23 de fevereiro, 2011

Entrevista a Marco Daniel Duarte, vencedor da letra para o hino do centenário das aparições de Fátima, por LeopolDina Simões, da Sala de Imprensa do Santuário de Fátima.
- Com que sentimento recebeu a informação de ter sido o vencedor do concurso?
Marco Daniel Duarte - Fiquei verdadeiramente feliz pela notícia que, obviamente, me surpreendeu. Hesitei muito acerca da participação, mas como já tinha escrito várias composições para serem musicadas para a Liturgia, tive vários incentivos para participar. Estava longe de imaginar que poderia ser escolhido o texto que compus. Pensei nele como um subsídio que viesse a ser musicado a posteriori, já que há uma necessidade premente de textos para a Liturgia e alimentei a convicção de que, passado o momento do concurso, pudesse ser uma composição a utilizar noutra circunstância. Mas o Júri, de inquestionável qualidade, encontrou-o merecedor de ser considerado o hino oficial do centenário das aparições. Terei muito gosto em poder ouvi-lo nos lábios dos peregrinos; será para mim uma grande alegria.
- Como pensou estruturalmente o seu trabalho?
Marco Daniel Duarte - O pensamento que subjaz ao trabalho que submeti a concurso espelha a forma como leio a Mensagem de Fátima: a Virgem Maria faz-se, em Fátima, portadora do Evangelho de Cristo. Por isso, entendi que, cem anos depois das aparições, faria sentido reflectir a Mensagem de Fátima com chave cristológica, através da narrativa dos evangelhos. Procurei tomar as passagens em que nos evangelhos é referida a figura de Maria e fazê-las, através de um paralelismo semântico, desaguar na mensagem de Fátima. Ou, talvez dito de melhor forma, o texto assume que a Mensagem de Fátima tem uma nascente muito límpida que é a Boa Nova de Cristo contida na Escritura. As estrofes do hino têm, de facto, essa estrutura: como Maria apresentou Jesus aos magos e aos pastores, também apresentou, em Fátima, o seu Filho à humanidade; como Maria orava na assembleia cristã, assim continua a interceder pela humanidade... As estrofes finais fazem eco das últimas reflexões dos papas sobre Fátima, incluindo a homilia de Bento XVI, no dia 13 de Maio de 2010.
- E quanto à forma?
Marco Daniel Duarte - Do ponto de vista formal, o texto organiza-se em 13 quadros, número que, obviamente, não foi tomado ao acaso e pretende ser uma referência ao dia das aparições. Senti que, para melhor explanação de algumas linhas de conteúdo, me fosse mais favorável recorrer ao verso decassilábico que usei com bastante simplicidade no que respeita aos esquemas de rima e com algum cuidado no que respeita à prosódia.
- E em termos de mensagem e de pastoral, como pensou a composição que apresentou?
Marco Daniel Duarte - Acima de tudo, pensei nas grandes assembleias de Fátima e na oportunidade de estas virem a cantar a Mensagem de Nossa Senhora a partir dos tesouros da Sagrada Escritura que, na senda do que recomendou o Concílio e continuam a recomendar os documentos actuais da Igreja, devem ser abertos, diria mesmo, escancarados. O texto para mim é uma oração que, como autor, tive o privilégio de ser o primeiro a rezar. Queira Deus possa servir este propósito também às assembleias orantes.
- Disse que já escreveu composições para serem musicadas para a Liturgia. Como avalia esta área?
Marco Daniel Duarte - Estou inteirado da premente necessidade que os compositores musicais sentem de ter textos para o canto, uma vez que, para além do meu currículo académico, trabalho pastoralmente no âmbito da Liturgia e da Música na Liturgia. Há muitos anos que me encontro ligado a estas temáticas, nomeadamente no Secretariado de Liturgia da Diocese da Guarda (donde sou oriundo e à qual continuo ligado), no qual integro a Comissão de Pastoral Litúrgica e a de Música Sacra, e nas várias paróquias e comunidades que tenho servido. Em Portugal, como noutros países, fez-se um caminho com muito interesse, ao longo do século XX. Esse caminho está ainda por estudar; tem momentos de assimetria, mas há produção de muita qualidade que passa por nomes que todos cantamos e que, na maioria das vezes, estão perpassados de grande espiritualidade bíblica e litúrgica. Embora nem todos, não são raros os poemas que a Liturgia assume que se encontram eivados da mística e da poética da contemporaneidade e, até, da eternidade. Tenho pena que não se trabalhe mais nesta matéria.
Para finalizar, o que propõe o refrão do hino do centenário?
Marco Daniel Duarte - O refrão que proponho faz eco de uma das orações mais queridas do Povo de Deus, referindo-se a Maria como “Rainha” e “Mãe de Misericórdia”. O regulamento apontava que o refrão do hino pudesse ser em latim, em virtude da universalidade dos crentes que se reúnem em Fátima. Para mim, Nossa Senhora de Fátima é de facto a Mãe “clemente”, “piedosa” e “doce”. Fátima apresenta uma reflexão eclesiológica muito maturada sobre a figura de Maria, figura que a teologia católica lê como co-redentora na economia da Salvação. Assim leio eu a visita que Maria faz à humanidade, através de três crianças, num específico tempo e lugar.
Esta é uma visão muito pessoal, mas, olhando para a história de Fátima – com os seus vários episódios, entre os quais o da coroação da Imagem de Nossa Senhora, o de essa coroa ter uma especial jóia incrustada (uma bala, sinal de guerra, mas também sinal de intervenção divina sobre a história humana) – vejo na Virgem de Fátima a Mulher que contemplamos com as palavras da “Salve Rainha”.

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