13 de maio, 2021
Fátima é “uma alavanca da nossa humanidade, um laboratório sem portas nem muros, sempre aberto para a esperança”Cardeal D. José Tolentino Mendonça convida ao sonho por uma nova humanidade a partir da mensagem de Fátima
O cardeal D. José Tolentino de Mendonça disse esta manhã que em Fátima se ilumina um mundo que está às escuras, que sofre mas que sonha. “Fátima ensina como se ilumina um mundo que está às escuras. Seja o pequeno mundo do nosso coração, seja o coração do vasto mundo” disse o cardeal português que presidiu à Peregrinação Internacional de maio, que evoca a primeira Aparição e que tem como tema “Louvai o Senhor, que levanta os fracos”. “Obrigado, Senhora, por fazeres deste lugar uma alavanca da nossa humanidade. Um laboratório sem portas nem muros, sempre aberto para a esperança! Em ti, louvamos o Senhor que nos reergue de todas as fraquezas” afirmou o responsável pela Biblioteca e Arquivo da santa Sé. Diante de um santuário cheio, com a lotação máxima definida pelas autoridades sanitárias- 7.500 peregrinos- e perante milhares de peregrinos que seguiram em direto as celebrações pelos meios de comunicação social e digital, D. José Tolentino de Mendonça refletiu sobre a mensagem de Fátima e o sentido da peregrinação à Cova da Iria. “Muitos olhando à superfície o santuário, veem apenas a dramática expressão de tantas lágrimas, demandas e promessas. Mas os peregrinos de Fátima experimentam que é muito mais do que isso. Aquilo que experimentamos é que chegamos aqui inquietos, vazios, divididos, irreconciliados ou sedentos, que chegamos aqui aos trambolhões como o filho pródigo, e que Maria realiza em nós - com que misericórdia, com que inesquecível doçura - o mandato de amor que recebeu de Jesus: «Mulher, eis aí o teu filho», «eis aí os teus filhos»”, frisou o cardeal que também chegou a Fátima, uma vez mais a pé, acompanhando um grupo de peregrinos pertencentes às Equipas de Nossa Senhora de que é conselheiro espiritual. “A Fátima, nós peregrinos, chegamos sempre de mãos vazias. Mas de Fátima levamos, acordado dentro de nós, um sonho. Fátima ensina, assim, como se ilumina um mundo que está às escuras”, reiterou. Nesta segunda homilia que proferiu em Fátima, no âmbito da primeira peregrinação internacional do ano pastoral, o cardeal português voltou a falar de Fátima como um `lugar` de onde se pode iniciar um “novo começo”, que se impõe no pós-pandemia. E desafiou os presentes a transformar “a crise em oportunidade” e “a calamidade em esperança”. “O amor é o mais verdadeiro, o mais profético, o mais necessário desconfinamento”, referiu o presidente da peregrinação internacional do 13 de maio. Sublinhando as restrições ainda impostas pela pandemia, o cardeal D. José Tolentino Mendonça referiu que a fé transforma a experiência da crise em “ocasião para relançar a vida”. “Olhando para a cruz poderíamos pensar que Jesus estava brutalmente confinado. E estava. Mas o verdadeiro desconfinamento é aquele que o amor opera em nós”, indicou. O cardeal da Cúria Romana, íntimo colaborador do Papa, evocou a experiência de sofrimento de Jesus, que “ensina a transformar as crises em laboratórios de esperança”. D. José Tolentino Mendonça defendeu a necessidade de um “relançamento espiritual” para o pós-pandemia, que ultrapasse a “expressão material da vida”. “Numa hora de encruzilhada da história como esta que vivemos não podemos fazer coincidir o relançamento da esperança unicamente com o cuidado pela expressão material da vida”, afirmou. “Sem dúvida que é urgente garantir o pão e esse trabalho exigente – fundamentalmente de reconstrução económica - deve unir e mobilizar as nossas sociedades. Mas as nossas sociedades precisam também de um relançamento espiritual. Sem o pão não vivemos, mas não vivemos só de pão. Os maiores momentos de crise foram superados infundindo uma alma nova, propondo caminhos de transformação interior e de reconstrução espiritual da nossa vida comum”, explicitou. O cardeal considerou ainda que o mundo enfrenta “um imenso desafio a renascer”, por causa da crise provocada pela Covid-19. “Este é chamado a ser também um momento de revisão crítica do caminho que realizámos até aqui, de fazer uma espécie de balanço interior que avalie os nossos estilos de vida”, disse ao salientar que “Não basta voltarmos exatamente ao que éramos antes: é preciso que nos tornemos melhores. É preciso um suplemento de alma. É preciso que desconfinemos o nosso coração”. O arquivista e bibliotecário da Santa Sé convidou todos a um “balanço interior” sobre estilos de vida e modelos de desenvolvimento, transformando-os no sentido de “uma verdadeira e criativa hospitalidade da vida”. “Não tenhamos dúvidas: a reconstrução pós-pandemia depende do modo como encararmos a fraternidade”, assinalou, citando o pensamento do Papa Francisco. D. José Tolentino Mendonça falou em particular aos jovens portugueses que se preparam para acolher, no verão de 2023, a Jornada Mundial da Juventude, pedindo que “em vez de ter medo, tenham sonhos”. “O mundo fatigado por esta travessia pandémica que ainda dura, e que pede a cada um de nós vigilância e responsabilidade, não tem apenas fome e sede de normalidade: precisa de novas visões, de outras gramáticas, precisa que arrisquemos ter sonhos”, declarou. O presidente da celebração evocou o 40.º aniversário do atentado contra São João Paulo II, na Praça de São Pedro, e a primeira viagem do Papa polaco a Fátima, em maio de 1982, para “agradecer à Divina Providência, neste lugar, que a Mãe de Deus parece ter escolhido de modo tão particular”, por ter sido poupada a sua vida. Aliás, o cálice utilizado durante esta celebração foi oferecido por João Paulo II, no décimo aniversário do seu atentado, no decurso da segunda viagem à Cova da Iria. Além desta evocação, hoje em Fátima assinalam-se também os 75 anos da coroação da Imagem que se venera na Capelinha das Aparições. Oferecida pelas mulheres de Portugal, numa campanha de recolha de peças de joalharia, em agradecimento à Virgem de Fátima pelo facto de o País não ter tomado parte na II Grande Guerra, a coroa preciosa da Imagem de Nossa Senhora de Fátima é uma criação da Casa Leitão& Irmão, Antigos Joalheiros da Corôa. Embora tenha sido ofertada em 1942, só após o término da guerra foi colocada na escultura, em 13 de maio de 1946. Em 1989, a coroa recebe uma última “joia”: a bala que ferira João Paulo II no atentado de 1981 e por este oferecida ao bispo de Leiria, em 1984, foi encastoada no orifício que existia na parte inferior do globo de turquesas, no eixo da cruz. Se a coroa era já, quer pelas razões da sua materialidade, quer pelas razões relacionadas com a devoção, uma peça de grande valor, a partir dessa data auferiu um valor incalculável. O jornal oficial do santuário, por altura da oferta desta peça, descrevia deste modo a coroa: “A coroa pesa 1.200 gramas. Nela refulgem 950 brilhantes de 76 quilates, 1.400 rosas de 20 quilates, 313 pérolas, 1 esmeralda ronde de 3,97 quilates, 13 esmeraldas pequenas, 33 safiras, 11 rubis, 260 turquesas, 1 ametista e 4 águas-marinhas. Total: 313 pérolas e 2.650 pedras”.
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