09 de outubro, 2021
Coroa de Nossa Senhora de Fátima exposta pela primeira vez sem a imagem fora da Cova da IriaCoroa preciosa esteve em Lisboa durante dois dias , no âmbito da 1ª Bienal de Joalharia Contemporânea de Lisboa
O reitor do Santuário de Fátima justificou esta quinta-feira a saída da coroa preciosa de Nossa Senhora de Fátima para Lisboa como “uma viagem excepcional” integrada no jubileu dos 75 anos da coroação da Imagem que se venera na Capelinha das Aaprições, na Cova da Iria. “O Santuário encarou como excepcional a vinda da coroa a Lisboa, não por que não entendêssemos o seu valor artístico mas porque respondemos excecionalmente a este pedido, inserindo-o no âmbito dos 75 anos da coroação da imagem de Nossa Senhora” disse o padre Carlos Cabecinhas no encerramento do colóquio que decorreu na Igreja de São Roque, em Lisboa, por ocasião da deslocação deste “tesouro artístico” que, apesar de musealizado, nunca deixou de ser um elemento de devoção dos fieis porque é parte integrante da Imagem veneranda. O reitor referiu-se, de resto, ao significado da coroação, decidida pelo Papa Pio XII, em 1946, enviando o seu legado pontifício, o cardeal da cúria romana Aloisio Mazela, para coroar a escultura de Fátima, e com ela proceder à coroação de Nossa Senhora como rainha do mundo e da paz. “Para além do inegável valor material e artístico, esta coroa torna-se valiosa pela ligação à imagem, sobretudo quando integra a bala (oferecida por João Paulo II na sequência do atentado de que foi alvo a 13 de maio de 1981, na Praça de São Pedro) e passa a ter um estatuto de relicário” salientou o responsável pelo Santuário de Fátima. “Reconhecemos que é uma obra de joalharia, uma obra artística de valia mas sobretudo uma obra de muito simbolismo”, afirmou o reitor do Santuário de Fátima. A história desta coroa, que nos dias solenes é colocada na Imagem que se venera na Capelinha das Aparições, começa em 1942, quando um conjunto de mulheres portuguesas quis agradecer a Nossa Senhora de Fátima o facto de Portugal não ter entrado na Segunda Guerra Mundial, que ainda decorria. Decidiram então doar peças valiosas – colares, pulseiras, anéis, brincos e outras joias – que serviriam para a construção de uma coroa que seria colocada na veneranda imagem A coroa viria quase a tornar-se, ela própria, um objeto de veneração depois do atentado contra João Paulo II em 1981. A bala que atingiu o Papa polaco, recebida por D. Alberto Cosme do Amaral das mãos do próprio Papa, em Roma, foi colocada na coroa de Nossa Senhora de Fátima oito anos depois do atentado na Praça de São Pedro. No colóquio participaram os Diretores do Museu do Santuário de Fátima e do Museu Gulbenkian; o joalheiro Jorge Leitão; o gemólogo Rui Galopim de Carvalho; a ex diretora do Museu do Traje, Madalena Braz Teixeira e a jornalista Aura Miguel, coincidindo todos no reconhecimento da importância desta coroa preciosa na compreensão quer da história das grandes obras de arte de joalharia em Portugal quer na sua componente devocional. A este propósito o responsável pelo Museu do Santuário, Marco Daniel, salientou algumas das interpretações que podem ser feitas a partir da história da coroa preciosa de Nossa Senhora de Fátima, que apresenta “vários discursos susceptíveis de várias interpretações”, desde o facto de ter resultado de uma iniciativa das mulheres portuguesas, à decisão do Papa Pio XII que, através do seu gesto, permitiu uma reinterpretação de Fátima no contexto da Igreja, seja do ponto de vista da fé, seja ainda do ponto de vista político. De resto a coroa além de ser uma jóia, encerra uma dimensão de relíquia e, depois do encastoamento da bala que atingiu o Papa João Paulo II passou a ser, ela própria, um relicário. “É uma peça peculiar: esta não é apenas uma peça artística; tem muitos outros discursos associados a ela”, concluiu Marco Daniel Duarte. Aura Miguel, jornalista vaticanista que realizou mais de cem viagens com três papas, fez, aliás, uma intervenção centrada na bala e na forma como ela ali foi colocada graças, por um lado à oferta do Papa João Paulo II mas também à própria persistência do bispo de Leiria D. Hélder Cosme do Amaral, que recebendo o presente das mãos do Papa, em Roma, em 1984, não descansou enquanto o projectil não teve uma ligação mais direta à imagem. Este colóquio decorreu na Igreja de São Roque, onde está patente ao público uma exposição intitulada “Suor Frio: o medo e a proteção”, dividida em dois núcleos- um no Museu de São Roque e outro no Museu da Farmácia. A deslocação da coroa a Lisboa foi associada a um programa pastoral mariano que se iniciou à sua chegada com uma missa votiva de Nossa Senhora do Rosário, que se celebrou no dia 7 de outubro, concelebrada pelo Reitor do Santuário de Fátima e pelo prior de São Roque, a que se seguiu um momento musical mariano, a recitação do Rosário e uma vigília de oração.
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