04 de dezembro, 2024
D. José Alves Correia da Silva: o primeiro bispo de FátimaCelebra-se hoje o 67.º aniversário da morte de D. José Alves Correia da Silva, o primeiro bispo da diocese restaurada, que projetou Fátima para o país e para o mundo.
Passam hoje 67 anos da morte de D. José Alves Correia da Silva, o primeiro bispo de Fátima depois das aparições de 1917 e após a restauração, em 1918, da Diocese de Leiria, da qual tomou posse a 4 de agosto de 1920. Não tardaria um ano até que o novo pastor da restaurada diocese viesse visitar a Cova da Iria. Apesar da presença, não se manifestaria oficialmente sobre o assunto até declarar como “dignas de crédito as visões das crianças na Cova da Iria”, a 13 de outubro de 1930, através da carta pastoral sobre o culto de Nossa Senhora de Fátima. Nesta efeméride, recordamos as decisões de D. José Alves Correia da Silva que evidenciam a ligação indelével deste pastor ao Santuário e à difusão da mensagem de Fátima, ainda antes da aprovação das Aparições.
Os primeiros passos para acolher dignamente os peregrinos Quase três anos após a primeira aparição de Nossa Senhora aos Pastorinhos, D. José Alves Correia da Silva era nomeado primeiro bispo da diocese restaurada de Leiria pelo Papa Bento XV. Tomaria posse a 4 de agosto do mesmo ano. Um ano depois, a 13 de setembro de 1921, visitava Fátima pela primeira vez, para encetar as primeiras ações com vista à criação de um espaço que pudesse acolher o número crescente de peregrinos que afluía à Cova da Iria. A aquisição de terrenos confinantes do lugar onde ocorreram as aparições foi um dos primeiros passos. “Posso desde já indicar os nomes e as quantias, digo as moradas de algumas pessoas que, estou certo disso, contribuirão com avultados donativos para a compra dos terrenos, desde o momento em que o senhor bispo autorize alguém a falar-lhes da sua parte”, lê-se numa missiva do padre Formigão ao pároco do Olival, datada de 6 de outubro de 1920. Porque a necessidade de água era premente naquele lugar da Serra de Aire, o bispo de Leiria deu também indicações para que fosse feita prospeção junto à Capelinha das Aparições, ali edificada por iniciativa popular. “Como ali não havia água, era preciso fazer obras, mandei abrir um depósito para recolher a água das chuvas. A 1 metro de profundidade apareceu a água que nunca mais faltou. Como naquelas montanhas, essencialmente calcárias, não há água e como coincidiu com a celebração da primeira Missa que autorizei no local, daí a devoção do povo.”, escreve o bispo de Leiria, numa carta dirigida ao padre Luís Fischer. A resposta do pastor diocesano clarifica a devoção popular que associava o aparecimento de água naquele lugar com a primeira missa ali celebrada, que aconteceu após decisão do bispo a 13 de outubro de 1921, e quatro dias depois da primeira tentativa de sondagem de água. Em carta enviada ao pároco de Fátima no dia 18 do mês seguinte, o bispo de Leiria determina um conjunto de regras para serem cumpridas na Cova da Iria, expressando, deste modo, a sua preocupação para resguardar a sacralidade daquele lugar. Na missiva, proibia o uso de foguetes e a venda de vinho ou outras bebidas alcoólicas, sob pena de “proibição da celebração da Santa Missa naquele lugar”.
A tentativa de clarificar o acontecimento Por esta altura, a notoriedade e abrangência de Fátima eram já incontornáveis e D. José Alves Correia da Silva, consciente dessa realidade, decide abrir um inquérito para averiguar os factos ocorridos em 1917, nomeando, a 3 de maio de 1922, uma “comissão canónica encarregada de estudar o caso de Fátima e organizar o respetivo processo, segundo as leis canónicas”. Na ata da primeira reunião desta comissão, realizada no dia seguinte à sua nomeação, é definida uma outra ação de relevo para a promoção de Fátima, que viria a ser assumida, em outubro desse mesmo ano, pelo pastor diocesano. “Acordou-se na publicação de um boletim mensal a que se daria o nome de Voz da Fátima e que seria destinado a registar todas as notícias e informações relativas aos acontecimentos de Fátima”, lê-se no documento, datado de 4 de maio de 1922. Cinco meses depois, era distribuído o primeiro número da Voz da Fátima, que viria a ser assumido como órgão oficial do Santuário e no qual o próprio bispo viria a tornar públicas decisões. Desta comissão resultaria um relatório final, oito anos depois, que serviria de base para o bispo diocesano tomar a decisão de aprovar como dignas de crédito as Aparições.
A regulamentação do espaço devocional É na edição de julho de 1924 deste mensário que encontramos a notícia da fundação da Associação dos Servos de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, constituída canonicamente por D. José Alves Correia da Silva no mês anterior. Na primeira página, são publicadas as regras a seguir por este grupo de fiéis que, desde a primeira hora, prestava apoio aos peregrinos, na Cova da Iria. Consciente da afluência crescente de peregrinos, o pontífice local decide, a 6 de outubro de 1925, regulamentar as peregrinações através da publicação de uma provisão que concede a todos os sacerdotes a faculdade de celebrar e confessar naquele lugar. Por esta altura, o bispo de Leiria já expressava publicamente a sua posição favorável a Fátima, como aconteceu numa entrevista dada na edição de 13 de maio de 1926 ao periódico A Época. “As peregrinações de Fátima são mais imponentes e significativas que as de Lourdes. Em Fátima, juntam-se num só dia muitas mais pessoas do que habitualmente se juntam em Lourdes, apesar de todo o conforto e comodidades que a pequena cidade dos Pirenéus oferece aos peregrinos”, afirmava o pastor diocesano, um ano antes de criar uma capelania permanente no Santuário, também noticiada na capa da Voz da Fátima, a 13 de agosto de 1927. “Sua excelência reverendíssima, o senhor D. José Alves Correia da Silva, venerando bispo de Leiria, realizando um seu desejo muito ardente e muito antigo, que era também o de todos os peregrinos, dignou-se nomear, por carta datada do dia 13 de julho, capelão de Nossa Senhora de Fátima o reverendo Manuel de Sousa, ex-pároco de Seiça”, lê-se no mensário.
Um templo que marca uma ligação indelével Uma das evidências que da estreita ligação entre D. José Alves Correia da Silva e Fátima é a Basílica de Nossa Senhora do Rosário. “O projeto da construção de um templo no cimo do outeiro que domina a Cova da Iria" era já um projeto acolhido com entusiasmo “junto piedade dos fiéis”, que desejavam “ardentemente levantar no local das aparições um monumento grandioso em honra da augusta Mãe de Deus”, descrevia, em 1923, o cónego Formigão. Haveria de ser pelas mãos de D. José Alves Correia da Silva que a obra começaria a ser edificada, a partir de 13 de maio de 1928. Hoje, esta basílica, que é ícone do Santuário, permanece no tempo como sinal da importância que este pastor teve para Fátima, na primeira metade do século. É na capela-mor deste templo que o "primeiro bispo de Fátima" está sepultado desde a sua morte, a 4 de dezembro de 1957. |