24 de junho, 2017

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Fátima é um laboratório de identificação da religiosidade portuguesa, afirma antropólogo Alfredo Teixeira

O professor da Universidade Católica proferiu conferência de abertura do último dia do Congresso Internacional do Centenário Pensar Fátima

 

Fátima é, simultaneamente, o lugar a partir do qual se acompanha a `destradicionalização´ da sociedade portuguesa e se inicia a construção da modernidade religiosa em Portugal, afirmou esta manhã o antropólogo Alfredo Teixeira.

O professor da Universidade Católica Portuguesa fez a sétima e última conferência plenária do Congresso Internacional Pensar Fátima, no âmbito da celebração do Centenário das Aparições, que entra hoje na reta final, depois de três dias de trabalhos.

O lugar de Fátima na reconfiguração do religioso foi o tema de partida para uma conferência onde o investigador falou da centralidade de Fátima nas novas dinâmicas do religioso, não só em Portugal mas também no mundo.

“Fátima é definitivamente o lugar da destradicionalização da sociedade portuguesa e o centro de construção de uma modernidade religiosa portuguesa, sempre a partir de uma perspectiva de experiência pessoal com vista à conversão” frisou Alfredo Teixeira.

Para o antropólogo e docente universitário, “Fátima aponta para uma mensagem, por um lado, e por outro, temos um apelo à conversão pessoal,  dois eixos que se inscrevem na trajectória de modernidade religiosa na sociedade contemporânea”. 

“Aqui começa a articulação e construção da nova centralidade de Fátima”, precisou.

O antropólogo falou, ainda, sobre a importância do Santuário na organização espacial religiosa em Portugal, sublinhando a importância decisiva  dos santuários em geral e do de Fátima em particular, neste tipo de construções.

“Fátima vai ao encontro de práticas mais tradicionais do catolicismo português desde o terço, à adoração, à procissão, à peregrinação, mas isso faz-se num contexto de grande abertura e de grande modernidade” destacou o investigador lembrando que Fátima é fundamental na configuração de uma identidade religiosa portuguesa, seja no território nacional seja junto dos portugueses da diáspora. E, sobre este aspecto, referiu-se às novas dinâmicas que o Santuário estimula.

O professor da UCP salientou  que “há santuários que perdem protagonismo” e outros afirmam-se por valorizarem uma mensagem e atualizarem “o seu capital espiritual”, com “respostas novas aos novos tempos" e Fátima é um deles.

 “O papel do Santuário de Fátima na auto representação dos católicos em Portugal é fundamental” acrescentou, “contribuindo para a alteração do paradigma da peregrinação que depois de uma experiência penitencial e salvífica, começa a valorizar a peregrinação como espaço de experiência de valorização de si próprio e da sua própria conversão, mantendo sempre uma perspectiva mais alargada a uma escala global”.

Para o antropólogo e professor da Universidade Católica Portuguesa (UCP), “os que peregrinam também são hoje diferentes”, porque se apresentam "mais equipados” e “associam a caminhada a uma certa competência desportiva”.

Alfredo Teixeira sustenta que estes novos peregrinos “experimentam um momento de libertação das condicionantes do quotidiano, e estabelecem uma comunidade formada pelos que caminham”.

Na comunicação sobre “O lugar de Fátima na reconfiguração do Religioso”, Alfredo Teixeira recordou ainda alguns dados do inquérito “Identidades religiosas em Portugal 2011 – 2012”, que coordenou a pedido da Conferência Episcopal Portuguesa.

O investigador lembrou que o maior número dos que hoje visitam Fátima, 40,4%, o fazem em passeio e desdramatiza algum “choque” inicial que a motivação possa provocar, para dizer que “a lógica da deslocação é hoje multifuncional” na medida em que “quem alega esta razão para vir a Fátima participa de todas as experiências que o Santuário proporciona”.

Alfredo Teixeira diz que “é preciso compreender Fátima num quadro que já não é apenas o da dinâmica paroquial”, porque a peregrinação à Cova da Iria “corresponde a uma agenda pessoal e familiar”, parte de “muitas motivações” e, para muitos “elas revelam sinais de construção de uma identidade em que o vir a Fátima é o principal fator de identificação pessoal em termos cristãos”.

Alfredo Teixeira, é Doutorado em Antropologia Política e Professor Auxiliar na Universidade Católica Portuguesa, onde é diretor do Instituto Universitário de Ciências Religiosas e membro do Centro de Investigação em Teologia e Estudos de Religião.

O Congresso termina este sábado no centro Pastoral de Paulo VI. Esta manhã os cerca de 700 congressistas inscritos ainda poderão ouvir o cardeal Gianfranco Ravasi numa conferência sobre “Fátima como Promessa”. O cardeal é especialista em exegese bíblica e hebraísta. Foi Prefeito da Biblioteca-Pinacoteca Ambrosiana de Milão e docente de Exegese do Antigo Testamento na Faculdade de Teologia da Itália Setentrional.

O congresso encerra os trabalhos esta tarde.

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