17 de abril, 2007

Volvido um ano desde o início das comemorações dos 90 anos das Aparições em Fátima (em Fevereiro 2006; 1916 – Aparições do Anjo, 1917 – Aparições de Nossa Senhora) é chegada a altura de se fazer um balanço da iniciativa que pretende celebrar o amor misericordioso de Deus para com os homens.
Neste sentido, nada melhor que uma entrevista ao P. Armindo Janeiro, presidente da Comissão Organizadora do programa Celebrativo dos 90 Anos, na qual são avançados alguns dos dados que têm marcado estas celebrações.
1 - Que balanço faz desta iniciativa de celebrar nas mais várias áreas os fenómenos espirituais ocorridos em Fátima?
Faço um balanço positivo, tanto pela colaboração das pessoas convidadas para integrarem os diversos grupos de trabalho como pela participação dos interessados nas iniciativas propostas.
2 – O tema geral de toda esta vivência, em ambiente de alegria e fé – “Deus é amor misericordioso” – tem, parece-me, um duplo propósito, a celebração e a transmissão do acalento da esperança. É, como afirmou o Sr. P. Armindo na apresentação do programa dos 90 anos, “a boa nova do amor misericordioso de Deus – que em Fátima brilha sobre nós com contornos maternos”?
Ainda que a cultura dominante dos últimos séculos tenha rejeitado a presença e iniciativa de Deus na história, nem por isso Ele se afastou dos homens ou os abandonou à sua sorte. Antes pelo contrário, de muitos modos, continua a cuidar dos seus filhos e a surpreendê-los com gestos de amor e perdão, expressões nunca desmentidas da sua misericórdia para com o seu Povo, como no-lo reafirma a mensagem de Fátima.
Ali se revela, de forma extraordinária, o contínuo da história da salvação e que tem no mistério da Morte e Ressurreição de Jesus Cristo a sua plena revelação! Deus é fiel ao seu amor por nós e os seus “desígnios de misericórdia” – palavras do Anjo aos três pastorinhos – não têm limites de qualquer espécie. Ele quer a salvação de todos!
Tudo isto nos convida a rezar e a meditar, a celebrar e a anunciar “o coração misericordioso do nosso Deus, que das alturas nos visita como sol nascente, para iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz.» (Lc 1,78-79).

3 – Como recebeu este convite do Santuário de levar à execução todo um projecto celebrativo, sendo o P. Armindo Reitor do Seminário de Leiria?
Quando o Sr. Reitor me fez o convite, estava longe de pensar que viria a assumir o Seminário Diocesano de Leiria. Nessa altura as minhas perspectivas eram outras e tinham a ver com a continuação dos estudos. A resposta ao convite, no entanto, foi também uma forma de agradecer e retribuir a muita colaboração recebida dos padres do Santuário nos diversos serviços diocesanos que coordenava.
4 – Começou a partir do nada, ou teve indicações específicas sobre as áreas a apresentar, neste caso, áreas de estudo e reflexão, manifestações artísticas, meditação e oração?
A estrutura do programa celebrativo, embora com diferentes dimensões, é a mesma do Ano Agostiniano (2003-2004), com o qual a diocese de Leria-Fátima celebrou os 1650 anos do nascimento do seu Padroeiro. Neste contexto, interessa recordar que, por decisão do João XXIII (Breve de 1962), a Diocese de Leiria passou a celebrar dois padroeiros principais: Nossa Senhora do Rosário de Fátima e Santo Agostinho. Foi inspirado nesse projecto do Centro de Formação e Cultura da Diocese, que, acolhendo sugestões diversas, a começar pelas do Sr. Reitor, se definiram objectivos e se estruturou o respectivo programa, denominado Ano da Misericórdia do Senhor (2006-2007), de inspiração bíblica.
5 – Como tem sido esta experiência de trabalho com a equipa constituída para o Secretariado dos 90 anos, “recrutada” de vários serviços do Santuário?
Muito boa! Sendo uma proposta do Santuário, o programa celebrativo dos 90 anos das Aparições é mais uma oportunidade para aprofundar e dar a conhecer os acontecimentos e a mensagem que são a sua razão de ser. Não surpreende, por isso, que os seus serviços e pessoas ligadas à mensagem de Fátima colaborem generosa e eficazmente no projecto. Neste contexto, posso dizer que não tem sido difícil encontrar, perante dificuldades várias e situações inesperadas, a disponibilidade necessária para chegar às melhores soluções. 
6 – Em termos de adesão das pessoas às actividades realizadas até agora, a mim impressiona-me o elevado número de pessoas que tem participado nas várias e diferentes proposta apresentadas. Refiro apenas alguns números divulgados recentemente à comunicação social: quase 500 pessoas participaram nas jornadas sobre o acolhimento (Fev. 2006), quase 300 nas das as crianças institucionalizadas (Junho 2006), o Congresso sobre o Anjo teve 263 inscrições, a acção de formação do Sr. Reitor contou com 315 participantes (alguns vinham de Espanha!) e a do Dr. Cristino com 235, isto só para referir alguns números. Os retiros têm sido, em média completos, e as vigílias mensais também tem tido uma larga adesão. Em 2006, os dois concursos sobre os Anjos, um para crianças e outro para jovens, foram largamente participados, e os resultados de participação do concurso já lançado este ano (sobre as Aparições de Nossa Senhora, para crianças) também excede as expectativas. A exposição “Sou o anjo de Paz”, no Museu de Etnologia, teve, até final de Março, 3275 visitantes… No Santuário temos o costume de referir que interessa o trabalho realizado, o bom acolhimento e a satisfação das pessoas, mas o que é certo é que estes números são, para começar, um alento. Qual é sua leitura sobre as estatísticas?
As estatísticas, neste caso, são um alento, como disse. Mas se o resultado fosse o contrário, só por si, não seria um desalento. Há motivações mais profundas que nos movem: são as que nascem da fé, da leitura que fazemos dos acontecimentos de Fátima e do que eles significam para o nosso tempo. Desta leitura crente brota uma síntese que é como que o alicerce sobre o qual se constroem iniciativas e se lançam dinâmicas que darão frutos a seu tempo. Este tempo, no entanto, não é o nosso, mas o de Deus! A nós compete-nos servir, o melhor que pudermos e soubermos, o diálogo amoroso de Deus Pai com cada um dos seus filhos, e convidá-los a fazer a experiência da fraternidade cristã, reunida em nome do Senhor Jesus e no amor do Espírito Santo.
7- Ainda em termos de estatísticas, a Internet foi mais um meio de se chegar às pessoas. Em termos de Programa dos 90 Anos, a ideia de se colocarem alguns guiões na página oficial do Santuário na Internet foi outra feliz surpresa, ou já contava que, por exemplo, o guião da primeira vigília de Oração, em Novembro, tivesse 1450 descargas da página da Internet, ou que o da de Janeiro, tivesse aos 3598 downloads?
Que a Internet seja hoje um poderoso meio de comunicação, não há dúvidas! Por isso, se procurou manter actualizada a página do Santuário, no que às celebrações dos 90 anos das Aparições dizia respeito. Contudo, não esperávamos que as descargas de Novembro ultrapassassem o número de participantes da Vigília e que, em Janeiro, esse número quase quadruplicasse!
8 – A meio caminho entre os congressos internacionais sobre “Figuras do Anjo revisitadas” (Outubro 2006) e “Fátima para o século XXI” (Outubro 2007), realiza-se, em Maio, por ocasião da celebração dos 90 anos da Primeira Aparição da Virgem, o Congresso “Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo”, que encerra, como os outros, outras actividades de vários âmbitos. O que se lhe oferece dizer sobre a actividade?
Este Congresso está no coração do programa celebrativo dos 90 anos das Aparições de Fátima, precisamente para acentuar a centralidade do Mistério dos mistérios da Fé Cristão: a Santíssima Trindade. Num tempo em que os cristãos se confrontam todos os dias com propostas religiosas diferentes e são convidados ao diálogo com crentes, indiferentes e não crentes, é preciso recordar e aprofundar o específico do mistério cristão: a sua fé no Deus Uno e Trino. Importa dizê-lo: o que torna única a fé cristã nem sempre esteve e está presente na mente e no coração dos cristãos, a saber, a dimensão trinitária da sua fé.
Descobre-se também nas aparições de Fátima uma ajuda preciosa para resgatar o Mistério da Santíssima Trindade do seu isolamento secular. Fazendo com que o mistério da comunhão trinitária de Deus resplandeça mais claramente na vida da Igreja, será mais fácil identificar o princípio que nos há-de levar a uma visão mais profunda do homem, da sociedade e do mundo e nos ajudará a superar a fractura entre a cultura ocidental e cristianismo.
Ao Congresso juntar-se-ão algumas iniciativas culturais: uma exposição pedagógica sobre iconografia trinitária; uma peça de teatro sobre a vida familiar dos pastorinhos; um concerto de música sacra na Igreja Paroquial de Fátima, onde os Pastorinhos foram baptizados, e o Francisco ali se recolhia para estar a sós “com Jesus escondido”; e a apresentação da Enciclopédia de Fátima (como já foi anunciado), com a participação do coro infantil do Santuário de Fátima.

9 – A si, pessoalmente, qual foi a iniciativa que até agora que mais o atraiu? Sei que tem um carinho especial pela Peregrinação Nacional das Crianças, que no ano passado trouxe ao Santuário 20 mil meninos e meninas…
Não sei bem o que responder, pois as iniciativas, nas três grandes dimensões do programa, formam um todo que vive dos contributos específicos de cada uma delas. Contudo, a organização da peregrinação das crianças é, todos os anos, um grande desafio. Coordenando as duas (peregrinação das crianças e programa das celebrações), foi mais fácil desenvolver iniciativas (dentro e fora do espaço eclesial) que, de algum modo, chegaram a muitas crianças de Portugal. No ano passado, o resultado foi surpreendente e pensamos que, este ano, também o será.
10 – Todo este programa celebrativo encerrará, em Outubro, com o congresso “Fátima para o Século XXI”, também com um vasto programa cultural. Qual a grande meta do congresso?
Na viragem do milénio e do século, e tendo em conta que o próprio papa João Paulo II se assumiu como um dos protagonistas da mensagem de Fátima, pareceu oportuno reler os acontecimentos fundadores do Santuário, estudar as suas repercussões ao longo do século XX e projectar o seu futuro.
Ao congresso, juntar-se-á uma exposição pedagógica de Arte Sacra intitulada “Salve Rainha, Mãe de Misericórdia”; será inaugurada uma exposição sobre a presença de Fátima no Mundo; será apresentada uma tradução dos textos originais da obra de Santo Agostinho “De Trinitate”; e teremos a estreia da Oratória, composta para o encerramento das celebrações: “Fátima, sinal de Esperança para a Humanidade”.

11- A culminar as celebrações: a inauguração da Igreja da Santíssima Trindade, a 13 de Outubro. O que representa para si esta obra do Santuário, em termos de futuro do próprio santuário e da mensagem de Fátima?
Foi um projecto longamente desejado pelos responsáveis da pastoral do Santuário e vem responder a necessidades específicas. É uma mais valia, a todos os níveis: local, diocesano, nacional e internacional. Depois, assinala a presença do mistério trinitário de Deus nas Aparições de Fátima; acompanha a redescoberta do mistério central da fé cristã, sobretudo desde o Concílio Vaticano II; recorda os três anos de preparação do grande jubileu do ano 2000, dedicados às três Pessoas da Santíssima Trindade. Por fim, permanecerá como um convite a uma maior e mais profunda meditação do mistério da comunhão trinitária de Deus, absolutamente necessário para acompanhar e acolher positiva e criativamente o diálogo tenso mas fecundo, entre o processo globalizante do planeta, expressão da “unidade de todo o género humano”, e o respeito pela diversidade de cada povo e cultura, finalmente, de cada pessoa. 

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12 - Aproveitando esta ocasião, em termos dos outros projectos a seu cargo, o grande projecto em termos de Seminário de Leiria, do qual é Reitor, são as obras. Como vai esta realização?
Mais importantes do que as obras são as pessoas! Por isso, à preocupação pelo edifício se sobrepõe o projecto da comunidade do Seminário, no seu serviço específico à Diocese. Importa redescobrir a sua centralidade na vida das comunidades cristãs e no coração dos fiéis. 
Quanto às obras de remodelação do edifício do Seminário, estamos na fase de estudo dos projectos de especialidade, para ver que mais valias, de forma sustentada, se poderão introduzir no edifício, tendo em conta as antigas e novas valências: Comunidade do Seminário; Casa de Retiros/Formação; Centro Pastoral (todos dinamismos diocesanos: serviços, comissões, movimentos e associações...) e Residência Sacerdotal. Neste contexto, estamos também a estudar a viabilidade do recurso energias renováveis.

13 – A falta de vocações na Igreja já não é notícia. Este empenho por parte do Sr. Bispo de Leiria-Fátima em desenvolver trabalho pastoral nesta área, isso sim é notícia. De que forma está a trabalhar para conseguir concretizar os pedidos de D. António, que no projecto pastoral referia que “A crise (das vocações) representa um desafio em ordem a assumir com novo ardor a pastoral vocacional e a encontrar novos caminhos. O que aqui está em jogo é, sobretudo, uma experiência de fé que leve a descobrir a novidade e a beleza do encontro com Jesus Cristo”?
A carta pastoral do D. António Marto “Descobrir a beleza e a alegria da vocação cristã” deu conteúdo e ritmo ao segundo ano do Projecto Pastoral. As iniciativas entretanto lançadas nos diversos níveis de acção pastoral, estão a criar as condições para que a pastoral vocacional na Diocese possa ganhar “novo ardor”. Entre elas são de realçar as vigílias mensais vicarias, presididas pelo Bispo; as catequeses quaresmais; o grupo vocacional de Santo Agostinho; a Carta às crianças...
Neste contexto, o Seminário, através dos padres ao seu serviço, disponibilizou-se para colaborar com os párocos na animação vocacional, sobretudo através das celebrações eucarísticas dominicais. Ao mesmo tempo, lançou um ano de inscrições de adolescentes e jovens para o Pré-Seminário. Já passaram, desde Novembro, pelos seus encontros mensais cerca de sete dezenas e meia de Adolescentes e Jovens, com uma média de três dezenas de participantes por encontro.

14 – Está também ligado à Comissão Diocesana de Arte e Património Cultural, da qual é Coordenador, e que vai realizar sessões de esclarecimento, intituladas “Despertar para o Património”, nas Vigararias da Diocese de Leiria-Fátima, entre os meses de Abril e Junho. Sei que são destinadas a todos os Párocos, Conselhos Pastorais, Zeladores das igrejas e Paroquianos da diocese de Leiria – Fátima. O que visam concretamente? Há uma sensibilidade especial para esta área?

É uma proposta do Museu de Arte Sacra e Etnologia de Fátima e que nós acolhemos e organizámos. A boa aceitação que encontrámos junto dos responsáveis vicarias, mostra que está a crescer a preocupação pela conservação do Património, como aliás já o demonstraram outras acções realizadas com a mesma finalidade. Por uma feliz coincidência, vai também decorrer uma outra acção de formação, de carácter prático, no Arquivo Distrital de Leiria, sobre “Noções básicas de Preservação e Conservação de documentos gráficos”, orientada por técnicos especializados do seu Centro de Restauro. Será no dia 23 de Abril, no referido Arquivo. Com esta acção damos início à inventariação de “documentos gráficos” pertencentes às instituições da Diocese. No horizonte está a criação do Arquivo Diocesano.

Entrevista via Internet por LeopolDina Reis Simões
Centro de Comunicação Social/Sala de Imprensa do Santuário de Fátima
17 de Abril de 2007
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