10 de novembro, 2019

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Fátima “é a mais mística das aparições modernas” afirma diretor do Departamento de Pastoral da Mensagem de Fátima

Capelão do Santuário, padre José Nuno Silva, encerrou o ciclo de `Encontros da Basílica´ neste ano pastoral.

 

O diretor do Departamento de Pastoral da Mensagem de Fátima, padre José Nuno Silva, apresentou esta tarde a conferência intitulada “Fátima, lugar de fragilidade - doença e pecado”onde afirmou que Fátima “é a mais mística das aparições modernas”.

“Já foi definida como a mais profética das aparições e até a mais política. Defini-a eu e tentei justificá-la como a mais ética das aparições. Já aí partilhei uma convicção que, progressivamente, se me foi impondo ao longo destes três anos que levo aqui: Fátima é também a mais mística das aparições modernas” afirmou o sacerdote que proferiu a última conferência do ano pastoral integrada nos `Encontros da Basílica`.

Segundo o sacerdote, esta narrativa do caminho místico, através do mistério da fragilidade humana aqui iniciado, “é oferecida por Deus à história como paradigma, isto é, como modelo, padrão que permite a interpretação, a tal procura silenciosa, do mistério da fragilidade humana, e como matriz, exemplo que plasma e inspira a realização existencial dessa interpretação, o tal caminho do silêncio” que pode ser diverso em cada pessoa e em cada momento, afirmou.

A conferência, apresentada pelo autor “não como o fruto de uma reflexão livresca” mas de “uma meditação” com raízes no período “mais qualificante” da sua vida como capelão hospitalar, durante 18 anos, teve como ponto de partida a interrogação que “queima o intimo da condição humana”, isto é, “ a misteriosa articulação que o espírito humano estabelece entre a doença e o pecado, mais radicalmente o sofrimento e o mal, mais radicalmente ainda a culpa e a morte: Senhor padre, o que é que eu fiz para merecer isto?, ou: porque é que Deus me castiga desta maneira”, conclui que Fátima oferece “não a resposta, porque para as interrogações do mistério não há resposta” mas , “propostas de caminho no silêncio, propostas de procura silenciosa” a cada um de nós e a toda a humanidade , que nos remetem para a misericórdia e para o amor de Deus.

Fátima é, por isso, “uma narrativa mistagógica paradigmática que Deus oferece à história como eco da grande narrativa da encarnação redentora realizada em seu Filho”, num tempo determinado, em que o mundo entrou num processo de auto destruição e fez “a experiência do sofrimento intrínseco à fragilidade humana numa guerra mundial, que elevava para um patamar nunca antes alcançado a angústia humana diante da articulação entre culpa e morte e introduzia a humanidade numa experiência de sofrimento com características de novidade em relação ao passado”. E, porque a “consciência do risco de aniquilação da criação não mais desapareceu nem desaparecerá do horizonte da humanidade e da sua experiência de sofrimento”, Fátima “é dada por Deus neste tempo da história para o resto do tempo da história” esclareceu o sacerdote sublinhando que este tempo da história “não é apenas contexto histórico dos acontecimentos de Fátima” mas “matéria da narrativa mistagógica paradigmática que Deus oferece à humanidade” em Fátima e a partir de Fátima, através da experiência de três crianças.

Referindo-se à experiência que os três videntes fizeram num longo caminho, que vai desde a aparição do Anjo até às aparições de Nossa Senhora e depois no sofrimento imposto pela doença, sobretudo ao Francisco e à Jacinta, “dizer que Fátima é uma narrativa mistagógica significa dizer que o modo como a história de Fátima oferece sentido à história humana é propor-se como um caminho místico diante do mistério da fragilidade humana: Fátima é a história de um caminho através do mistério da fragilidade humana, um caminho místico iniciado naquele primeiro convite do anjo na loca: rezai comigo” ou depois, reiterado por Nossa Senhora no convite inicial das aparições: “Quereis Oferecer-vos a Deus”.

Por isso concluiu: “Fátima é uma narrativa mistagógica paradigmática e os elementos polémicos desta narrativa, como sejam o segmento da pergunta da Senhora – para suportar os sofrimentos que Deus quiser enviar-vos – e o pedido de sacrifícios a crianças, são nela necessários porque fazem parte da realidade humana a que Deus com Fátima, no início do século XX, veio repropor o caminho da redenção realizada na oferta sacrificial de Cristo na cruz”.

“O olhar de homem sobre Deus na experiência do sofrimento diante do mistério da sua fragilidade teria que fazer parte da narrativa que Deus humanamente conta em Fátima”, afirmou ainda recordando o papel de Nossa Senhora há cem anos, na Cova da Iria.

“É Maria, a mãe em cuja voz ecoam as vozes de todas as mães que interrogam Deus, que se interrogam sobre Deus no sofrimento dos filhos, é Maria quem o enuncia, este modo de dizer Deus diz o olhar natural inicial do homem sobre Deus a partir da sua humaníssima experiência de sofrimento”, afirmou o sacerdote.

“Ser a Mãe de Deus a assumir esta injustiça sobre o Deus revelado em seu Filho é um passo decisivo que obedece ao movimento íntimo da redenção: a incarnação - Deus, para redimir, incarna” esclarece, assinalando que Fátima “é o lugar de fragilidade humana”, enquanto “evento teológico e teologal da graça e da misericórdia (que) assume a sua plenitude de potencial sentido pascal oferecido por Deus à humanidade”.

O padre José Nuno Ferreira da Silva é presbítero da diocese do Porto desde 1989 e é, desde outubro de 2016, responsável pelo Departamento de Pastoral da Mensagem de Fátima. Foi Capelão do Hospital de S. João desde 1998, tendo integrado a Comissão de Ética e a de Humanização. Foi coordenador da pastoral da saúde na diocese do Porto desde 2004 e, a partir de 2007, assistente do secretariado diocesano da pastoral da saúde. Entre 2002 a 2012 foi coordenador nacional das capelanias hospitalares e membro da Comissão Nacional de Pastoral da Saúde. Integrou o comitê da Rede Europeia de Capelanias Hospitalares e é responsável pela criação, em Portugal, do Grupo de Trabalho inter-religioso Religiões/Saúde. Integrou a Comissão de Ética do Instituto Nacional de Saúde Pública Ricardo Jorge e lecionou em diversas Escolas Superiores de Saúde, nas áreas da Antropologia, da Ética e da Espiritualidade da Saúde.

O momento musical que se seguiu à palestra, como é habitual neste formato de `Encontros da Basílica´, foi interpretado pelo Coro de Câmara VianaVocale, com a direção de Vítor Lima e acompanhamento pelo fagotista Filipe Novais e o organista Diogo Zão. Em conjunto, interpretaram um repertório com grande incidência no culto mariano. Do Barroco tardio à contemporaneidade, as obras apresentadas são alicerçadas em salmos, hinos e cânticos que têm como pano de fundo a espiritualidade, a paz e o mistério da vida.

Os `Encontros na Basílica´ são uma proposta de reflexão sobre Fátima, em formato de palestra com um recital de música, que o Santuário dinamiza durante o triénio 2017-2020, que tem como tema genérico “Tempo de graça e misericórdia”.

A iniciativa prosseguirá no próximo ano com mais cinco encontros: “Fátima: espiritualidade teologal”, pela Irmã Sandra Bartolomeu, religiosa das Servas de Nossa Senhora de Fátima a 12 de Janeiro; “Jacinta Marto, uma entrega até ao fim” pela Irmã Ana Luísa Castro, religiosa da Aliança de Santa Maria, a 8 de Março; “Lúcia, uma vida plena de Luz” pela Irmã Ângela Coelho, religiosa da Aliança de Santa Maria, a 7 de junho; “Fátima: histórias de santidade, por Marco Daniel Duarte, diretor do Departamento de Estudos do Santuário de Fátima, a 6 de setembro e “ Fátima, escola de santidade, por Joaquim Teixeira, a 8 de novembro.

Todas as sessões dos `Encontros na Basílica´ acontecem ao domingo, às 15h30, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima e são de entrada livre.

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