12 de maio, 2008

A propósito do falecimento da Escultora Irene Vilar (1930-2008)
Uma boa parte da vasta obra escultórica de Irene Vilar é constituída por criações de arte sacra. Dentro deste campo mais restrito do labor escultórico de Maria Irene Vilar, podemos distinguir diferentes tipos de obras: umas com carácter mais cultual (a imagem da Imaculada Conceição da paróquia da Senhora da Hora, em Matosinhos; a escultura de Cristo Ressuscitado da igreja dos Padres Carmelitas, na Foz do Douro), outras de sentido mais evocativo (a escultura de Santa Beatriz da Silva, na colunata do Santuário de Fátima), outras com propósito estritamente litúrgico (a encadernação do Evangeliário da Sé do Porto; a caixa para as âmbulas dos santos óleos da mesma Sé; a cruz processional e castiçais da paróquia da Senhora da Conceição do Porto; alfaias e mobiliário litúrgicos para diferentes igrejas…). Comum a todas elas é o substrato de solidez de conteúdo, aliado à delicadeza segura das formas empregadas de mistério que bem se coadunam com as exigências artísticas e estéticas requeridas pela Igreja pós-conciliar.
Para o Santuário de Fátima, a escultora criou várias obras que comungam da finura do cinzel, pleno de delicadeza, mas de sentido firme no vigor das formas. Em 1986, deu forma ao Anjo de Fátima, evocando a segunda aparição no Poço do Arneiro, e, seis anos mais tarde, esculpiu as figuras dos Três Pastorinhos concluindo, através do retrato não só físico mas psicológico, a encenação da aparição angélica do Verão de 1916. Ainda em 1986, integrou a equipa de artistas que o Santuário chamou para modernizar a estética dos novos espaços entretanto criados e, com o seu cinzel fez nascer, para o Salão do Bom Pastor no Centro Pastoral Paulo VI, a figura de Cristo crucificado, pleno de modernidade, ao mesmo tempo sofredor e vitorioso.
Também é de sua autoria a última escultura que coroa a colunata, colocada, no topo sul, em 1989, que retrata, através de uma especial doçura, Santa Beatriz da Silva. Em 2006, Irene Vilar assina a efígie colocada no túmulo de D. Alberto Cosme do Amaral, um medalhão em bronze que, no Santuário de Fátima, permanece como testemunho da profícua actividade da escultora no campo do retrato, da medalhística e do monumento. Uma das suas obras mais interessantes, quer ao nível da concepção quer ao nível da execução, foi a que lhe alcançou o 1.º prémio (aquisição) da Exposição “Santo Agostinho”, promovida, em 2004, pelo Santuário de Fátima. Intitulada “Mestre da Beleza tão antiga e tão nova”, trata-se de uma peça metálica (folha de latão com patine) que representa a cátedra do bispo de Hipona e doutor da Igreja e é uma alegoria à sapiência que derruba a heresia.
A escultora que também retratou a imagem de Nossa Senhora de Fátima (Igreja da Senhora da Hora, Matosinhos) e que tantas vezes esteve ligada ao Santuário da Cova da Iria, irá a enterrar no dia 13 de Maio de 2008. Nesta hora, bem se lhe aplica a frase que, na Cadeira de Santo Agostinho, Irene Vilar gravou: «tocaste-me e abrasei-me na Tua paz».
Santuário de Fátima, 12 de Maio de 2008
Marco Daniel Duarte
Departamento de Arte e Património | Museu do Santuário de Fátima
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