28 de setembro, 2019
Exposição temporária “Capela-Múndi” bate recorde com mais de 250 mil visitantes em menos de um ano“É muito animador” referiu o diretor do Museu do Santuário de Fátima no início da quinta visita temática, em que se falou da importância dos ex-votos portugueses da Época Moderna
A exposição temporária “Capela-Múndi”, que assinala o centenário da construção da Capelinha das Aparições, registou até ao momento 254.449 visitantes, um “recorde” anual em relação à ultima exposição temporária, afirmou o diretor do Museu do Santuário de Fátima e comissário da exposição, Marco Daniel Duarte. Este número representa um acréscimo de 23% no número de visitantes à exposição temporária em relação à anterior, que assinalava o Milagre do Sol, inclusive no ano do Centenário. “É muito animador” afirmou Marco Daniel Duarte sublinhando a adesão dos peregrinos a olhar para a mensagem de Fátima a partir das ferramentas da museologia. Esta quarta-feira, por ser a primeira do mês de setembro, realizou-se a quinta visita temática à exposição, orientada pela professora Isabel Drumond Braga, com o tema ‘Agradecer através da imagem: ex-votos portugueses da Época Moderna’. A professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e historiadora da Época Moderna falou sobre o ex-voto enquanto testemunha, de um modo material, de um milagre realizado, usando uma narrativa própria que, além de divulgar uma graça recebida exige uma referência ao voto, que é uma promessa deliberada e livre feita a Deus em prol de um bem temporal. “Os registos dos milagres não são uma bizarria da religião da época, pelo contrário fornecem uma maneira de abordar a vida quotidiana comum dos homens e das mulheres, em todos os tipos de situações e em todos os níveis sociais e por isso os historiadores sérios devem tê-los em consideração” disse a investigadora lembrando que os ex-votos contam histórias de vida e são por isso “fontes históricas” que “devem ser lidas de forma critica e atenta”. Isabel Drumond Braga centrou a sua atenção nos ex-votos da Idade Moderna, sobretudo pinturas sobre madeira ou tela, de invocações diferentes, e com motivações diferentes, mas na sua maioria por causa de incidentes de saúde ou que têm a ver com a vida profissional ou animais, presentes no Santuário de Nossa Senhora da Guadalupe, em Espanha. “Os santuários marianos, tal como os de outras invocações, enquanto lugares de culto albergam testemunhos da religiosidade do povo, seja dos mais privilegiados seja dos menos favorecidos”, disse lembrando que apesar de muitos dos ex-votos da Idade Moderna terem desaparecido- o ouro, o trigo, por exemplo- há uma necessidade de continuar a investigar e a ler este património iconográfico do passado e da arte popular”, que é feito por encomenda, com autor anónimo. Os ex-votos apresentam sempre a imagem do santo, cuja intercessão se pede, o que ajuda o miraculado, os que receberam a graça, o contexto do problema e, normalmente, uma legenda à cerca do milagre. A sua análise permite obter informação relevante sobre grupos sociais, sacerdotes, costumes, interiores domésticos, vestuário, mobiliário, utensílios domésticos entre outros. Embora as gravuras e pinturas sejam exemplares de ex-votos por execelência, as fotografias e objetos em cera, ou ouro, ou de outra natureza constituem também elementos a ter em conta inserindo-se no mesmo dinamismo religioso que aponta para uma relação com o transcendente. O Santuário de Fátima dispõe de um “incontável” número de ex-votos de todas as categorias e sempre com a mesma invocação a Nossa Senhora do Rosário de Fátima. Estas ofertas “são canalizadas” para o Museu do Santuário desde que foi criado, “em 1955, que faz a sua inventariação, embora as mais antigas estejam apenas arroladas”. Entre os ex-votos estão peças de valor incalculável não só do ponto de vista material – como as rosas de ouro oferecidas pelos Papas Paulo VI, Bento XVI e Francisco, todas deixadas na Capelinha aos pés da imagem, alfaias litúrgicas e paramentaria diversa, insígnias de autoridades eclesiásticas, esculturas e pinturas sacras e objetos singulares como a Coroa da Virgem de Fátima, feita com as joias oferecidas pelas mulheres portuguesas em ação de graças por Portugal não ter entrado na Segunda Grande Guerra -, mas também simbólico, como a bala do atentado contra São João Paulo II incrustada na Coroa de Nossa Senhora. A exposição ‘Capela-Múndi’, com nove núcleos pode ser visitada até 15 de outubro, no Convívium de Santo Agostinho, no piso inferior da Basílica da Santíssima Trindade, todos os dias, e o Museu do Santuário de Fátima assegura diariamente duas visitas guiadas – às 11h30 e às 15h30 -, desde 2 de janeiro deste ano. A próxima visita temática, e última, a esta exposição terá lugar a 2 de outubro e será orientada pelo Coordenador do Inventário do Património Artístico Móvel da Arquidiocese de Évora, Artur Goulart, com o tema "A museologia e a missão cultural da Igreja".
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