12 de julho, 2023

Padre Luís Kondor com a Irmã Lúcia

Decreto com as virtude heroicas da Irmã Lúcia vai ser lido pela primeira vez em Fátima

A leitura será feita pelo bispo diocesano de Coimbra, D. Virgilio Antunes e estará presente a vice-postuladora, Irmã Ângela Coelho, asm

 

O bispo de Coimbra, D. Virgilio Antunes, vai ler publicamente pela primeira vez, no dia 13 de julho em Fátima, o decreto que proclama as "virtudes heroicas" da Irmã Lúcia de Jesus, cuja promulgação foi autorizada pelo papa Francisco no passado dia 22 de junho.

A leitura acontecerá no inicio da Missa da Peregrinação Internacional Aniversária de julho, que celebra a 3ª aparição de Nossa Senhora, e na qual se revela o essencial do designado Segredo de Fátima.

A promulgação do decreto com as "virtudes heroicas" de Lúcia abre caminho à beatificação da irmã Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, a mais velha dos três videntes de Fátima e figura central no conhecimento e divulgação da Mensagem dirigida à humanidade por Nossa Senhora nas Aparições na Cova da Iria, em 1917, faltando agora um milagre.

Em outubro de 2022, o processo de beatificação e canonização da religiosa tinha conhecido um  desenvolvimento importante, com a entrega, no Vaticano, do documento sobre as virtudes heroicas.

No ato de entrega da ‘Positio Super Vita, Virtutibus et Fama Sanctitatis’ (sobre a vida, virtudes e fama de santidade), em Roma, estiveram presentes o cardeal Marcello Semeraro; o postulador geral da causa de canonização, padre Marco Chiesa; a vice-postuladora, irmã Ângela de Fátima Coelho; o relator, monsenhor Maurizio Tagliaferri; e a irmã Filipa Pereira, colaboradora da causa.

Este volume contém a biografia da Irmã Lúcia, feita a partir dos documentos recolhidos na fase diocesana do processo (que decorreu na Diocese de Coimbra entre 2008-2017); a ‘Informatio’ (informação), que descreve as virtudes vividas pela religiosa, bem como o elenco dos depoimentos das testemunhas, o seu Diário e outros documentos inéditos, “considerados relevantes no processo”.

Este documento foi analisado por um conjunto de nove teólogos que emitiram o seu parecer favorável sobre a prática das virtudes em grau heroico.

O parecer positivo do Dicastério para as Causas dos Santos foi apresentado ao Papa, que aprovou a publicação do respetivo decreto, passando a Irmã Lúcia, agora, a ser designada como venerável.

A Irmã Lúcia de Jesus nasceu a 28 de março de 1907, em Fátima, filha de Maria Rosa e António dos Santos. Dois dias depois foi batizada e aos 6 anos fez a sua Primeira Comunhão, na Igreja Paroquial. Aos 10 anos, com os primos S. Francisco e S. Jacinta Marto, foi agraciada com as aparições do Anjo de Portugal (1916) e da Virgem Maria (1917), em Fátima.

Após a morte dos primos, totalmente comprometida com a missão que recebeu da parte de Deus, através das mãos da Senhora do Rosário – Jesus quer servir-se de ti para me fazer conhecer e amar – Lúcia deixa a sua terra natal e parte para o Porto, com apenas 14 anos. No desejo de se entregar exclusivamente a Deus, ingressa no Instituto das Irmãs de Santa Doroteia em 1925, onde permaneceu até 1948.

O seu percurso como Religiosa Doroteia foi maioritariamente vivido em Espanha, onde teve as duas Aparições que completam o ciclo da mensagem de Fátima, com os pedidos da Devoção dos Primeiros Sábados (1925), em Pontevedra, e da Consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria (1929), em Tuy. Ainda durante este tempo, por ordem do Bispo de Leiria, escreve as suas primeiras Memórias, dando assim início a um dos meios através do qual divulgará a mensagem de Fátima: a sua obra escrita.

Aspirando a um maior recolhimento e entrega ao Senhor e ao serviço da mensagem de Fátima, entrou no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, a 25 de março de 1948, onde permaneceu até à sua morte.

Uma das principais virtudes que marcam a espiritualidade desta religiosa é a humildade. Diante da enorme quantidade de cartas que recebe ou de pessoas que a procuram, dirá sempre, com clarividência, que tudo “é por causa de Nossa Senhora”. Ao mesmo tempo, Lúcia tem uma consciência clara da sua missão: sabe-se profeta de uma mensagem que o Céu lhe confiou, ainda menina, e à qual será fiel até ao fim, com perseverança, ousadia e coragem. Nada a detém quando se trata de anunciar o que o Imaculado Coração de Maria lhe comunicara, e esta determinação vê-se refletida no seu pensamento e na sua escrita, aliada a uma profunda sensibilidade poética.

A obediência, a alegria e a fidelidade são a atmosfera em que Lúcia desenvolve a sua vocação como carmelita e a sua missão como profeta da mensagem de Fátima, vivendo sempre a sua consagração com um profundo espírito eclesial.

O eixo central da sua vida foi a intimidade com Deus, alimentada pela adoração eucarística. Contudo, na sua oração não esquece o Santo Padre, a unidade da Igreja, a conversão dos pecadores, a sua comunidade e a multidão silenciosa que, de todo o mundo, se recomendava às suas orações. De facto, ao Carmelo de Coimbra chegaram milhares e milhares de cartas com o rumor de tantas necessidades e intenções. A cela da irmã Lúcia, terreno sagrado que testemunhou a entrega silenciosa desta mulher, tornou-se num lugar com uma dimensão universal.

A 25 de março de 1984, viu finalmente cumprir-se a Consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, quando o Santo Padre em união com todos os Bispos realizou o pedido de Nossa Senhora, para o qual Lúcia se empenhou arduamente.

Uma das maiores exigências da sua longa vida foi certamente a de viver em harmonia a espiritualidade do Carmelo e a da Mensagem de Fátima, conciliando a dimensão mística e profética da sua vocação e missão.

A partir do ano 2000, após a Beatificação dos seus primos e a publicação da terceira parte do Segredo, Lúcia sente que a sua missão está cumprida e cresce em si o desejo do céu, para onde parte no dia 13 de fevereiro de 2005, com 97 anos de idade. Os seus restos encontram-se sepultados na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, em Fátima, desde o dia 19 de fevereiro de 2006.

O dia 15 de fevereiro de 2005, por decisão do Governo português, foi um dia de luto nacional pela morte desta “figura ímpar da igreja e do século XX portugueses”, acrescentando o Decreto que “a Irmã Lúcia foi uma das mulheres cuja atuação marcou mais profundamente a sociedade portuguesa atual”.

A Igreja e a sociedade portuguesas estão, assim, gratas a esta humilde carmelita pela luz de Cristo de que a sua vida foi transparência e irradiação.

 

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