de paz dos povos e as esperanças dos jovens. Adoecemos de ganância, fechamo-nos em interesses nacionalistas, deixamo-nos ressequir pela indiferença e paralisar pelo egoísmo. Preferimos ignorar Deus, conviver com as nossas falsidades, alimentar a agressividade, suprimir vidas e acumular armas, esquecendo-nos que somos guardiões do nosso próximo e da própria casa comum. Dilaceramos com a guerra o jardim da Terra, ferimos com o pecado o coração do nosso Pai, que nos quer irmãos e irmãs. Tornamo-nos indiferentes a todos e a tudo, exceto a nós mesmos. E, com vergonha, dizemos: perdoai-nos, Senhor!

Na miséria do pecado, das nossas fadigas e fragilidades, no mistério de iniquidade do mal e da guerra, Vós, Mãe Santa, lembrai-nos que Deus não nos abandona, mas continua a olhar-nos com amor, desejoso de nos perdoar e levantar novamente. Foi Ele que Vos deu a nós e colocou no vosso Imaculado Coração um refúgio para a Igreja e para a humanidade. Por bondade divina, estais connosco e conduzis-nos com ternura mesmo nos transes mais apertados da história.

Por isso recorremos a Vós, batemos à porta do vosso Coração, nós os vossos queridos filhos que não Vos cansais de visitar em todo o tempo e convidar à conversão. Nesta hora escura, vinde socorrer-nos e consolar-nos. Repeti a cada um de nós: «Não estou porventura aqui Eu, que sou tua mãe?» Vós sabeis como desfazer os emaranhados do nosso coração e desatar os nós do nosso tempo. Repomos a nossa confiança em Vós. Temos a certeza de que Vós, especialmente no momento da prova, não desprezais as nossas súplicas e vindes em nosso auxílio.

Assim fizestes em Caná da Galileia, quando apressastes a hora da intervenção de Jesus e introduzistes no mundo o seu primeiro sinal. Quando a festa se mudara em tristeza, dissestes-Lhe: «Não têm vinho!» (Jo 2, 3). Ó Mãe, repeti-o mais uma vez a Deus, porque hoje esgotamos o vinho da esperança, desvaneceu-se a alegria, diluiu-se a fraternidade. Perdemos a humanidade, malbaratamos a paz. Tornamo-nos capazes de toda a violência e destruição. Temos necessidade urgente da vossa intervenção materna.

Por isso acolhei, ó Mãe, esta nossa súplica:

Vós, estrela do mar, não nos deixeis naufragar na tempestade da guerra;

Vós, arca da nova aliança, inspirai projetos e caminhos de reconciliação;

Vós, «terra do Céu», trazei de volta ao mundo a concórdia de Deus;

Apagai o ódio, acalmai a vingança, ensinai-nos o perdão;

Libertai-nos da guerra, preservai o mundo da ameaça nuclear;

Rainha do Rosário, despertai em nós a necessidade de rezar e amar;

Rainha da família humana, mostrai aos povos o caminho da fraternidade;

Rainha da paz, alcançai a paz para o mundo.

O vosso pranto, ó Mãe, comova os nossos corações endurecidos. As lágrimas, que por nós derramastes, façam reflorescer este vale que o nosso ódio secou. E, enquanto o rumor das armas não se cala, que a vossa oração nos predisponha para a paz. As vossas mãos maternas acariciem quantos sofrem e fogem sob o peso das bombas. O vosso abraço materno console quantos são obrigados a deixar as suas casas e o seu país. Que o vosso doloroso Coração nos mova à compaixão e estimule a abrir as portas e cuidar da humanidade ferida e descartada.

Santa Mãe de Deus, enquanto estáveis ao pé da cruz, Jesus, ao ver o discípulo junto de Vós, disse-Vos: «Eis o teu filho!» (Jo 19, 26). Assim Vos confiou cada um de nós. Depois disse ao discípulo, a cada um de nós: «Eis a tua mãe!» (19, 27). Mãe, agora queremos acolher-Vos na nossa vida e na nossa história. Nesta hora, a humanidade, exausta e transtornada, está ao pé da cruz convosco. E tem necessidade de se confiar a Vós, de se consagrar a Cristo por vosso intermédio. O povo ucraniano e o povo russo, que Vos veneram com amor, recorrem a Vós, enquanto o vosso Coração palpita por eles e por todos os povos ceifados pela guerra, a fome, a injustiça e a miséria.

Por isso nós, ó Mãe de Deus e nossa, solenemente confiamos e consagramos ao vosso Imaculado Coração nós mesmos, a Igreja e a humanidade inteira, de modo especial a Rússia e a Ucrânia. Acolhei este nosso ato que realizamos com confiança e amor, fazei que cesse a guerra, providenciai ao mundo a paz. O sim que brotou do vosso Coração abriu as portas da história ao Príncipe da Paz; confiamos que mais uma vez, por meio do vosso Coração, virá a paz. Assim a Vós consagramos o futuro da família humana inteira, as necessidades e os anseios dos povos, as angústias e as esperanças do mundo.

Por vosso intermédio, derrame-se sobre a Terra a Misericórdia divina e o doce palpitar da paz volte a marcar as nossas jornadas. Mulher do sim, sobre Quem desceu o Espírito Santo, trazei de volta ao nosso meio a harmonia de Deus. Dessedentai a aridez do nosso coração, Vós que «sois fonte viva de esperança». Tecestes a humanidade para Jesus, fazei de nós artesãos de comunhão. Caminhastes pelas nossas estradas, guiai-nos pelas sendas da paz. Amen.

 

 

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