26 de março, 2023

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“É preciso abrir os túmulos do faz de conta, do encobrimento”- D. José Ornelas

Bispo presidiu à Peregrinação Diocesana de Leiria-Fátima, que inaugurou as missas no Recinto de Oração, e não evitou o tema dos abusos sexuais

 

D. José Ornelas disse hoje, na homilia da Missa a que presidiu no recinto de Oração da Cova da Iria, na qual participou a peregrinação diocesana de Leiria-Fátima, que “houve e há” situações dentro da Igreja que “é preciso mudar” e que “esconder” ou “resignar” não é o caminho para uma Igreja “mais verdadeira, mais autêntica e mais cuidadora”.

“O tema dos abusos sexuais tem abalado muitas pessoas, com grande eco nos órgãos de comunicação e, para muitos, abalou a credibilidade da própria Igreja” afirmou o bispo da diocese de Leiria-Fátima.

“Reconhecer esta realidade é importante. Isso significa não esconder nem se resignar ao mal” disse explicitando que “procurar conhecer a realidade, exprime, antes de mais, que repudiamos esses maus procedimentos, que não são nem a generalidade nem o ser da Igreja, que somos nós todos”.

“A Igreja não é uma associação de mal fazer! Ela tem um propósito contrário: cuidar. Reconhecendo e pedindo perdão significa que nos colocamos do lado daqueles que os sofreram dramaticamente. Significa, ainda, a vontade firme de empreender caminhos de transformação, de cuidado e de apoio para restituir, na medida do possível, a justiça e a dignidade de quem foi injustamente ferido”, esclareceu de forma enfática, deixando uma garantia inequívoca: “Como Igreja, não nos resignamos nem desanimamos, mas tudo faremos para que estas situações não se repitam e para que as nossas comunidades sejam expressão de carinho verdadeiro e espaços seguros para o crescimento dos mais pequenos e mais necessitados de proteção e de ajuda”.e

“ É preciso abrir os túmulos do faz de conta, do encobrimento. A abertura dos arquivos, que fizemos com coragem, tem de significar abrir o coração à justiça, à reparação, à esperança”, reafirmou. E, embora tenha salientado que “a igreja não é só isto” disse que “também não podemos tirar isto do nosso coração”.

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A partir da liturgia proclamada este V domingo da Quaresma, em que a primeira e grande mensagem é que Jesus garante que não está longe das dores, das fadigas, das falhas nem da morte da humanidade, o prelado diocesano afirmou que, ainda assim, os cristãos têm hoje razões para se sentirem “como o povo de Israel no tempo de Izequiel: um povo no exílio, derrotado, humilhado, saudoso, desorientado e desanimado”.

“Hoje, em vários aspetos, muitos cristãos sentem-se como o povo de Israel, no tempo do profeta Ezequiel: têm sentimentos de crítica, de preocupação, de desânimo a respeito da Igreja. Como na situação de luto da família de Lázaro, muitos se perguntam-se onde está o Senhor da Igreja. Muitas pessoas perderam mesmo o interesse de participar na vida da comunidade”, constatou destacando que a resposta do profeta e a resposta de Jesus “juntam-se para apontar as razões do mal-estar” e , por isso, também a Igreja, antes de mais, tem de reconhecer que “houve e há situações que é preciso mudar”.

D. José Ornelas salientou a caminhada sinodal, que a Igreja vive, para apontar atitudes e modos de estar na Igreja que “precisam ser revistos”, para serem percorridos “outros caminhos” que não se esgotam na questão dos abusos.

“O caminho sinodal que empreendemos durante este ano identificou deficiências, mas lançou igualmente sementes de esperança e de transformação à luz do evangelho e do Espírito do Senhor”, afirmou.

“É preciso escutar a palavra de Jesus que manda abrir os túmulos de uma Igreja parada, de gente que só vem assistir,  para que entre a luz e a força do Espírito do Senhor ressuscitado e que nos põe em movimento” vincou ainda, salientando que “o caminho sinodal não foi um acontecimento mais, mas um estilo de ser Igreja em que todos participam e caminham juntos, guiados pelo Espírito do Senhor”.

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D. José Ornelas falou, ainda, da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, de 1 a 6 de agosto.

“As jornadas Mundiais da Juventude estão à porta. Muitos jovens já há muito que estão empenhados na sua preparação e sentem-na, no esforço e no coração. Este é um convite da Mãe-Igreja, pela boca do Papa: “Maria levantou-se e partiu apressadamente…”. Hoje, em peregrinação a Fátima, ela convida-nos a fazer o mesmo, porque há notícias novas, belas e importantes a levar”, afirmou desafiando todos os peregrinos presentes a “renovar, com o coração agradecido, a mensagem deixada em Fátima por Nossa Senhora”.

“Não podemos parar, desanimar, cansar. Temos dificuldades, temos desafios e grandes; temos caminho para andar. Jesus não prometeu que o caminho seria fácil. O que assegurou é que estaria connosco até ao fim dos tempos. Ele passou pela morte e pelo túmulo, mas está vivo e guia-nos na história pessoal, de família, de comunidade, de Igreja, de humanidade”, disse ainda.

“Abramos as portas dos túmulos do nosso desalento, comodismo e ceticismo. O Senhor, o Mestre, o Pastor da Igreja vai connosco. Ponhamo-nos juntos a caminho com Ele, para uma Igreja mais verdadeira, mais autêntica, mais cuidadora, onde resplandeça o rosto de Maria, a serva fiel do Senhor, tanto junto da cruz, como no Pentecostes onde todos nascemos”, concluiu D. José Ornelas, aos milhares de peregrinos, não só de leiria-Fátima, mas também do Algarve e de Espanha e que se fizeram anunciar no Santuário, que participaram na Eucaristia neste domingo, marcado pelo regresso das missas dominicais ao Recinto de Oração.

Esta tarde, pelas 14h00, realiza-se uma Via-sacra no Recinto e , às 15h00, um concerto-orante, junto aos túmulos dos videntes, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, organizado no âmbito da Peregrinação Diocesana da diocese de Leiria-Fátima.

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