12 de outubro, 2007

Dia 11

O milagre do sol foi revisto do ponto de vista apologético mas também simbólico como factor de credibilização dos acontecimentos e da mensagem de Fátima. Com efeito, o milagre do sol tornou-se uma espécie de prova pública, o que não evitou mesmo a incredulidade de alguns membros da Igreja Católica. Neste sentido, o milagre do sol fez a diferença na medida em que fez a diferença ao proporcionar a credibilidade pública do acontecimento.
Foi notado como este milagre do sol, tão conhecido na história de Fátima, acabou por atenuar a acentuação mariana das aparições para a recentrar na perspectiva cristológica e trinitária, da qual o sol pode ser e é símbolo. Este milagre também foi o responsável por fazer de Fátima um acontecimento mediático, ao fazer passar para os jornais um acontecimento localizado. Pela fotografia, pela rádio e pelos jornais, Fátima passou ao mundo mediático.
Foram também apenas referidas algumas críticas aos acontecimentos, críticas ao próprio milagre de sol, acusado de ser uma crendice ou uma invenção. As teses ovniológica (seria um fenómeno extra-terrestre), psicológica (tudo seria fruto de alucinações), sincretista (mistura de simbologias totémicas), islamita ou a tese de complot (segundo a qual tudo seria fruto de um estratagema e de uma invenção do clero) foram apenas referidas como críticas perante um sinal que nunca deixou de o ser. Por isso, o milagre do sol enquanto tal passou depois para o domínio do milagre da interpretação desse mesmo sinal. Então o milagre também se dá ao nível da hermenêutica, pois só é possível por uma mudança do olhar no seio de uma experiência holomística. O milagre está então na interpretação, muito mais do que o sinal.
Esta perspectiva foi revista na intervenção seguinte de Günther Stolze ao apresentar o milagre do sol como um fenómeno atmosférico explicável no micro clima da Cova da Iria. O milagre do sol constitui em primeiro lugar um milagre atmosférico, metereológico. O que lhe confere credibilidade é o facto completamente inusitado e inesperado de ter sido anunciado três meses antes em 13-07-1917. Além disso, há que considerar que este acontecimento surge como inusitado porque é fruto de uma inteligência superior, ainda que prepare os Pastorinhos três meses antes.
Na seguinte intervenção, o actual reitor do Santuário revisitou o chamado “século breve” (1917-1989) apenas nos seus momentos mais significativos. Foi destacado o papel marcante que a ideologia comunista assumiu ao longo do séc.XX, fenómeno que está associado e referenciado na mensagem de Fátima com a referência explícita à Rússia. A violência deste regime totalitário compagina-se com a terceira parte do chamado “segredo” de Fátima, pois foi responsável pela maior perseguição que alguma vez houve na história aos cristãos. O reitor do santuário chamou a atenção para o facto que na actualidade, no início do terceiro milénio a “Rússia” continuar no fosso criado entre o Ocidente e o Islão, nas novas fronteiras entre regimes totalitários e os países democráticos. A violência continua, por isso a Rússia do segredo continua activa, na medida em que muitos países não se libertaram da ideologia marxista, continuando a viver e a organizar-se segundo uma ideologia que pretendem impor à sociedade.
Para a actualidade, o reitor do Santuário considerou muito importante para o Apostolado de Fátima a incidência no centro da mensagem cristã (de que Fátima é eco), sobretudo no papel da Santíssima Trindade para a fé, no facto de que com Fátima Deus continua a ser crido como existente, no lugar dado à santíssima Eucaristia, no contributo do Rosário para a piedade e para a oração, na mediação angélica na vida cristã, e na contínua reconfiguração do céu e do inferno, continuamente presentes na vida cristã. Considerou por último que esta perseverança da mensagem cristã sobrevive e sobreviverá em íntima união com a hierarquia da Igreja enquanto sinal da autoridade da mesma. Isto, afinal, são ecos e reflexos da própria mensagem de Fátima, cuja actualidade persiste hoje como ênfase do núcleo central da fé cristã e como releitura reactualizante da profecia evangélica.
Da parte da tarde, o postulador da causa de canonização dos Pastorinhos descodificou as causas e os sinais da santidade dos Pastorinhos. A sua santidade foi apresentada à luz da nova concepção da santidade de acordo com a Lúmen Gentium. A santidade não é então um objectivo exclusivo para iluminados ou sobredotados, mas antes consiste na união com o próprio Cristo, uma oportunidade disponível para qualquer baptizado. Esta é a especificidade da santidade, a capacidade em conduzir uma existência segundo o Espírito de Cristo. Ora, os Pastorinhos percorreram esta estrada. Foi isto que os tornou santos, e não o facto de serem objecto de uma aparição. A graça de Deus não é automática. Não foram as aparições que os fizeram santos, mas o seu acolhimento da palavra de Deus através das aparições marianas e no timbre materno de Maria.
Foi chamado à atenção que a santidade é a vivência potenciada da nossa condição humano-cristã, logo acessível a todos. Assim, os Pastorinhos comportaram-se e viveram a santidade, o desafio à santidade precisamente como crianças que nunca deixaram de ser. Nessa condição, desenvolveram uma grande intimidade com Deus. Como qualquer criança da época aprenderam o catecismo. Pertenceram a famílias profundamente cristãs, nas quais já se rezava o rosário. Não estranharam então a mensagem do Anjo. Já se ajoelhavam em casa para rezar a Deus. Limitaram-se a repetir o que fez o Anjo por três vezes, ajoelharam-se até ao chão em adoração da Santíssima Trindade. A diferença consiste em que estas crianças ao ajoelharem-se fizeram-no de modo novo: Deus solicitava-lhes tomar parte no seu projecto de aliança com o mundo, com a humanidade. Quando o Anjo lhes oferece o cálice com isso tomam parte na própria obra de Deus. A partir daí Francisco e Jacinta começaram a querer participar mais na eucaristia, numa época em que inclusive alguns bispos tinham resistência em conceder a sagrada comunhão a crianças (ao contrário do que exortava e pedia S. Pio X). Quando em 13-07-1917 Nossa Senhora pede aos Pastorinhos para oferecer as suas vidas em sacrifício pelos pecadores, para se sacrificarem pelos pecadores, a partir daí os Pastorinhos intensificaram a prática do sacrifício pelos pecadores. Por isso, não são as aparições que fazem os santos, mas são-no porque correspondem à graça que lhes foi concedida pelas aparições. Deus manifesta-se livremente a quem quer, como quer e quando quer. Isso não torna aqueles que são objecto das aparições automaticamente santos.
Foi salientado um outro sinal da santidade dos Pastorinhos: fixaram-se nas palavras da Senhora, permaneceram fiéis e perseveraram na oração, mesmo quando não era fácil ou possível. Esta resistência foi um sinal da sua coerência e fidelidade à mensagem recebida. Foi este reconhecimento que originou ao reconhecimento da sua santidade. Assim, Francisco e Jacinta desenvolveram uma grande intimidade com Deus, cada um como criança que era e segundo a sua sensibilidade. Francisco é muito mais meditativo, prefere ficar junto a Nosso Senhor para o acompanhar no sofrimento. Ora, isto é perfeitamente humano, pois qualquer criança quer ficar junto de quem ama quando essa pessoa está a sofrer. Uma criança intui isto perfeitamente. Jacinta, por seu lado, faz um grande sacrifício quando fica isolada em sofrimento no hospital em Lisboa. Aí, oferece o seu sacrifício em reparação pelos pecadores e une-se por essa via a Jesus sofredor sozinho na cruz, que morre para salvar os pecadores. Apesar destas particularidades pessoais, ambos mantêm uma familiaridade muito grande com o Senhor, falando numa linguagem muito coloquial, como é próprio das crianças. Isto revela como para os Pastorinhos a oração era um verdadeiro colóquio, uma comunhão de vida, não um balbuciar formal de fórmulas ou jaculatórias.
Por fim foi referida a grande fé dos Pastorinhos na eucaristia. Todos estes sinais fizeram dos Pastorinhos beatos. Por vezes, estas características são esquecidas, como foi referido.
O secretário de João Paulo II, cardeal Stanislaw Dziwisz enviou o seu testemunho escrito da vivência real e da participação no atentado ao Papa em 13-05-1981. Narrou ao detalhe a sucessão dos acontecimentos, bem como a sua incredulidade perante o acontecido, face ao dramatismo e urgência da situação que levou o próprio Sumo Pontífice a correr sério perigo de vida. Dos vários momentos, o Sr. Cardeal Dziwisz destacou a oração constante do Papa João Paulo II ferido durante a viagem da praça de S. Pedro até ao hospital, rezando confiadamente a Jesus e a sua Mãe Maria Santíssima. Durante a convalescença leu a terceira parte do segredo e aí começa a releitura da sua vida e da história do séc.XX.
De seguida, o actual secretário da Congregação para a Doutrina e Defesa da Fé, Mons. Ângelo Amato, expôs a releitura de João Paulo II dos acontecimentos de Fátima enunciados a partir da terceira parte do segredo de Fátima. Mostrou como esse documento influenciou sobremaneira toda a actividade pastoral do Papa polaco levando-o a escrever bastante sobre o papel de Maria na sua vida e na vida da Igreja, ao ponto de poder ser hoje considerado um Doctor Marialis. Decisivo para João Paulo II unir os acontecimentos de Fátima com a sua vida foi a própria surpresa causada por tudo aquilo que aconteceu àquelas três crianças na Cova da Iria. De facto, também João Paulo II conclui logicamente que não seria possível que três crianças analfabetas pudessem ter concluído e decifrado um papel tão importante da Rússia ao longo do século XX, pois nem sequer conheciam essa terra nem tinham qualquer perspectiva do confronto das ideologias que estava em jogo.
Depois deste contexto inicial, Mons. Ângelo Amato privilegiou o conteúdo da mensagem do segredo de Fátima nas suas três partes fundamentais: a primeira parte sobre o inferno, a segunda sobre as palavras de Nossa Senhora, e a terceira a visão do terceiro segredo em 13-07-1917 onde entram várias personagens, sobretudo a de um anjo que repete por três vezes “penitência, penitência, penitência”. Esta insistência foi apresentada como a continuidade do anúncio do próprio evangelho de Marcos que começa precisamente com o anúncio de que o reino de Deus chegou, sendo pedido aos destinatários que se convertam e que se arrependem. Neste sentido, esta advertência constitui uma mensagem perfeitamente actual, como é a mensagem do evangelho, mostrando assim que a mensagem de Fátima constitui por si mesma uma reactualização da profecia. Daí o seu alcance universal e a projecção que adquiriu. Esta mesma actualidade e esta mesma projecção ganharam mais credibilidade ao longo e com a vida de João Paulo II que a confirmou magisterialmente.
Neste momento, Mons. Ângelo Amato coloca a questão da autenticidade do segredo a partir da vivência e da releitura que João Paulo II fez do mesmo. Depois de tudo o que lhe aconteceu, João Paulo II procurou a autenticidade do segredo consultando o texto da terceira parte do segredo. Mas isso não seria suficiente. Por isso, para que a sua leitura fosse credível questionou a própria Irmã Lúcia, o seu agressor e a secretaria de estado do Vaticano. Decisiva foi a conversa com a Irmã Lúcia, mediada pelo seu enviado Sr. Cardeal Tarcísio Bertone. Nessa conversa, a Irmã Lúcia confirmou que a terceira parte do segredo de Fátima era de facto uma profecia sobre o Santo Padre e sobre a violência à Igreja acontecida ao longo do século XX. Confirmou igualmente que a referência ao homem vestido de branco é uma referência ao Papa. Confirmou igualmente que a bala foi desviada pela mão materna da Mãe de Deus Maria Santíssima evitando que o Papa morresse, pois à distância dos disparos a morte de Pontífice era mais do que certa. A sobrevivência de João Paulo II causou inclusive medo ao seu agressor que se deu conta que estavam em jogo forças maiores do que aquelas que ele conhecia e que não conseguiria dominar, temendo ser punido por isso. Quando foi questionada sobre a data de 1960 como data até à qual o segredo não deveria ser revelado, justificou essa opção como sendo uma opção pessoal. Confessou que Nossa Senhora não deu instruções nenhumas nesse sentido. Foi apenas fruto de uma intuição pessoal segundo a qual acreditava que tudo se cumpriria depois dessa data.
Em síntese, a vida de João Paulo II constitui uma hermenêutica da própria mensagem de Fátima, a qual por sua vez ajuda a entender o próprio pontificado do Papa que veio do frio.
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