20 de março, 2022

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D. José Ornelas critica “loucura humana” da guerra

O novo bispo de Leiria-Fátima presidiu, pela primeira vez, no Santuário e estabeleceu paralelo entre a situação de hoje e a que originou o acontecimento de Fátima em 1917

 

O novo bispo da diocese de Leiria-Fátima presidiu esta manhã à missa dominical no Santuário de Fátima onde condenou a guerra na Ucrânia, apelidando-a de “maior loucura humana” e apelou ao espírito de solidariedade, “até que seja necessário”, para com os refugiados que fogem “à tirania e à injustiça”.

“A guerra a que assistimos no leste Europeu é bem o exemplo desse jogo infernal do recurso à violência para submeter, escravizar, destruir, baseado numa visão de estratégia pessoal, de grupo ou de nação, que se arroga o direito de anular a liberdade dos outros e de os levar à sujeição. Não podemos deixar de condenar estes modos de pensar e de agir”, disse lembrando que a resposta a estas tentações dominadoras não pode ser feita na mesma moeda.

“Não podemos entrar na lógica da resposta igual, mesmo quando se trata do dever de deter a mão dos tiranos. Não se trata de uma vitória, é urgente que também aqui um novo modo de pensar” disse. 

“Os povos da Ucrânia e da Rússia são filhos/as de Deus e o mundo tem necessidade deles dois. É urgente a conversão de mentes e, mais urgente ainda, cuidar das vítimas da maior loucura humana que é a guerra. Nunca haverá vitória nestes conflitos. As vitórias militares contam-se em mortes, ódio e sofrimento, sobretudo dos mais fracos. A única vitória é a paz”, salientou.

A partir do convite à conversão a que este tempo quaresmal desafia e focado na liturgia deste domingo, sem perder de vista o conteúdo essencial da mensagem de Fátima, D. José Ornelas estabeleceu um paralelo entre Maria, “mãe e modelo da Igreja” e os milhares de mulheres que juntamente com os filhos e os mais idosos fogem da guerra, em busca da paz. 

“Os eventos de Fátima em 1917 tiveram lugar durante a sangrenta primeira guerra mundial, a revolução russa e uma pandemia com efeitos mais devastadores do que aquela que ainda condiciona as nossas vidas. Maria, a Senhora de rosto resplandecente, traz a misericórdia de Deus a um mundo com muitas semelhanças àquele em que vivemos. Ela não é estratega militar, não fala para comités internacionais e dirige-se a três crianças que sofrem as consequências, não apenas da situação geral do planeta, mas igualmente do pobre estado do país, que nem lhes permitia acesso ao ensino”.

“Perante a loucura dramática da guerra, a Mãe Maria, dedica a sua atenção e carinho a estas crianças simples e iletradas” prosseguiu destacando que Nossa Senhora “não lhes esconde o horror da guerra, mas infunde-lhes uma coragem superior à sua idade, para vencerem o medo, com a confiança na força e no carinho de Deus, cujo Coração se encontra ferido pelo horror e a perversão da humanidade”.

“Maria, Mãe e modelo da Igreja, pode ser vista nos milhares de mães que estão a sair da Ucrânia com as suas crianças e os seus idosos. Ela sabe o que é fugir da fúria dos tiranos, ser refugiada, depender da boa-vontade de gente desconhecida, para proteger o seu Menino, o seu tesouro, a esperança de um futuro melhor”, afirmou na homilia da missa concelebrada, entre outros, pelos bispos eméritos de Leira-Fátima, cardeal D. António Marto e D. Serafim Ferreira da Silva.

“Estas mães são dignas de toda a nossa estima, de todo o nosso apoio e acolhimento, até que seja necessário” enfatizou, elogiando a resposta que tem sido dada quer em termos nacionais quer em termos europeus no acolhimento aos mais de 3 milhões de refugiados que esta guerra no leste já fez.

“É bom ver que o mundo e a Europa – também o nosso país – se mobilizaram perante esta tragédia humana, no acolhimento e na ajuda. São sementes positivas de bem que, paradoxalmente, vão caindo nos escombros de milhões de vidas causados pela violência e a morte”, sublinhou.

“Que os nossos braços e a nossa vontade não se cansem e que a nossa generosidade se una e organize, para que possamos focar a nossa atenção e a nossa ajuda naqueles/as que passam por provações tão grandes” disse ainda ao lembrar que este é o modelo de Igreja que defende para a nova diocese que dirige desde o dia 13 de março.

“É esta Igreja, que tem Maria como Mãe e Modelo que, no início do meu ministério nesta Diocese, peço ao Senhor que nos ajude a construir: uma Igreja disponível para escutar a voz de Deus; unida pelo Espírito de comunhão e partilha entre os irmãos e irmãs; aberta e sensível aos apelos e desafios do mundo em que vivemos; generosa no acolhimento e apoio fraterno a quem precisa e a quem se vê privado da justiça e dos meios para uma vida livre e digna aos olhos de Deus, neste mundo que Ele criou para toda a humanidade e aberta ao mundo que definitivo que Ele nos oferece” disse.

Deus “não tem inimigos” enfatizou ao afirmar que “os desastres naturais, a violência e a injustiças que nos afetam não são castigos de Deus” .

“Pensar que Deus é como uma balança de pesar bem e mal, para dar bênçãos aos bons e castigar os maus é alimentar os mecanismos da divisão, da vingança, que levam à violência e à guerra”.

“O verdadeiro castigo é ausência de Deus. Sem Ele, ficamos limitados à nossa fragilidade e incapacidade de vida em plenitude”, reiterou apelando à conversão dos corações e da mente.

“Jesus diz que é necessário sobretudo mudar de mentalidade, façam um reset na vossa maneira de ser, introduzam um upgrade na vossa maneira de pensar para que possam entender Deus e aplicá-lo na vossa existência”, afirmou. 

No inicio da celebração o prelado, titular desta diocese, dirigiu-se aos milhares de peregrinos, presentes e que seguiam a transmissão da eucaristia pelos meios de comunicação social e digital, sublinhando que o Santuário de Fátima, “ é parte desta Diocese e tem um papel muito importante para toda a Igreja, para além dos limites diocesanos”.

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O prelado cumprimentou nominalmente os dois bispos eméritos, o administrador diocesano de Setúbal, eleito depois da sua saída e o reitor do Santuário, padre Carlos Cabecinhas e afirmou que este  “Santuário da misericórdia e da paz está aberto a todos, é um lugar da nossa diocese mas estende-se ao mundo” ao serviço “do projeto misericordioso de Deus, de dar um coração à humanidade, para fazer o bem ou destruir. É urgente encontrar caminhos de misericórdia e caminhos de paz. Que o Senhor nos guie por caminhos de paz”, concluiu.

Esta semana que agora se inicia Fátima estará, uma vez vez, no centro das atenções devido à Consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria pedida pelo papa correspondendo ao pedido deixado por Nossa Senhora e cuja concretização já aconteceu em 1984, a 25 de março, por decisão do Papa São João Paulo II.

Na próxima sexta -feira, pelas 16h00, em Fátima, mais uma hora em Roma, a Cova da Iria estará unida ao Santo Padre para a consagração que em Fátima, por decisão expressa do Papa Francisco, será conduzida pelo Esmoler Pontíficio, cardeal Konrad Krajewski, que poderá ser seguida presencialmente na Capelinha das Aaprições ou pelos meios de comunicação social e digital do Santuário de Fátima em www.fatima.pt.

 

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