02 de janeiro, 2015

 
 
 
 
Sob o título “Família, Paz e Reforma da Igreja”, D. António dos Santos Marto apontou em Fátima os principais temas e exortações que marcaram o ano que findou e que se mantém atuais no novo ano que inicia. Os três dons à Igreja e ao Mundo lembrados pelo bispo de Leiria-Fátima foram a consagração de um ano pastoral dedicado à Família, “património mais belo, mais precioso e mais valioso da humanidade que exige o melhor cuidado”; o apelo a gestos concretos com vista à paz, sobretudo contra a “chaga social” e a “vergonha” que é a escravatura e, como terceiro dom, o impulso para a reforma da Igreja. Sobre o recente discurso do Papa Francisco aos colaboradores da Cúria romana, o bispo garantiu que as advertências pontifícias também caem “que nem uma luva aos políticos que queiram servir o bem comum e não os interesses próprios”.
 
O bispo de Leiria-Fátima presidiu às celebrações eucarísticas e de oração de final de ano no Santuário de Fátima, realizadas a 31 de dezembro e na entrada do novo ano. O momento mais participado, com cerca de 3 000 peregrinos e com uma destacada presença de jovens, foi o da consagração ao Imaculado Coração de Maria, seguido do gesto da Paz, ao toque das 00:00 de 1 de janeiro de 2015, na Capelinha das Aparições. Todo o programa foi vivido de forma fraterna e terminou com um momento de convívio, na Casa de Retiros de Nossa Senhora das Dores.
 
Nas palavras de D. António Marto, na homilia da Missa com Te Deum de ação de graças, celebrada às 22:00 na Basílica da Santíssima Trindade, “temos motivos para dar graças a Deus pelos muitos dons concedidos pela sua bondade, pelas pequenas e grandes maravilhas da sua graça na vida de cada um, da Igreja e do mundo, pelo caminho pastoral percorrido pela nossa Igreja diocesana e pela Igreja universal”. 
 
Sobre o ano pastoral dedicado à família, o prelado lembrou que o principal objetivo da sua realização foi o “suscitar no coração de cada crente, em cada comunidade cristã e na sociedade uma maior consciência da dignidade e do valor do matrimónio e da família, hoje tão esquecidos ou menosprezados”. Na diocese de Leiria-Fátima, em resposta às exortações do Papa Francisco, foi proposta pelo bispo diocesano a carta pastoral “A beleza e a alegria de viver em família” e realizadas diversas propostas pastorais, as quais, na avaliação de D. António Marto, suscitaram “uma significativa adesão” e que ficaram marcadas “pelo grande o empenho para levar a saborear o dom precioso do amor, do matrimónio e da família”.
 
Ainda em relação a este tema, D. António Marto lembrou, a nível universal, a convocação, pelo Papa, de um sínodo dos bispos sobre “os problemas pastorais da família na perspetiva da evangelização”, em que se “procedeu a uma consulta prévia a todo o povo de Deus, que despertou interesse e envolvimento”, iniciativa pastoral que classificou de “muito corajosa de que se sentia verdadeira necessidade”.
 
“A família merece este trabalho pastoral renovado para a felicidade dos seus membros e para o bem da sociedade. Como também requer uma viragem na política de apoio familiar. Colocar a família no centro da atenção e ação políticas é colocar no centro da política o presente e o futuro da sociedade”, concluiu.
 
No que concerne ao tema da Paz, o bispo de Leiria-Fátima retomou o apelo do Papa Francisco, na mensagem pontifícia para o 48.º Dia Mundial da Paz, intitulada “Não mais escravos, mas irmãos”: “erradicar a chaga social da escravatura moderna”. 
 
“A escravatura é uma chaga social, um crime de lesa humanidade, uma vergonha da humanidade do século XXI, mas também chaga na carne de Cristo. Para a erradicar é precisa uma grande mobilização a nível local - famílias, escolas, paróquias - e a nível global da sociedade civil e das instituições dos Estados”, afirmou D. António Marto, que recordou que, se a paz “tem necessidade do nosso entusiasmo, do nosso cultivo quotidiano, para aquecer os corações frios, sarar as feridas abertas, encorajar as almas desanimadas, iluminar com a luz do rosto de Cristo os olhos apagados, ver no outro um irmão a amar e a libertar de todas as cadeias de escravidão”.
 
A reforma da Igreja 
 
O tema da reforma da Igreja e a exortação à santidade de vida foi o terceiro tópico da reflexão de D. António Marto na homilia da Missa de final de ano em Fátima. A este propósito, o bispo lembrou o recente discurso do Papa Francisco aos seus mais próximos colaboradores na Cúria, no qual enumerou “quinze doenças espirituais que podem afetar quem tem lugares de liderança na Igreja”. 
 
“A comunicação social deu-lhe um grande destaque apresentando [o discurso] como um catálogo de pecados da hierarquia e um puxão de orelhas. Mas o próprio Papa estende a exortação às comunidades, aos movimentos e organizações cristãos”, referiu o bispo de Leiria-Fátima que, por seu lado, alargou os apelos do Papa Francisco aos líderes políticos: “[a exortação do Papa] também cai que nem uma luva aos políticos que queiram servir o bem comum e não os interesses próprios, partidários ou de certos lóbis”.
 
“O discurso do Papa é verdadeiramente muito denso, forte e contundente como já há mil anos não se ouvia. Convida-nos sobretudo a um profundo exame de consciência, revisão de vida pessoal e comunitária”, afirmou D. António Marto, que interpreta a reforma como “interior”, “porque parte da conversão do coração, da santidade de vida para se estender à pastoral e às estruturas”. 
 
LeopolDina Simões
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