12 de agosto, 2015

Museu e Biblioteca do Santuário de Fátima celebram 60 anos
A 13 de agosto de 2015, o Museu e a Biblioteca do Santuário de Fátima alcançam 60 anos desde a sua criação. O propósito inicial estebelecido para este projeto pelo então bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, visava a conservação do passado histórico-testemunhal do Santuário, da memória dos seus protagonistas e dos seus peregrinos. O projeto Museu-Biblioteca-Arquivo acabaria por divivir-se em três secções autónomas, ainda que todas sob a mesma coordenação.
Quanto ao Museu, nas palavras do seu atual diretor, Marco Daniel Duarte, o projeto mantem-se fiel à intuição original, ainda que progressivamente se tenha alargado a outras perspetivas, como à realização de exposições temporárias ou às visitas on line. A face mais visível do Museu do Santuário de Fátima é a exposição permanente “Fátima Luz e Paz”, inaugurada no edíficio da Reitoria em agosto de 2002.
Considerado “lugar de inequívoca transmissão e vivência da Mensagem de Fátima e bem assim da Cultura que resulta dessa Mensagem”, o Museu do Santuário de Fátima apresenta uma especificidade própria que o diferencia de outros projetos museológicos. “O acervo foi-se constituindo através das ofertas dos peregrinos”, que “espelham a sua relação pessoalíssima com a Mãe de Deus que têm por medianeira”, sublinha o diretor.
O futuro do Museu do Santuário de Fátima passa por manter a linha condutora que vem sendo desenvolvida nos últimos tempos, sendo a grande aposta “levar estes  conteúdos [da mensagem e da história de Fátima] cada vez mais longe e a mais pessoas”.
 
A entrevista a Marco Daniel Duarte
Por LeopolDina Simões
- Como poderemos resumir a contextualização histórica da fundação do Museu e da Biblioteca do Santuário de Fátima?
É no ano de 1955, percebendo o impacto que Fátima estava a ter em todo o mundo, que o então bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, estabelece as bases do que designa, «sem pretensões e demasiadas preocupações de exatidão» (as palavras são suas no documento fundacional), de Museu-Biblioteca do Santuário de Nossa Senhora da Fátima. D. José estava preocupado com a conservação dos «restos de um passado que começa[va] a ser remoto», lembrando não apenas os testemunhos materiais que se referiam aos videntes e aos restantes protagonistas da história de Fátima, mas também os que faziam memória do Santuário e dos seus peregrinos.
Ao contrário do que, certamente por modéstia, escrevia, as suas palavras, atualizando, obviamente, a terminologia, mostravam-se muito apropriadas e condizentes com a moderna forma de encarar a museologia atual que procura privilegiar a interpretação e a comunicação com os diferentes públicos.
No mesmo documento, D. José, na certeza de que as marcas de Fátima e sobre Fátima não se esgotavam nos testemunhos materiais que são, normalmente, os elementos colhidos e conservados pelos museus, instituía também a Biblioteca e o Arquivo do Santuário de Fátima. Embora com menor expressão para o exterior, talvez por causa da natureza do acervo que tutelam, também estas duas instituições têm levado a cabo a missão de custodiar a memória de Fátima e dos seus protagonistas.
Ainda que nunca viesse a funcionar num edifício autónomo, o Museu do Santuário disponibiliza o seu acervo através de duas exposições permanentes (Casa-Museu de Aljustrel e Exposição Fátima Luz e Paz) e das diferentes exposições temporárias que organiza; tem, ainda, procurado cumprir com as atribuições que a moderna museologia exige às instituições museológicas: inventariação, estudo das coleções, conservação, exposição e divulgação.
- Centremo-nos hoje no Museu do Santuário de Fátima. Volvidos 60 anos, verificamos que o Museu continua uma aposta fundamental do Santuário de Fátima. Quais os seus principais objetivos?
O Museu do Santuário de Fátima é entendido como uma instituição privilegiada para o diálogo entre o Santuário e três tipos de públicos, se quisermos usar a linguagem típica dos museus: em primeiro lugar, pretende, como todos os âmbitos de atuação do Santuário de Fátima, dialogar com os peregrinos; em segundo lugar, e não menos importante, com todos os visitantes que, independentemente das motivações, chegam à Cova da Iria; para além destas pessoas que são os que visitam os diferentes espaços do Museu (exposições permanentes e exposições temporárias), o diálogo estabelece-se ainda com os investigadores das diferentes áreas históricas e artísticas que se encontram representadas no seu acervo, desde historiadores, antropólogos, sociólogos, etnólogos, para enumerar apenas alguns dos estudiosos das ciências humanas e sociais que, cada vez mais, encontram nos testemunhos materiais da civilização humana um lugar de estudo. O Museu do Santuário tem sido, assim, lugar de inequívoca transmissão e vivência da Mensagem de Fátima e bem assim da Cultura que resulta dessa Mensagem.
- Quais são assim as principais frentes de trabalho nas quais o Museu se encontra a trabalhar?
Para além de garantir a exposição permanente dos objetos mais importantes das suas coleções e de preparar, em cada ano, uma exposição temporária, o Museu do Santuário encontra-se neste momento a estudar cientificamente as coleções e a tratar o acervo de que é responsável, a fim de garantir a sua conservação tempo além. Para alcançar esse objetivo, conta com técnicos qualificados que vão assessorando quer os peregrinos quer os investigadores quer ainda as diferentes solicitações que, internamente, se relacionam com o património móvel e edificado que se encontra ao serviço quotidiano do Santuário.
Ao nível da ação pedagógica, garante também visitas guiadas à exposição permanente e disponibiliza ‘on line’ as exposições temporárias para que os interessados que não têm possibilidade de vir a Fátima possam usufruir do acervo. Com alguma frequência, colabora em projetos de investigação de outras entidades congéneres, seja na transmissão de conhecimentos, seja, inclusive, na cedência temporária de peças do seu acervo.
- Podem destacar-se do acervo do Museu algumas peças como as mais emblemáricas e importantes?
Costumo dizer que no Museu do Santuário de Fátima não há peças de primeira e de segunda categoria, porquanto o acervo que o constitui não é composto por aquisições efetuadas através de compra. O acervo foi-se constituindo através das ofertas dos peregrinos e elas espelham a sua relação pessoalíssima com a Mãe de Deus que têm por medianeira. Há, obviamente, peças mais emblemáticas: todas as que se relacionam com os videntes de Fátima e com a história do Santuário e, bem assim, do impacto de Fátima no mundo. A coroa preciosa da Imagem de Nossa Senhora de Fátima, as diferentes ofertas dos papas, desde as rosas de ouro até a outros objetos que aqui mostram a importância de Fátima para a Igreja universal são peças importantíssimas. Mas também cada objeto oriundo do mais anónimo dos peregrinos, seja de matéria preciosa ou não, tenha valia artística ou apenas documental, é para nós um testemunho único que merece os cuidados da Museologia: muitas vezes os óculos que já não são necessários, porque foi alcançada a graça de uma cura; outras vezes um adereço pessoal que se guarda durante uma vida e que se oferece em ação de graças; outras, ainda, a simples mensagem escrita num papel de um caderno escolar acompanhada, ou não, por um trabalho de gosto ‘naïf’ feito pelas mãos de uma criança...
- É possível apontarem-se alguns indicadores que permitam dar a conhecer os desafios programáticos futuros para este Museu? 
O Santuário está neste momento a proceder a uma reflexão interna acerca da importância comunicacional de uma estrutura como a do Museu do Santuário, entendendo que a mensagem do Evangelho, tal como o têm afirmado os documentos da Igreja, chega muito longe quando o suporte é artístico ou fala do belo. Nessa linha de pensamento, entende-se que os peregrinos estão a beneficiar cada vez mais dessas reflexões feitas a partir das ferramentas da museologia, pelo que pensamos venham a ser cada vez mais desenvolvidas e a estender-se, inclusivamente, a outros lugares, estabelecendo parcerias entre o Museu do Santuário e outros Museus em Portugal e no estrangeiro.
As exposições temporárias têm-se revelado uma prova cabal de que é possível transmitir a mensagem específica do lugar através de uma museografia atual que sirva os propósitos da museologia que não apenas dá a conhecer mas, sobretudo, interpreta os artefactos como lugares de memória que refletem o pensamento humano. É sintomático que o número de visitantes esteja a aumentar de forma muito clara. A título de exemplo, a exposição deste ano – “Neste vale de lágrimas” – relativamente aos dados recolhidos em igual período do ano anterior conta já com mais 61 920 visitantes. Ao tomarem como temáticas específicas os acontecimentos e conteúdos da História e Mensagem de Fátima, estes exercícios mostram-se não só lugares de cultura como também de transmissão da fé. 
O grande desafio para o futuro vai ser o de levar estes conteúdos cada vez mais longe e a mais pessoas, pois a linguagem dos museus é – assim o queremos – verdadeiramente universal, como universal é, por definição, a mensagem de Cristo e da sua Igreja e a específica mensagem fixada a partir das aparições de Fátima. 
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