20 de maio, 2018

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D. António Marto diz-se emocionado com a nomeação que encara como "um serviço"

Bispo de Leiria-Fátima foi nomeado Cardeal pelo Papa Francisco

 

O Bispo de Leiria-Fátima, que o Papa nomeou hoje como cardeal, afirma que a nomeação o “surpreendeu” e que a vê como “mais um serviço” que presta à Igreja.

“Não olho para esta nomeação em termos de meritocracia, para mim é um serviço, uma responsabilidade a mais a prestar à igreja Universal" disse D. António Marto durante a conferência de imprensa que deu esta tarde no Santuário de Fátima reagindo à nomeação para Cardeal.

“Eu venho de uma família humilde e o meu pai no inicio não gostava muito que eu fosse padre, mas depois aceitou e um dia chamou-me à parte,  depois da ordenação, e disse-me: meu filho, tu lembra-te sempre que vens de uma família humilde , que não te suba o poder à cabeça e eu sigo este legado que o meu pai me deixou. Nunca me subiu o poder à cabeça  nem aspiro a lugares de poder. Para mim a autoridade é um serviço e é um dever e o Senhor dá a graça de o podermos realizar”, acrescentou.

O bispo de Leiria- Fátima sublinhou que esta nomeação tem três aspetos: o primeiro é um serviço que o Papa pede para o ajudar no seu governo quer como bispo de Roma quer como pastor da igreja universal; o segundo é o reconhecimento da necessidade de uma maior ligação entre a sede de Pedro e as igrejas particulares e, em concreto entre a cátedra de Pedro e a diocese de Leiria-Fátima  e, em terceiro lugar, é um ato de confiança pessoal do Papa.

O prelado que durante a conferência de imprensa não conseguiu disfarçar a emoção nesta nomeação, encarando-a sempre com grande humildade, sublinhou que, além da confiança pessoal há também um lado institucional nesta escolha.

“A celebração do Centenário, que o Papa experimentou ao vivo , percebendo o que significa Fátima para a  igreja e para o mundo há de ter contribuído para esta nomeação naturalmente”, referiu D. António Marto aos jornalistas, para além da “confiança na minha humilde pessoa”.

“Das duas audiências privadas que me concedeu deve ter percebido  o que penso das reformas que está a implementar  e vê em mim um apoiante dessas reformas no sentido de  tornar a igreja numa igreja mais evangélica, mais próxima, numa igreja mais misericordiosa e nisso ele sabe que pode contar comigo”, acrescentou.

Questionado sobre se já tinha falado com o Papa depois da nomeação afirmou que não e contou aos jornalistas como tinha recebido a notícia, antes de iniciar a celebração da Eucaristia dominical na Sé.

“Recebi a noticia com surpresa e muita emoção, como que as lágrimas vieram aos olhos e tive de me conter para ninguém perceber e, só  depois veio a paz de espirito como quem diz: seja feita a vontade do Senhor,  se é isto que a igreja me pede, resignei-me e tranquilizei-me”, referiu ainda.

“Não falei com o Papa. Ele surpreende-nos e desta vez também me surpreendeu. Quando falar com ele vou agradecer-lhe este ato de confiança e colocar-me à disponibilidade do Santo Padre” acrescentou.

O novo cardeal espera agora poder continuar na diocese, pois “com esta idade já não deveria sair daqui” e manifestou agrado em poder vir a participar, se “a saúde e o tempo de vida assim permitir” num conclave para a eleição de um novo Papa. Mas, agora o momento é “para viver o presente que é um momento de graça para a Igreja com este Papa e ajudá-lo na consolidação das  reformas que ele  está a implementar e depois logo se verá”.

Questionado sobre o contributo que pode dar ao Papa Francisco, D. António Marto lembra que “é um pastor da igreja, com os dons que tem e que os põe ao serviço da igreja quando esta lhe pedir”.

D. António Marto, que o papa vai elevar à condição de cardeal no consistório marcado para 29 de junho, está à frente da Diocese de Leiria-Fátima desde junho de 2006.

Desde que assumiu o comando da diocese já recebeu a visita de  dois papas,  Bento XVI(2010)  e Francisco (2017), com quem concelebrou a Missa de Canonização dos Santos Francisco e Jacinta Marto, em maio do ano passado, na Cova da Iria.

A partir do próximo consistório, o prelado junta-se, no Colégio Cardinalício, a D. José Saraiva Martins, D. Manuel Monteiro de Castro e D. Manuel Clemente.

Natural de Tronco, no concelho de Chaves, onde nasceu a 05 de abril de 1947, António Marto foi ordenado padre em Roma, em 07 de novembro de 1971, tendo feito estudos de especialização em Teologia Sistemática na Pontifícia Universidade Gregoriana, onde fez a licenciatura e o doutoramento, que concluiu com a tese sobre “Esperança cristã e futuro do homem. Doutrina escatológica do Concílio Vaticano II”.

Atualmente, vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), foi presidente da Comissão Episcopal para o Ecumenismo e a Doutrina da Fé.

Além de D. António Marto, o Papa Francisco anunciou hoje que vai nomear outros 13 novos cardeais a 29 de junho.

Os 11 novos cardeais eleitores (por ordem de anúncio pontifício) são o patriarca Louis Sako, do Iraque; D. Luis Ladaria, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (Santa Sé); D. Angelo De Donatis, vigário do Papa para a Diocese de Roma; D. Giovanni Angelo Becciu, substituto da Secretaria de Estado do Vaticano; D. Konrad Krajewski, esmoler pontifício; D. Joseph Coutts, arcebispo de Karachi (Paquistão); D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima; D. Pedro Barreto, arcebispo de Huancayo (Peru); D. Desiré Tsarahazana, arcebispo de Toamasina (Madagáscar); D. Giuseppe Petrocchi, arcebispo de L’Aquila (Itália); D. Thomas Aquinas Manyo, arcebispo de Osaka (Japão).

O Papa vai ainda criar três cardeais com mais de 80 anos: D. Sergio Obeso Rivera, arcebispo emérito de Xalapa (México); D. Toribio Ticona Porco, bispo emérito de Corocoro (Bolívia); padre Aquilino Bocos Merino, missionário Claretiano.

O consistório para a criação de cardeais é uma cerimónia que se desenvolveu ao longo dos séculos, dando origem a um cerimonial próprio, que é hoje público.

Ao longo de centenas de anos, o anúncio era feito num consistório secreto, no qual o Papa anunciava o nome dos novos cardeais, que recebiam depois um “bilhete” com essa nomeação.

Após o Concílio Vaticano II (1962-1965), o consistório foi sendo sucessivamente simplificado até à fórmula atual, aprovada pelo Papa Bento XVI em 2012, que unificou o rito de entrega do barrete e do anel cardinalícios.

 

Áudio da declaração de D. António Marto disponível AQUI.

Vídeo da declaração disponível AQUI.

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