09 de novembro, 2009

O SEGMENTO DO MURO DE BERLIM E OS FRAGMENTOS OFERECIDOS SANTUÁRIO DE FÁTIMA
 I – NOTA PRÉVIA
O Muro de Berlim que separava as duas zonas de Berlim, começou a ser construído de 12 para 13 de Agosto de 1961, por ordem das autoridades do sector oriental da cidade (cf. Verbo – Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, vol. 3º, 1965, cols. 1145-1146).
"Cavalos de frisa e arame farpado ao longo da fronteira"
Berlim, 13 [de Agosto de 1961] - Para fechar hermeticamente a fronteira entre Berlim-este e Berlim-oeste foram colocados cavalos de frisa e fios de arame farpado ao longo. A estrada está praticamente cortada aos refugiados. A maior parte dos pontos de passagem, entre as duas partes da cidade estão severamente guardadas pela Polícia Popular que patrulha com metralhadoras e bandoleira. Apenas 13 postos fronteiriços continuam abertos entre as duas zonas de Berlim, e mesmo esses são controlados pela polícia armada.
Há  grande número de estações do metropolitano encerradas. As que continuam abertas estão guardadas e o tráfego‚ controlado, de modo que‚ impossível a qualquer alemão da zona oriental vir à zona ocidental, sem passar pelo dispositivo colocado pelos comunistas.- (F.P.). ("Novidades", Lisboa, 76 (21.775) 14 Ago. 1961, p. 6, col. 4)
“A grave situação criada por moscovo em Berlim sucessão cronológica dos acontecimentos desde o bloqueio de 1948”
Berlim, 16 [de Agosto de 1961] -  É a seguinte a sucessão cronológica dos acontecimentos em Berlim, desde o bloqueio de 1948-1949:
23 de Junho de 1948 - Os comunistas iniciam o bloqueio.
26 de Junho de 1948 - Principia a ponte aérea.
4 de Maio de 1949 - Os "quatro grandes" concluem um acordo para o fim do bloqueio.
12 de Maio de 1949 - Termina o bloqueio.
30 de Setembro de 1949 - Termina a ponte aérea, depois de os aviões ocidentais terem transportado 1,6 milhões de toneladas de géneros alimentares e abastecimentos diversos.
[...]
27 de Novembro de 1958 - Kruschev lançou o seu "ultimatum" sobre Berlim, exigindo que a zona ocidental seja desmilitarizada e transformada em zona livre", dentro de seis meses.
28 de Novembro de 1958 - É rejeitado o "ultimatum".
28 de Maio de 1959 - Termina o prazo concedido por Kruschev no seu "ultimatum" e nada sucede.
[...]
13 de Agosto de 1961 - A Alemanha do Leste bloqueia a sua fronteira com a zona ocidental de Berlim.
15 de Agosto de 1961 - A Alemanha do Leste põe em vigor restrições no trânsito entre a zona russa de Berlim e o sector ocidental da cidade. (ANI)     ("Novidades", Lisboa, 76 (21.777) 17 Ago. 1961, p. 8, col. 5).
Em Novembro de 1989, verificaram-se os grandes acontecimentos que levariam, em breve, à destruição do muro. No dia 9 desse mês e ano, foi decidido abrir a fronteira entre o Leste e o Oeste, decisão que levou milhares de berlinenses orientais a passarem para o lado ocidental e a dar começo ao derrube do muro.
Segundo disse Rudolf Seiters, ministro de Estado da República Federal Alemã, através da rádio, "o muro não pode  sobreviver, o socialismo está  no fim e o avanço no sentido da liberdade‚ imparável" ("Diário de Leiria", Leiria, 3 (632) 11 Nov. 1929, p. 12, col. 3).
E em comentário a esta decisão, noticiava-se: "Após 28 anos de proibição de viajar, as autoridades de Berlim levantaram quinta-feira [9 de Novembro de 1989] as restrições da passagem para Ocidente, numa viragem política que deu origem a cenas de grande júbilo, durante toda a noite" (ibidem).
                                                                                                                                                                                                                                                                               II – HISTÓRIA DAS OFERTAS AO SANTUÁRIO DE FÁTIMA
Depois de começar a destruição do muro (9 de Novembro de 1989), começaram a chegar ao Santuário de Fátima fragmentos do mesmo:
1 - A 26 de Fevereiro de 1990, Cláudio Teodoro Spies, professor de arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, ofereceu um pequeno fragmento dentro de um cálice de vidro, atado com uma fita com as cores alemãs, e assinou a seguinte declaração: "Certifico que esta pedra foi retirada do muro de Berlim, e que tenho muito gosto em oferecer a Nossa Senhora de Fátima, como prova da minha devoção e que brota do meu desejo de que todos os homens sejam livres.
Fátima, 26 de Fevereiro de 1990. a) Cláudio T. Spies". (Santuário, Museu)
2 - Nos princípios de Julho de 1990, foi entregue no Santuário um pequeno pacote com seis fragmentos e a seguinte declaração: "Eu conheci o "Muro de Berlim", dos dois lados, antes de derrubado. Agora também o conheci, quando ele estava a ser derrubado. Agradeço a Maria a graça concedida pela "derrubação" do "Muro de Berlim". Estas pedras foram tiradas por mim, e ofereço a Maria em prova de agradecimento. Obrigado Mãe de Deus. V. F. Eu peço pela paz do Mundo. Amen".
Há  uma declaração do Reitor do Santuário: "Encontrei sobre a minha Secretária há  uns 15 dias. 90.07.24 - P. Luciano Guerra, reitor".
Pela caligrafia e iniciais V. F., estes fragmentos foram oferecidos por Virgílio Ferreira, que a seguir se refere.
3 - Virgílio Casimiro de Sousa Ferreira, de 38 anos (em 1991), emigrante português, a residir na Alemanha, havia 23 anos (Theodor-Heuss-Strasse 5 - W-6750 KAISERSLAUTERN) pediu, a 26 de Setembro de 1990 ao antigo primeiro ministro da República Democrática Alemã, Dr. Lothar de Mazière, um grande fragmento do Muro de Berlim, como lembrança da reunificação da Alemanha, para ser colocado no Santuário de Fátima, em Portugal.
Adquirido por subscrição de um grupo de portugueses, dirigidos por Virgílio Ferreira, esse fragmento com o peso de 2.600 quilos, 3,60 metros de altura e 1,20 metros de largura, foi transportado para Fátima, com o apoio do Consulado-Geral de Portugal em Frankfurt e do Centro de Turismo Português de Frankfurt. Foi desalfandegado na delegação aduaneira de Alverca, da Alfândega de Lisboa, no dia 4 de Março de 1991, sob o nº de ordem 0186657, e chegou ao Santuário, no dia seguinte, às18h.
4 - O mesmo Virgílio Ferreira pretendeu que fosse integrado no lote das prendas a oferecer ao Santo Padre, por ocasião da sua peregrinação ao Santuário, a 13 de Maio de 1991, um terço feito com pedaços de betão do muro de Berlim (cf. recorte de um jornal não identificado - “Correio da Manhã”? - de 13 de Maio de 1991).
"Esse terço - explica o ofertante - simboliza para mim a unificação da Alemanha e o agradecimento a Deus e a Maria por tal acontecimento. O terço foi construído com pedras do "Muro de Berlim", tiradas por mim (Avé Marias). Além disso, as últimas Avé-Marias, Salve Rainha e a Cruz foram construídas de bocados do rolo que o muro levava em cima encaixado, por isso se explica a Cruz ser um pouco convexa".
Foram pedidas ao "Ministerpräsident" Dr. Manfred Stolpe, de Potsdam (cf. fotocópia da cópia da carta enviada a 15 de Abril de 1991, no Arquivo do Santuário de Fátima (ASF), 1J3.2 (Muro de Berlim, 1991).
"As Glórias, essas representam os cinco novos Estados da Alemanha, ou seja cada "Glória" representa um Estado" (ASF, Carta ao Santo Padre, datada de Setembro de 1991, 1J3.2 (Muro de Berlim), Set. 1991).
Para a confecção das "Glórias", Virgílio Ferreira escreveu, a 15 de Abril de 1991, ao "Ministerpräsident" de cada um dos cinco novos estados da Alemanha (Sachsen-Anhalt, Mecklenburg-Vorpommern, Thüringen, Brandenburg e Sachsen), pedindo uma pequena pedra do palácio governamental, o que foi concedido por todos (cfr. fotocópias das cartas de resposta: ASF, 1J3.2, Muro de Berlim, 1991).
A imprensa portuguesa noticiou estas diversas ofertas. Há recortes no Arquivo de Imprensa e cópias no referido "dossier".
5 - A 22 de Setembro de 1991, o Sr. Virgílio Casimiro de Sousa Ferreira escreveu para o Santuário (Pe. António Lopes de Sousa), informando ter entregado o terço em Fátima ao sr. Francisco [Pereira de Oliveira], porque, nas duas vezes em que veio a Fátima, não lhe fora possível encontrar o Reitor nem o Padre Sousa. Na mesma carta, informava que tinha estado na Nunciatura de Lisboa e falara com o Padre Heitor [Calovi] sobre a possibilidade de enviar o terço por intermédio da peregrinação dos servitas a realizar no dia 13 de Novembro do mesmo ano. Solicitava uma resposta do Padre Sousa ou do Reitor sobre o assunto. Na mesma carta, o Sr. Virgílio Ferreira descrevia o terço e a sua história, informando que tinha enviado as fotocópias da correspondência trocada com os ministros presidentes dos novos estados integrados na República Federal da Alemanha (cf. nº 4). 
6 - O Reitor do Santuário respondeu que tinha examinado o "precioso terço e, pensando bem no seu significado em relação aos acontecimentos verdadeiramente extraordinários operados nos países do Leste, que tudo leva a crer estão relacionados com a Mensagem de Fátima", veio-lhe à lembrança "a ideia de que este terço ficaria muito bem aqui neste Santuário, a perpetuar tais acontecimentos". Por isso, colocava o assunto à sua consideração, isto é "se este terço poderia ficar aqui, e preparar outro para oferecer ao Santo Padre".
7 - Não sei se foi recebida resposta a esta carta.
8 - O segmento do "Muro de Berlim" está a ser colocado, junto da entrada nascente do recinto do Santuário, prevendo-se a sua inauguração a 13 de Agosto de 1994.
Santuário de Fátima, 15 de Junho de 1994
 

III – O MURO DE BERLIM EM FÁTIMA
No passado dia 13 de Junho, perante os cardeais, reunidos no consistório extraordinário, por ele convocado, o Santo Padre João Paulo II falou, uma vez mais, de Fátima, declarando, nomeadamente, que os dois momentos em que mais sentiu a protecção de Nossa Senhora foram o dia do atentado da praça de S. Pedro, a 13 de Maio de 1981, e o do começo da demolição do muro de Berlim, a 9 de Novembro de 1989.
É muito significativo que estejam agora no Santuário de Fátima dois monumentos evocativos desses dois dias.
Na coroa preciosa de Nossa Senhora de Fátima, da Capelinha das Aparições, está engastada a bala que foi retirada do corpo do Papa e foi oferecida no dia 25 de Março de 1984 ao Santuário.
Num belo monumento, construído recentemente, junto duma das entradas do lado nascente do Santuário, encontra-se agora um segmento do muro de Berlim, cuja história vamos contar.
Esse muro começou a ser construído por ordem das autoridades do sector oriental da cidade, na noite de 12 para 13 de Agosto de 1961. Era mais um símbolo odioso da divisão entre o leste e o oeste, que havia de durar 28 longos anos. A 9 de Novembro de 1989, foi decidido abrir a fronteira e começou o derrube do muro, facto que deu origem a imensas cenas de júbilo, em todo o mundo.
Depois de começar a destruição do muro, começaram a chegar ao Santuário de Fátima fragmentos do mesmo.
A 26 de Fevereiro de 1990, Cláudio Teodoro Spies, professor de arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, ofereceu um pequeno fragmento dentro de um cálice [de vidro], atado com uma fita com as cores alemãs, e assinou a seguinte declaração: "Certifico que esta pedra foi retirada do muro de Berlim, e que tenho muito gosto em oferecer a Nossa Senhora de Fátima, como prova da minha devoção e que brota do meu desejo de que todos os homens sejam livres".
Nos princípios de Julho de 1990, foi entregue no Santuário um pequeno pacote com seis fragmentos e a seguinte declaração: "Eu conheci o "Muro de Berlim", dos dois lados, antes de derrubado. Agora também o conheci, quando ele estava a ser derrubado. Agradeço a Maria a graça concedida pela "derrubação" do "Muro de Berlim". Estas pedras foram tiradas por mim, e ofereço a Maria em prova de agradecimento. Obrigado Mãe de Deus. V. F. Eu peço pela paz do Mundo. Amen". Pela caligrafia e iniciais veio-se a reconhecer, mais tarde, que estes fragmentos foram oferecidos por um emigrante português na Alemanha. De facto, trata-se do sr. Virgílio Casimiro de Sousa Ferreira, a residir em Kaiserslautern, desde 1967. A 26 de Setembro de 1990, pediu ao antigo primeiro ministro da República Democrática Alemã, Dr. Lothar de Mazière, um grande fragmento do Muro de Berlim, como lembrança da reunificação da Alemanha, para ser colocado no Santuário de Fátima em Portugal.
[Adquirido por subscrição de um grupo de portugueses,] esse fragmento com o peso de 2.600 quilos, 3,60 metros de altura e 1,20 metros de largura, foi transportado para Fátima, com o apoio do Consulado-Geral de Portugal em Frankfurt e do Centro de Turismo Português de Frankfurt e chegou ao Santuário no dia 5 de Março de 1991.
O mesmo emigrante quis oferecer ao Santo Padre, por ocasião da sua peregrinação ao Santuário, a 13 de Maio de 1991, um terço feito com pedaços de betão do muro de Berlim.
“O terço foi construído com pedras do "Muro de Berlim", tiradas por mim (Avé Marias). Além disso, as últimas Ave-Marias, a Salve Rainha e a Cruz foram construídas de bocados do rolo que o muro levava em cima, encaixado, por isso se explica a Cruz ser um pouco convexa".
[Foram pedidas ao "Ministerpräsident" Dr. Manfred Stolpe, de Potsdam].
As cinco Glórias representam os cinco novos Estados da Alemanha. Para a sua confecção, Virgílio Ferreira obteve do "Ministerpräsident" de cada um dos cinco novos estados da Alemanha (Sachsen-Anhalt, Mecklenburg-Vorpommern, Thüringen, Brandenburg e Sachsen),uma pequena pedra do palácio governamental.
O Reitor do Santuário, pensando no significado do terço em relação aos acontecimentos verdadeiramente extraordinários, operados nos países do Leste, que tudo leva a crer estão relacionados com a Mensagem de Fátima, sugeriu que este terço ficasse no Santuário, a perpetuar tais acontecimentos.
Que esta presença seja uma chamada para uma ligação afectiva entre o Leste Europeu e o Ocidente, à luz da mensagem de Fátima. (“Voz da Fátima”, Fátima, 72 (862) 13 Jul. 1994, p. 3, cols. 2-4).
 
IV – INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO DO MURO DE BERLIM
(Discurso pronunciado no acto da inauguração do monumento do muro de Berlim, junto da entrada nascente do Santuário de Fátima, a 13 de Agosto de 1994, pelas 15 horas.)
Estava-se em Outubro de 1945, poucos meses depois do termo da segunda guerra mundial.
No dia 11 desse mês, um pároco de Berlim, em nome de todos os seus colegas, escrevia para o Embaixador da França na Santa Sé Jacques Maritain, a propor que uma imagem de Nossa Senhora de Fátima percorresse o Ocidente Europeu, "tão abalado e tão cruelmente destruído por uma guerra abominável. Seria um acontecimento inaudito que Nossa Senhora partisse de Fátima e percorresse todas as capitais e as cidades episcopais da Europa até à fronteira da Rússia, para abençoar este país. Talvez então chegasse o momento em que a Rússia A aceitasse de boa vontade, país com que a Santíssima Virgem tanto se preocupa...".
E propunha o ano de 1947 (30º aniversário das aparições de Fátima) para o início dessa peregrinação.
De facto, independentemente desta sugestão, vieram as iniciativas da Juventude Católica Feminina Portuguesa e de um padre belga que promoveram, precisamente em 1947, a ida de uma imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima até Maastricht, na Holanda, onde se realizou um Congresso Mariano, iniciando-se a extraordinária peregrinação desta e de outras imagens por todo o mundo, desde há  quase cinquenta anos.
Mas não era ainda chegado o momento de essa Imagem ir até Berlim. Acontecimentos graves foram-se registando na antiga capital alemã. O tratado de Berlim de 9 de Maio de 1945 significara o início da dominação comunista dos países do leste europeu. De facto, a pouco e pouco, a chamada "cortina de ferro" foi-se  tornando uma realidade cada vez mais dolorosa. A 23 de Junho de 1948, os comunistas iniciaram o bloqueio a Berlim oeste, que só terminou a 12 de Maio de 1949, por acordo dos "quatro grandes". Foi um acordo precário, porque, nove anos depois, a situação voltou a agravar-se: a 27 de Novembro de 1958, Kruschev lançou um "ultimatum" sobre Berlim, exigindo que a zona ocidental fosse desmilitarizada e transformada em zona livre. Finalmente, a 13 de Agosto de 1961, a Alemanha do Leste bloqueava a sua fronteira com a zona ocidental de Berlim e iniciava medidas de restrição severas ao trânsito. (Cf. ANI - "Novidades", Lisboa, 76 (21.777) 17 Ago. 1961, p. 8, col. 5).
Eis como as agências noticiaram os acontecimentos daquela noite de 12 para 13 de Agosto de 1961, quando em Fátima se fazia a vigília de adoração nocturna, num momento também difícil para Portugal, envolvido, desde Fevereiro, na guerra colonial.
«Berlim, 13 [de Agosto de 1961] - Para fechar hermeticamente a fronteira entre Berlim-este e Berlim-oeste, foram colocados cavalos de frisa e fios de arame farpado ao longo. A estrada está praticamente cortada aos refugiados. A maior parte dos pontos de passagem, entre as duas partes da cidade, estão severamente guardadas pela Polícia Popular que patrulha com metralhadoras à bandoleira. Apenas 13 postos fronteiriços continuam abertos entre as duas zonas de Berlim, e mesmo esses são controlados pela polícia armada. Há  grande número de estações do metropolitano encerradas. As que continuam abertas estão guardadas e o tráfego‚ controlado, de modo que é impossível a qualquer alemão da zona oriental vir à zona ocidental, sem passar pelo dispositivo colocado pelos comunistas.- (F.P.- "Novidades", Lisboa, 76 (21.775) 14 Ago.1961, p. 6, col. 4).
Com o passar dos anos, aquela divisória foi-se tornando mais forte, apertando Berlim ocidental numa cintura de betão, fortemente vigiada e impeditiva do trânsito de um lado para outro, sobretudo do leste para o ocidente. Mesmo assim, muitos tentaram, pagando com a vida o sonho de alcançarem a liberdade.
Vou referir um facto que talvez seja desconhecido de muitas pessoas. Aquela imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, que tinha iniciado o seu percurso mundial, no dia 13 de Maio de 1947, e nunca pudera aproximar-se da cortina de ferro, fez em 1978 uma grande viagem à volta do Mundo. Passou também pela Hungria, sobrevoou a Checoslováquia, esteve em Varsóvia, Chestochowa e em Berlim Oeste. No dia 8 de Maio desse ano, véspera do 33º aniversário do tratado que determinara o isolamento da parte ocidental da cidade, aquela imagem pedida em 1945, por um pároco de Berlim, chegava junto do "muro da vergonha", em frente do antigo edifício do Reichstag, onde uma série de cruzes e muitas flores assinalavam o local onde muitos sucumbiram.
Uma testemunha presencial relata assim aquele momento inesquecível: "Uma grua, por detrás do muro, reforçava-o, do lado comunista. Por detrás, numa torre de vigia, podíamos ver os guardas vermelhos. Os nossos quatro padres seguravam a Imagem e voltaram-na em todas as direcções, enquanto recitávamos o terço e enquanto a grua trabalhava, fazendo barulho, reforçando o muro que separava a escravidão da liberdade. Muitos desejavam ver o muro despedaçado, mas a 8 de Maio [de 1978] estava a ser tornado mais forte, mais intransponível [...]. Valeu a pena todo o sacrifício. Tínhamos vindo ali com o símbolo da Rainha do Mundo, que, na altura em que se dava a revolução comunista russa, prometeu que, se os seus pedidos fossem ouvidos, a Rússia se converteria e haveria paz". (Soul, 29 29 (4), Jul.-Ago. 1978, p. 14-15).
Aquele ano de 1978 foi o ano em que um Papa, vindo do Leste Europeu, foi chamado à cadeira de S. Pedro em Roma. Só por si, esse facto já era prenúncio de novos e esperançosos acontecimentos. E, de facto, eles foram surgindo: o atentado da Praça de S. Pedro, em 13 de Maio de 1981, e a peregrinação do Papa a Fátima, no ano seguinte; a consagração do Mundo e da Rússia ao Imaculado Coração de Maria, na mesma Praça de S. Pedro, no dia 25 de Março de 1984, em que o Papa ofereceu ao Santuário de Fátima uma das balas que o atingiram e agora se encontra na coroa preciosa de Nossa Senhora; logo a seguir, o começo da grande abertura em todos os países do leste europeu para a liberdade política e religiosa.
Até que, em 1989, se dá um facto que está na raiz da nossa presença neste lugar. Depois de alguns dias de intenso êxodo de muitos milhares de pessoas daqueles países para o Ocidente, eis que surge a grande notícia, cheia de um simbolismo profundo: a 9 de Novembro, 28 anos depois do início da construção do muro, foi decidido abrir a fronteira de Berlim, entre o Leste e o Oeste, e milhares de berlinenses orientais passaram para o lado ocidental. Começava o derrube do muro odioso.
Na vizinha Espanha, foi lembrada, então, uma curiosa coincidência. Segundo a tradição, os cristãos, com receio dos invasores  árabes, tinham escondido uma velha imagem de Nossa Senhora na muralha de Madrid. Três séculos e meio mais tarde, quando a cidade foi conquistada, fez-se uma novena de orações e, no fim dela, uma procissão. Quando esta chegou ao lugar onde antes tinha estado a referida imagem, "caíram espontaneamente as pedras da parede da muralha e apareceu o nicho com a prodigiosa imagem". Era precisamente o dia 9 de Novembro do ano de 1083, e a imagem começou a chamar-se "Nossa Senhora de Almudena"  (J. A. SANCHEZ PEREZ - El culto mariano en España, Madrid, Consejo Superior de Investigaciones Científicas,1943, p. 25).
No derrube do muro de Berlim, no dia 9 de Novembro de 1989, não apareceu nenhuma imagem de Maria. Mas Nossa Senhora estava presente. Foi o cardeal Meisner, antigo bispo de Berlim e actual [arcebispo] de Colónia, quem o disse, quando esteve em Fátima a 13 de Maio de 1990: "Partindo de Fátima, Nossa Senhora pôde iniciar [em 1917] a sua tarefa de levar Cristo de novo à Europa. Na Rússia e em outros países do leste europeu, a fé‚ em Cristo era quase proibida. Os povos da Europa Oriental que tanto veneram Maria, pouco lugar lhe podiam dar, pois o ateísmo tinha ocupado todas as esferas das suas vidas. Por isso, Maria partiu de Fátima para ajudar os atribulados discípulos do seu Filho, nos países comunistas da Europa do Leste [...]".
E falando da sua experiência de ter vivido 40 anos num país marxista, o Cardeal Meisner acrescentou: "O ateísmo proposto pelo estado da República Democrática Alemã, até 1989, era uma sombra escura, debaixo da qual tínhamos de viver. Neste sentido, ficámos intimamente ligados e aparentados aos cristãos dos outros países ateus da Europa do Leste".
E, depois de agradecer a Maria a libertação, o Cardeal alemão terminava: "Para que a liberdade exteriormente conquistada faça também com que os homens sejam interiormente livres, dirigimos hoje a nossa súplica a Maria. Porque, se o homem se libertou do seu explorador exterior, ainda hoje não está  liberto de si próprio. O homem tem que libertar-se primeiro de si próprio, para encontrar Cristo e a Sua missão na Igreja e no mundo. Procurar e encontrar o Senhor ‚ a tarefa da Europa Ocidental e Oriental!".
Mais recentemente, a 13 de Junho de 1994, também João Paulo II aludiu, claramente, aos acontecimentos do Leste, em ligação com Fátima. Foi na abertura do V Consistório Extraordinário da Colégio Cardinalício, para a preparação do grande Jubileu do Ano 2000: "A mim pessoalmente foi dado compreender, de modo particular, a mensagem de Nossa Senhora de Fátima: a primeira vez, no dia 13 de Maio de 1981, no momento do atentado à vida do Papa; depois ainda, no final dos anos oitenta, por ocasião da derrocada do comunismo nos Países do bloco soviético. Penso que se trate de uma experiência bastante transparente para todos. Temos confiança que a Virgem Santa, que caminha à frente do Povo de Deus peregrinante, através da história, há -de ajudar-nos a superar as dificuldades que, depois de 1989, não têm de modo algum deixado de estar presentes nas nações da Europa e dos outros continentes" (“L´Osservatore Romano”, ed. sem. em port., 25 (25 1280) 18 Jun. 1994, p. 8 344).
O Sr. Virgílio Casimiro de Sousa Ferreira, emigrante português a residir na Alemanha, pediu e conseguiu um segmento do Muro de Berlim, como lembrança da reunificação da Alemanha, para ser colocado no Santuário de Fátima.
Esse segmento, com o peso de 2.600 quilos, 3,60 metros de altura e 1,20 metros de largura, foi transportado para Fátima, com o apoio do Consulado-Geral de Portugal e do Centro de Turismo Português de Frankfurt, e chegou ao Santuário no dia 5 de Março de 1991.
O mesmo emigrante quis oferecer ao Santo Padre, por ocasião da sua peregrinação ao Santuário, a 13 de Maio de 1991, um terço feito com pedaços de betão do muro de Berlim. As cinco Glórias representam os cinco novos Estados da Alemanha reunificada e foram confeccionadas com pedras dos palácios governamentais de cada um desses estados, oferecidas pelos respectivos presidentes.
O Reitor do Santuário de Fátima, pensando no significado do terço, em relação aos acontecimentos verdadeiramente extraordinários operados nos países do Leste, que tudo leva a crer estão relacionados com a Mensagem de Fátima, sugeriu e obteve o consentimento que este terço ficasse no Santuário, a perpetuar tais acontecimentos.
Que esta presença seja uma chamada para uma ligação afectiva entre o Leste Europeu e o Ocidente, à luz da mensagem de Fátima.
Pe. Luciano Cristino

V – ADITAMENTO SOBRE O SEGMENTO DO MURO DE BERLIM 
No dia 17 de Novembro de 1995, veio ao Santuário de Fátima o embaixador de Portugal, no Zaire, João Carlos Versteeg, acompanhando o primeiro ministro daquele país. Tendo recebido, em tempos, correspondência de Mons. Reitor, a propósito do segmento do muro de Berlim que se encontra no Santuário, veio prestar algumas informações acerca deste assunto.
Foi ele que, quando era cônsul-geral de Portugal em Frankfurt, colaborou no desbloqueamento  do assunto da vinda do referido segmento para Portugal. Disse-nos que a 25 de Abril de 1974, era secretário da embaixada portuguesa em Bonn. Com a abertura de negociações diplomáticas de Portugal com os países do Leste Europeu, foi colocado na Embaixada de Portugal em Berlim Leste, então República Democrática Alemã. Por isso conheceu muito bem a realidade do Muro. Esclareceu-nos que o segmento do muro terá vindo da Fridrichstrasse, junto da porta oposta à célebre passagem “Check-Point” e não na Friedenstrasse (Rua da Paz), como nos terá dito o Sr. Virgílio Ferreira, que teve a ideia da vinda do bloco para Fátima.
Já em Frankfurt, depois de ter verificado e assegurado que não se tratava de nenhuma provocação, interferiu para que se resolvesse o problema do levantamento e transporte. Quanto a este, obteve a colaboração do Eng. Moura, então director do Centro Português de Turismo em Frankfurt (actualmente aposentado e proprietário de uma residencial em Albufeira - Algarve).
Aproveitando o regresso de um camião que foi levar uns quiosques para a Feira de Turismo em Berlim, foi transportado nele o bloco e chegou ao Santuário no dia 5 de Março de 1991. Foi feito um monumento com esse muro, projectado pelo Sr. Arquitecto Carlos Loureiro, e inaugurado no dia 13 de Agosto de 1994.
O Sr. Dr. João Carlos Versteeg, actual embaixador de Portugal no Zaire, deu-nos também algumas informações sobre a Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Kinshasa, que fica defronte da Embaixada, Rue des Aviateurs, 270 - Kinshasa. Vamos pedir mais elementos.
Santuário de Fátima, 17 de Novembro de 1995
Pe. Luciano Cristino
Director do SESDI
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