13 de março, 2022
D. José Ornelas tomou posse como bispo de Leiria-Fátima “sem agenda mas com “o sonho” de uma igreja sinodal“Convosco, aprenderei a ser desta Igreja e destas terras, cidades e gentes de Leiria, sob o exemplo e inspiração de Maria, Mãe da Igreja que, em Fátima, nos veio mostrar o carinho de Deus, em tempos de guerra, de pandemia e aflição, como hoje, num diálogo simples e materno com três crianças” disse o novo bispo de Leiria-Fátima
O novo bispo de Leiria-Fátima, D. José Ornelas Carvalho, afirmou esta tarde, durante a homilia da Missa de tomada de posse e inicio do seu novo ministério episcopal, que chega à diocese “com muita liberdade, disponibilidade e esperança”. “Chego hoje aqui, vindo da Igreja de Setúbal, que saúdo com muita amizade no Coração do Senhor, pois a trago também no coração e numa sentida saudade que ficará comigo para a vida. Mas venho também com muita liberdade, disponibilidade e esperança, para continuar aqui o ministério episcopal, que iniciei em terras entre Tejo e Sado, procurando imitar e exprimir o amor que todos recebemos do Senhor. O amor não se divide quando se alarga a outras pessoas, mas cresce com aqueles que vamos conhecendo e amando” afirmou D. José >Ornelas num tom emocionado. Dirigindo-se aos novos diocesanos afirmou que não traz agenda mas o sonho de uma igreja sinodal. “Não trago agenda nem programa feitos e peço, antes de mais, que me aceiteis em nome do Senhor. Eu também começarei por aceitar e inserir-me na vida que está em curso nesta Igreja” afirmou D. José Ornelas Carvalho ao disponibilizar-se para “aprender a ser desta Igreja e destas terras, cidades e gentes de Leiria, sob o exemplo e inspiração de Maria, Mãe da Igreja que, em Fátima, nos veio mostrar o carinho de Deus, em tempos de guerra, de pandemia e aflição, como hoje, num diálogo simples e materno com três crianças”, afirmou o prelado que passa a ser agora também o primeiro responsável pelo Santuário de Fátima. “Trago um sonho: é aquele para o qual o Papa Francisco convocou toda a Igreja em processo sinodal: a reunião de irmãos e irmãs, que se colocam à escuta da Palavra de Deus e do seu Espírito, para formarem uma Igreja em comunhão apesar da diversidade dos que a compõem; uma Igreja de participação ativa de todos, segundo os carismas e funções de cada um; uma Igreja em saída missionária, próxima dos mais fragilizados e excluídos da terra, acolhedora do estrangeiro e do que é diferente, como sinal e laboratório de um mundo melhor”, afirmou. Na homilia, D. José Ornelas referiu, ainda, que se vive um “tempo novo e com antigos e novos desafios”, rejeitando a ideia de que “a Igreja envelheceu” ou “não tem futuro” , afirmando ser possível a transformação “do hoje e do futuro”. “Essa é a atitude que nos é pedida: a de alguém que tem lucidamente sede e vontade de futuro e que adere ao sonho de Deus, tornando-o realidade no coração, na mente e nas atitudes, para que possa acontecer quando Deus quiser”, sublinhou. Por isso, deixou uma palavra aos jovens: “que são objeto de especial atenção e carinho, tanto por parte das famílias como da Mãe-Igreja”. “Não vos deixeis ficar apenas como observadores da construção da nossa comunidade diocesana. O percurso sinodal em que estamos empenhados e a Jornada Mundial da Juventude que estamos a preparar são ocasiões de participação ativa que não podeis perder. A Igreja conta convosco na primeira linha desta festa Universal a vós especialmente dedicada”, disse D. José Ornelas. "Não fiqueis a ver passar a procissão, levem o andor", exortou. D. José Ornelas disse, ainda, que deseja “uma Igreja de participação ativa de todos”, em “saída missionária, próxima dos mais fragilizados e excluídos da terra, acolhedora do estrangeiro e do que é diferente, como sinal e laboratório de um mundo melhor”. “Este caminho já está a ser trilhado pela Igreja diocesana e é a ele que eu me junto agora, contando com o vosso acolhimento e a vossa participação. Juntos podemos fazer com que esse sonho se torne realidade”, afirmou. Na ocasião, o prelado manifestou “admiração e grata estima” pelo cardeal D. António Marto, referindo que espera ser “digno de continuar a ação iluminada, cordial e próxima com que serviu esta Diocese”, Saudou também de forma individualizada o bispo emérito de Leiria-Fátima, D. Serafim Ferreira e Silva, e os bispos eméritos que vivem na diocese, D. Augusto César (Bispo emérito de Portalegre-Castelo Branco) e D. António Vitalino Dantas (Bispo emérito de Beja). Os padres, seminaristas, religiosos e religiosas da diocese mereceram também um cumprimento especial do bispo que deseja a sua colaboração “procurando sempre o bem desta Igreja”, pois “na união do presbitério e do bispo realiza-se o primeiro círculo da sinodalidade diocesana”. “Esta questão da sucessão não é simplesmente um ato protocolar e administrativo. É a passagem, de um legado, que recebemos precioso dos apóstolos e vai chegando até nós e temos por missão transmitir”, afirmou. A celebração iniciou com a cerimónia de tomada de posse de D. José Ornelas Carvalho como sexto bispo da Diocese de Leiria-Fátima, após a leitura da carta de nomeação do Papa Francisco pelo núncio apostólico em Portugal, D. Ivo Scapolo, e assinada a respetiva ata de nomeação. Nas palavras que dirigiu na ocasião, o Núncio Apostólico em Portugal, D.Ivo Scapolo, pediu a Nossa Senhora de Fátima “paz para o mundo, em particular para a atormentada Ucrânia”. Na altura, além da referência ao conflito na Ucrânia, o diplomata da Santa Sé pediu também orações pelo Papa Francisco, que hoje comemora nove anos de pontificado, lembrando que, como o pontífice afirmou recentemente num vídeo a propósito da Jornada Mundial da Juventude do próximo ano, o líder da Igreja Católica olha “para Portugal, para Lisboa e Fátima com carinho”. D. Ivo Scapolo transmitiu também as “fraternas saudações” do Papa ao antigo bispo de Leiria-Fátima, cardeal António Marto, e a José Ornelas, agradecendo ao primeiro “os 16 anos de pastor” na diocese e ao segundo “a disponibilidade” para deixar Setúbal e rumar a Leiria. Na saudação ao seu sucessor, D. António Marto afirmou que o povo acolhe o novo bispo enviado para presidir à Igreja em Leiria-Fátima num tempo de “viragem épocal” de “braços abertos. “O bispo não pode viver a sua missão se não for acompanhado pelos leigos, cristãos nas ruas do mundo, nem tão pouco dispensar os diferentes carismas ou, ainda sem a cooperação efetiva e afetiva dos presbíteros” disse D. António Marto. “Todos são chamados a caminhar juntos, numa igreja sinodal e em saída”, referiu. “Peço a Deus que lhe conceda sabedoria, alegria espiritual e o sorriso do amor. Feliz missão ao serviço da Igreja de Leiria Fátima”, exortou D. António Marto. O Papa Francisco nomeou a 28 de janeiro D. José Ornelas para suceder no cargo ao cardeal D. António Marto, que apresentou a sua renúncia. O novo bispo de Leiria-Fátima, de 68 anos, estava à frente da Diocese de Setúbal desde 2015, ano em que foi ordenado bispo, depois de ter sido responsável mundial pela Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos). O sexto bispo de Leiria-Fátima desde a restauração da diocese nasceu a 5 de janeiro de 1954, no Porto da Cruz (Madeira), tendo feito a sua formação religiosa na Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos); foi ordenado padre na sua terra natal, a 9 de agosto de 1981. Foi superior da Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus, cargo que assumiu a 1 de julho de 2000; seria eleito superior geral dos Dehonianos a 27 de maio de 2003, cargo que ocupou até 6 de junho de 2015. Após estes mandatos, D. José Ornelas Carvalho tinha sido indigitado, a seu pedido, para uma missão em África; o Papa Francisco nomeou-o bispo de Setúbal, a 24 de agosto de 2015 e a sua ordenação episcopal teve lugar a 25 de outubro do mesmo ano, na Catedral da diocese sadina, onde tomou posse. Em junho de 2020 foi eleito presidente da CEP. |