09 de abril, 2020

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“Este ano, é nas nossas casas que o Senhor Jesus quer celebrar a Páscoa!”

Missa da Ceia do Senhor inaugura Tríduo Pascal no Santuário de Fátima,  com milhares de peregrinos virtuais a seguirem em direto a página online do Santuário

 

O reitor do Santuário de Fátima presidiu esta tarde à missa da Ceia do Senhor, celebrada na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, sem assembleia presencial mas com mais de 8.500 peregrinos virtuais que seguiram em direto, na página online do Santuário, a transmissão da primeira celebração deste tempo pascal que assinala a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus e culminará com a solene Vigília Pascal, no sábado.

“Este primeiro momento do Tríduo Pascal, que faz memória da instituição da Eucaristia e do sacerdócio, é como que o pórtico de entrada, que nos apresenta sacramentalmente a entrega e morte de Cristo, mas também a Sua vitória, pois o Cristo presente na Eucaristia é sempre Cristo ressuscitado e vencedor da morte” referiu o padre Carlos Cabecinhas.

A celebração que por determinação da Santa Sé, na sequência da pandemia provocada pelo Covid-19, sofreu algumas alterações, foi transmitida pelos meios de comunicação social e digital, facto que foi sublinhado pelo sacerdote.

“Escutámos na passado domingo a indicação do Senhor Jesus, sobre o lugar da ceia pascal: `É em tua casa que eu quero celebrar Páscoa...´ Estas palavras de Jesus, cumprem-se de uma forma literal e especial, como não esperaríamos: este ano, é nas nossas casas que o Senhor Jesus quer celebrar a Páscoa!”, lembrou o reitor do Santuário.

“Não nos podermos reunir e termos de celebrar em casa não significa, porém, que vivemos a Páscoa desunidos ou separados; estamos fisicamente dispersos, mas unidos a Jesus e unidos e solidários uns com os outros na celebração da entrega de Jesus por amor” assegurou.

A partir da liturgia deste dia, que celebra a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio, Jesus apresenta-se num gesto desconcertante que escandaliza os discípulos e desafia os poderes do mundo, ao lavar os pés aos Seus discípulos, mas onde apresenta a chave de leitura da Eucaristia e do sacerdócio que se entendem como “serviço”.

“Jesus foi, por excelência, o `servo de Deus´. Toda a Sua vida foi vivida como um serviço, mostrando-nos o seu amor levado ao extremo. Jesus assume explicitamente a condição de servo, resumindo no gesto de lavar os pés aos discípulos todo o seu mistério, o essencial da sua vida, da sua missão e paixão” recordou o padre Carlos Cabecinhas.

“ Naquele gesto de Jesus, é Deus que se inclina sobre nós, que se ajoelha diante da nossa fragilidade, para nos restituir a dignidade de filhos” acrescentou. E tal como Jesus tirou as ilações do seu próprio gesto, também hoje “somos desafiados a assumir a mesma atitude”.

“O Evangelho, ao apresentar-nos este gesto desconcertante de Jesus, que lava os pés aos Seus discípulos, no decurso da última Ceia, apresenta-nos a Eucaristia como celebração dessa entrega de Jesus Cristo por nós, como manifestação do seu amor levado ao extremo na Sua entrega na cruz”, afirmou.

“Não é possível a comunhão com Cristo, na Eucaristia, esquecendo ou ignorando os outros. Não é possível a comunhão com Cristo sem esta atitude humilde de serviço aos outros”, afirmou ainda ao sublinhar a vocação de todo o cristão que “é uma vocação eucarística, ou seja, uma vocação de serviço no amor e de entrega da própria vida a Deus e aos irmãos”.

“A todos nós que experimentamos esta situação de tribulação, por causa do surto pandémico que nos atinge, esta celebração vem recordar que no âmago da nossa identidade cristã está a solicitude pelos outros, a ajuda concreta aos necessitados, o serviço generoso aos que mais precisam”, afirmou.

“Esta celebração vem recordar-nos a necessidade de não nos fecharmos em nós próprios; a necessidade de irmos em auxílio dos doentes, de ajudarmos os que estão sós, de apoiarmos as pessoas e famílias que vivem situações económicas angustiantes. Não podemos ignorar isto!” concluiu.

O reitor do Santuário de Fátima, no final da homilia, deixou ainda uma palavra aos sacerdotes presentes, capelães deste Santuário.

“Nascido da Eucaristia, sacramento por excelência da entrega de Cristo por nós, o Sacerdócio ministerial que recebemos tem a missão de perpetuar a memória de Jesus; mas assume igualmente a missão de ser sacramento da entrega de Cristo ao serviço dos irmãos. O sentido do nosso ministério está no dom e no serviço, à imitação de Cristo. Somos servos de Cristo e, por consequência, servos dos irmãos” frisou.

“A nós, sacerdotes, a celebração deste dia vem recordar-nos, de modo muito especial, esta vocação eucarística de serviço. Como observava Tonino Guerra (poeta e escritor italiano), o único paramento explicitamente referido, na última ceia, é a toalha que Jesus põe à cintura e com a qual Jesus enxuga os pés dos discípulos”, concluiu.

Este ano, por razões sanitárias, não se realizou o rito do lava-pés, mas foi lembrado durante a celebração de forma simbólica com a exposição, no altar, dos utensílios habitualmente utilizados para que “ao olhar para eles nos sintamos convocados para a mesma missão do Mestre”.

Destaque, ainda, para as alfaias litúrgicas utilizadas durante esta celebração, que pertencem ao espólio museológico do Santuário, nomeadamente o Cálice, oferecido pelos doentes e um Cibório do Século XVII, que há muito não serviam no altar.

Além do rito do Lava-pés, no final da Eucaristia, omitiu-se também a procissão e guardou-se o Santíssimo Sacramento no Sacrário, na Capela de São José , na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.

Simbolicamente, o altar da celebração foi desnudado, como sinal do despojamento e sofrimento de Cristo.

Após a Missa, só volta a existir a celebração da Eucaristia na Vigília Pascal.

Amanhã, Sexta-feira Santa, as transmissões do Santuário em www.fatima.pt, começam às 9h30 com a oração de Laudes, prosseguem às 15h00 com a celebração da Paixão de Cristo e, às 18h30, com a Via-sacra.

 

 

 

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