16 de novembro, 2019
Fátima “é um dom” que permite ultrapassar a “falta de esperança e as incertezas do mundo atual”, afirma vice-postuladora da Causa de Canonização da Irmã Lúcia14ª edição do curso sobre a Mensagem de Fátima arrancou esta noite no Centro Pastoral de Paulo VI com mais de 380 participantes inscritos.
"O triunfo do amor nos dramas da História" é o tema da 14ª edição do Curso sobre a Mensagem de Fátima que decorre até domingo no Salão do Bom Pastor, no Centro Pastoral de Paulo VI, em Fátima, sob a orientação da Irmã Ângela Coelho, religiosa da congregação Aliança de Santa Maria (ASM) e vice-postuladora da causa de beatificação da Irmã Lúcia, no qual participam mais de 380 inscritos. Este curso insere-se no pós-centenário das aparições, num período em que o Santuário de Fátima aprofunda o dom que é Fátima, e neste contexto específico do ano em que dá graças pela vida em Deus. “A mensagem de Fátima oferece-nos uma proposta de espiritualidade para essa vivência do quotidiano segundo o coração de Deus para o nosso tempo. Fátima foi um dom e é um dom para Portugal e para a Igreja e nós temos a responsabilidade de por este dom a render, como na parábola dos talentos. E temos de perguntar o que estamos a fazer com este dom, o que é que eu, em particular, estou a fazer com este dom” interpela a Irmã Ângela Coelho em declarações à Sala de Imprensa. Por isso, acrescenta “espero que este curso possa despertar em cada um dos participantes um consolo e uma esperança renovada no amor de Deus” e a “consciência de que cada um de nós é instrumento de Deus e tem uma missão para cumprir”. O curso, que pretende aprofundar a espiritualidade de Fátima, está dividido em várias sessões onde serão abordados temas relacionados com Fátima e a sua Mensagem, dando a conhecer a biografia e o perfil espiritual dos Pastorinhos. A proposta formativa refletirá sobre os seguintes temas: Maria como intercessora e como expressão da presença materna de Deus; a importância da oração do Rosário; o Coração Imaculado de Maria como expressão da compaixão de Deus pelo mundo; a pedagogia do segredo: do medo à esperança; a reparação como convite a participar na ação salvífica de Deus; e a consagração como entrega e acolhimento. A exemplo das edições anteriores, o Curso sobre a Mensagem de Fátima pretende dar a conhecer, de forma abrangente e articulada, o essencial da Mensagem de Fátima, enquanto mensagem de paz e de esperança para toda a humanidade, expondo os elementos fundamentais das Aparições da Cova da Iria e sistematizando aspetos temáticos, teologicamente enquadrados, numa relação dialógica com questões específicas da vida cristã. Nesse perspetiva, embora sejam apresentados os conteúdos essenciais da Mensagem de Fátima, este curso vai desenvolver, “com particular insistência” esse apelo à santidade, que nasce do Evangelho, que é concretizado no Concilio Vaticano II e que, em Fátima, “nós podemos tocar esta santidade feita gente nos santos Francisco e Jacinta Marto, dois protagonistas do acontecimento de Fátima”. “Fátima não seria o que hoje é- para cada um de nós, para a Igreja, para Portugal e para o mundo- se não fosse também pelo contributo dado, pela adesão aos pedidos de Nossa Senhora, por Francisco e por Jacinta. Ou seja, a forma como eles vivem, colhem e nos transmitem o que experimentaram há cem anos atrás é o que faz com que, cem anos depois, continuemos a falar da concretude, da relevância e da importância da Mensagem. Por outro lado, trata-se de ver a santidade do Francisco e da Jacinta como um veículo em si da Mensagem de Fátima”, afirma a religiosa da Aliança de Santa Maria, ex-postuladora da Causa de Canonização de Francisco e Jacinta Marto. O curso aborda, por isso, essa “vocação universal à santidade” como algo a que somos todos chamados e que também “bebemos” do exemplo dos `santos de ao pé da porta´, como recorda o Papa Francisco na exortação sobre a santidade, “Alegrai-vos e exultai”. “Eu sinto o Francisco e a Jacinta assim. As suas vidas foram tão simples, o seu quotidiano foi tão simples. Eles não fizeram nada de extraordinário. A única coisa extraordinária das suas vidas foi o facto de terem visto Nossa Senhora e isso nem sequer foi iniciativa deles. Mas o que eles fazem a seguir, na adesão, no acolhimento dos pedidos de Nossa Senhora, na concretude das suas vidas - um quotidiano que nós podemos tão facilmente imitar-, torna-os a eles e à santidade da qual as suas vidas nos falam, possível para nós”, acrescenta a Irmã Ângela Coelho. No fundo, prossegue, “o pensamento tem de ser este: se eles foram capazes eu também sou, nós também somos, até porque hoje há mais oportunidades, com formações espirituais, acesso a conhecimentos... Por isso, aquela generosidade, sendo de criança, não pode ser impossível para mim que sou adulta”. Durante os três dias do encontro, a formadora irá sublinhar, ainda, a centralidade e o rosto trinitário de Deus na Mensagem de Fátima e a importância da adoração eucarística como convite a uma atitude oblativa, de entrega e confiança totais. “Sem confiança em Deus nunca seremos capazes de trilhar este caminho de santidade” refere a Irmã Ângela Coelho. “Parece-nos sempre algo maior que nós, incompatível com o nosso ritmo de vida, inacessível. Instintivamente, os nossos caminhos para equacionar a santidade partem sempre de nós e chegamos sempre a essa conclusão: não sou capaz. E, o primeiro passo que os pastorinhos nos ajudam a perceber é que não somos nós que fazemos mas sim Deus quem faz”. Portanto, esclarece, “abandonar-nos nesta confiança e tomarmos consciência da nossa filiação divina” é o primeiro ensinamento a partir da santidade de São Francisco e de Santa Jacinta Marto, porque “quando se vive até às últimas consequências esta consciência, maior será a minha confiança na capacidade de resposta àquilo que o Espírito Santo me vai pedindo, porque o grande mestre da santidade é o Espírito Santo”. Depois, “acolher com simplicidade os pedidos de Nossa Senhora, que são tão simples de cumprir” e exemplifica com a oração, rezar o terço, a reparação, os primeiros sábados e a atenção permanente ao outro. “São coisas tão simples a que Eles aderiram facilmente e nós, de novo, temos tendência a complicar e vamos perdendo esta capacidade de entrega que é o ponto de partida para este caminho de santidade”, acrescenta. “Num tempo em que queremos ser donos e senhores de tudo, em que não temos tempo para nada, em que queremos controlar tudo inclusive as coordenadas deste caminho, torna-se difícil porque não percebemos o essencial: a santidade é a disponibilidade para confiarmos e nos entregarmos a esta confiança em Deus, no seu amor e na sua misericórdia”. “No fundo gostaria que as pessoas saíssem daqui consoladas na certeza de que Deus está comigo, com cada um de nós, e que Nossa Senhora não me deixa, não nos deixa, e é o caminho e o refúgio até Deus. Se saíssemos daqui com esta vontade eu já estaria feliz”, remata a religiosa que desde o inicio tem sido a formadora deste curso sobre a Mensagem de Fátima, na qual radica o carisma da congregação a que pertence. Durante o curso também se falará de Lúcia, cujo processo de beatificação decorre em Roma. Para Ângela Coelho, a vidente de Fátima que teve a vida mais longa- “foram 83 anos de fidelidade a um sim dado sem grande consciência”- há três aspetos essenciais do seu legado: a entrega, em fidelidade absoluta; a consciência da missão e o sentido de obediência. “Ela tem a consciência muito concreta de que é um instrumento na mão de Deus e por isso não `se cala´, enquanto não sente que a palavra de Deus está a ser posta em prática, sempre com uma grande sentido de obediência à Igreja, servindo-a mesmo quando ela está ferida. Ora isto é o que se passa hoje na divisão e nas feridas”. “Esta capacidade de sentir que através de nós podemos contribuir para que haja reparação para esta igreja que está ferida também aprendemos de Lúcia”, conclui.
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