24 de setembro, 2023

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“Deus busca-nos onde estamos, por mais perdidos que andemos”

Na homilia deste Domingo, o cardeal D. António Marto apontou o rumo da missão cristã à “escandalosa misericórdia” de Deus, “que quebra com todos os esquemas, cálculos e medidas humanas”.

 

O cardeal D. António Marto presidiu, hoje, à Missa deste XXV Domingo do Tempo Comum, na Cova da Iria. Aos peregrinos reunidos no Recinto de Oração do Santuário de Fátima o bispo emérito de Leiria-Fátima apresentou a misericórdia de Deus como guia para a vida cristã, nas comunidades, na família e no cuidado da casa comum, com vista a um mundo mais fraterno.

A partir da parábola do Senhor da Vinha, proclamada no Evangelho de hoje, o prelado começou por apresentar o relato como “uma imagem para da bondade, da escandalosa misericórdia e grandeza do coração e do amor de Deus, que quebra com todos os esquemas, cálculos e medidas humanas” e “não como uma lição de política salarial”.

“O centro da parábola está no anúncio da misericórdia escandalosa de Deus, porque é sem limites”, destacou o presidente da celebração, focando-se na ideia de “um Deus em saída”, presente no texto sagrado.

“Acreditamos num Deus que nos busca em cada momento, situação e época da vida e nos chama e oferece oportunidades para participar no seu amor e colaborar no serviço da sua vinha, símbolo do seu Reino de amor, justiça e paz. (…) Ele busca-nos onde estamos, por mais perdidos que andemos. Deus ama-nos, mesmo quando o desiludimos”, garantiu, ao convidar a assembleia a discernir sobre a forma como cada um pode ser reflexo, na vida quotidiana, desta misericórdia divina.

“À luz desta misericórdia de Deus, compreendemos a missão dos cristãos no mundo de hoje. Se as pessoas se encontram condenadas à partida, sentem as portas fechadas; ora, Deus convida-nos a termos as portas abertas do nosso coração a todos”, disse o bispo emérito de Leiria-Fátima, dando pistas de concretização prática desta “misericórdia de portas abertas a todos”.

“Em primeiro lugar, a misericórdia abre a porta do nosso coração às necessidades dos outros: aos seus problemas ocultos, escondidos; à pobreza material e espiritual; a todo o tipo de sofriment - de uma criança que sofre; de uma família em dificuldade; de um sem abrigo; de um jovem que não encontra sentido para a vida; de um idoso na solidão, esquecido e sem reconhecimento; de um refugiado migrante, sem apoio solidário”, exemplificou o cardeal D. António Marto, centrando-se, depois, na ação ideal das comunidades cristãs.

“Quando uma comunidade cristã acolhe as pessoas com delicadeza, atenção e as ama com atenção; quando cura as feridas, reconcilia, anima e encoraja a viver a vida boa do Evangelho, torna-se reflexo da misericórdia divina, no deserto da cultura da indiferença e da aridez dos corações que hoje se espalha”, lembrou o presidente da celebração, que lembrou a urgência da atenção pelas “famílias desavindas”, na cultura do “amor, da harmonia, do amor misericordioso e do perdão como estilo de vida entre os esposos, pais e filhos e irmãos”, e a importância do cuidado da casa comum, sobre o qual deu exemplos de ações concretas.

“Este cuidado manifesta-se em todas as ações que procuram construir um mundo melhor e sustentável, a começar por pequenos gestos de cada dia, como exemplifica o Papa Francisco: fazer uma utilização moderada do plástico e do papel; reduzir o consumo da água; diferenciar o lixo; cozinhar apenas aquilo que razoavelmente se pode comer; tratar com solicitude os outros seres vivos; usar os transportes públicos e partilhar o mesmo veículo; plantar árvores; apagar as luzes desnecessárias…”

No final, o cardeal D. António Marto convidou os peregrinos a consagrarem a vida pessoal a Nossa Senhora, para que Ela “ajude a acolher, viver e a transmitir a misericórdia de Deus, nas famílias, nas comunidades, na Igreja, pelo cuidado da casa comum e por um mundo mais fraterno”.

Em vésperas do início da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que decorrerá em Roma de 4 a 29 de outubro, os peregrinos reunidos no Santuário uniram-se em oração pela assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo com uma prece, na oração dos fiéis, pedindo pela “presença viva e atuante do Evangelho faça dela, a exemplo da vinha da parábola, um lugar vital onde todos os homens e mulheres que esperam encontrar um sentido para a vida, encontrem lugar, palavra, alento de esperança”.

Na conclusão, o bispo emérito de Leiria-Fátima saudou em particular os peregrinos do Rosário e da família dominicana, que hoje cumprem a sua peregrinação à Cova da Iria.

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