26 de julho, 2020

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Conferência sobre a Irmã Lúcia esclarece aparente paradoxo de uma vida marcada pela profecia e pelo desejo de silêncio como experiência íntima de Deus

Vice-postuladora da Causa de Canonização da Irmã Lúcia destaca a profecia em que se transformou a vida da vidente de Fátima recolhida no Carmelo de Coimbra

 

A vice-postuladora da Causa de Canonização da irmã Lúcia, Irmã Ângela Coelho, proferiu esta tarde uma conferência intitulada “Lúcia de Jesus, uma vida plena de Luz”, na qual abordou o “aparente paradoxo” que ao longo da sua vida a mais velha dos videntes de Fátima desenvolveu:  saber-se profeta da mensagem que o Céu lhe entregava e sentir crescer dentro de si a vocação para a vida contemplativa no Carmelo.

 “Não lidamos, no caso da Irmã Lúcia, com a mesma simplicidade de figura que encontramos em Francisco, o Adorador e Consolador de Jesus, ou em Jacinta, a santa mais pequenina da história da Igreja, aquela que viveu a sua vida como um dom, oferecendo-se para reparar o mal do mundo”, começou por advertir a religiosa da Aliança de Santa Maria, natural do Porto, médica, vice-postuladora da Causa de Canonização da Irmã Lúcia e ex postuladora da Causa da Canonização dos Santos Francisco e Jacinta Marto, naquele que foi o III Encontro na Basílica neste ano pastoral, em que em Fátima se dá dá graças por viver em Deus.

A partir da figura do profeta Ezequiel, a conferencista aprofundou o carisma de Lúcia, explicitando a sua missão e apresentando os desafios de que somos herdeiros, sem nunca perder de vista as próprias palavras da carmelita, “escritas por obediência”, mas também “o seu testemunho de vida”. É, aliás, a partir do silêncio do Carmelo que a sua palavra aparece como inspiradora e desafiadora para os cristãos dos dias de hoje.

“A sua atividade profética desenvolver-se-á ao longo de toda sua vida, que abrangeu os momentos mais dramáticos e decisivos do século XX, dos quais foi testemunha” - a Guerra Civil Espanhola, a Segunda Guerra Mundial ,  o Concílio Vaticano II, a Guerra Fria e a queda do muro de Berlim- afirma a religiosa da Aliança de Santa Maria, sublinhando que a mensagem que Lúcia transmite “não é de menor importância para o tempo atual que vivemos”.

“A nossa época, marcada pela pandemia e pelos limites impostos por este minúsculo vírus, assiste à queda de paradigmas de convivência social, da vivência e celebração da fé, de modelos económicos que sustentaram a nossa civilização até ao momento”, adianta.

Desta dimensão profética de Lúcia, para além da denúncia sobejas também uma dimensão consoladora, refere, por outro lado, a Irmã Ângela Coelho, ao sublinhar a importância da devoção ao Coração Imaculado de Maria, na qual Lúcia "entra de corpo e alma" , procurando fazer sempre do anúncio deste "coração novo" "um refúgio e um caminho até Deus".

"Esta é a certeza da sua vida" refere a Irmã Ângela Coelho, destacando que é também esta certeza que a mensagem de Fátima oferece a toda a Humanidade.

“Após anunciar o que lhe tinha sido dado a ver na aparição de julho, denunciando o pecado e as suas consequências (inferno, as guerras, perseguições à Igreja – estrutura tripartida do segredo), Lúcia aponta a consolação e a salvação de Deus expressa no triunfo do Coração Imaculado de Maria” e, por isso, a sua palavra “é sempre uma palavra de esperança”.

Por outro lado, adianta a oradora, há em Lúcia um desejo de recolhimento e de contemplação.

“Porquê a sua atração pelo Carmelo, o lugar do silêncio e da clausura, quando a sua missão era anunciar a devoção ao Coração Imaculado de Maria?” interroga a Irmã Ângela Coelho para, de imediato, aduzir uma resposta.

 “Não tenhamos dúvidas, esta consciência de que é profeta configurará a sua forma de ser: perseverante, fiel, ousada e corajosa. Nada a detém quando se trata de anunciar o que o Imaculado Coração de Maria lhe tinha dito”, adianta.

“Mesmo que seja só por carta, a sua voz será ouvida até aos confins da terra, passando pelo Vaticano e por todos os que a ela se confiam”, esclarece ainda ao sublinhar uma outra dimensão: Lúcia “fez do silêncio uma das palavras mais eloquentes do seu ministério profético”, assumindo-se “um instrumento do qual Deus se quer servir”.

“É a profecia da vida escondida que cumpre a sua missão; o agir da Lúcia é um fazer feito de fidelidade à sua vocação de carmelita”, esclarece concluindo.

A presidente da Fundação Francisco e Jacinta Marto lembrou ainda “outro traço luminoso” que sobressai da vida da Lúcia e que “é a oferta da sua vida, pela Igreja”, pela qual “tem a sua alma de profeta ferida” quando “toma consciência de que há divisões” no seu seio. Aliás, é bem conhecida a insistência de Lúcia clamando pela união dos bispos, pela conversão da Rússia e pela consagração do Mundo ao Imaculado Coração de Maria, a que só o Papa São João Paulo II haveria de dar resposta.

“No início da sua vida, Lúcia foi tocada pelo mistério de Deus de uma forma única e intensa. Durante a sua vida, ela teve de aprender a suportar o peso do mistério, a guardar no seu coração, na sua inteligência, na sua alma, a verdade do que «lhe fora dado ver na luz de Deus, onde está contido o passado, o presente e o futuro»”, concluiu a Irmã Ãngela, ao sublinhar que a vidente de Fátima “foi chamada a viver esta vocação de profeta num quotidiano marcado pelo ritmo de vida de uma Carmelita Descalça, pelas relações que estabeleceu com tantas pessoas, pelos sofrimentos inerentes a alguém que era tão frequentemente incompreendida e caluniada no seu trabalho solitário, assim como pela dor humana que invadia a sua cela e que ela servia com as suas lágrimas, o seu sacrifício, o seu silêncio, o seu trabalho e a sua oração”.

“Que luz maravilhosa irradia para o mundo, a partir da vida desta mulher!” concluiu  a religiosa ao lembrar que Lúcia, a pequena pastora de Aljustrel, “em 13 de junho de 1917, foi convidada pela Senhora mais brilhante que o Sol, a assumir a missão que o Senhor lhe confiava."

Depois das aparições Lúcia parte de Fátima a 16 de junho de 1921 rumo ao Porto e ingressa no Instituto de Santa Doroteia. Mais tarde, a 25 de março de 1948, entra no Carmelo de Coimbra, a onde residirá até ao fim da vida.

O processo de canonização da Irmã Lúcia encontra-se em Roma para apreciação da Congregação para as Causas dos Santos, depois de ter sido concluída a fase diocesana.

Após este momento formativo, de natureza mais catequética, António Mota, organista do Santuário de Fátima, protagonizou um recital de órgão, de onde se destaca, entre outros, uma improvisação sobre "Salve Pastorinhos", ao estilo de Nicolas de Grigny.

 

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António Mota é doutorado em Música pela Universidade de Aveiro e licenciado em órgão pela Escola Superior de Música de Lisboa. É ainda mestre em Engenharia Eletrotécnica e de computadores pelo Instituto Superior Técnico.

Depois de ter sido reagendada, passando de junho para julho, na sequência da pandemia provocada pela Covid-19, esta conferência insere-se no âmbito de uma proposta que o Santuário começou a desenvolver no quadro das comemorações do centenário das Aparições. Num total de cinco palestras por ano, estes encontros têm o objetivo de apresentar Fátima como um lugar que convida ao chamamento a uma vida em Deus, abordando temáticas como a vocação batismal à santidade, a conversão como recentramento da vida em Deus e as dimensões de uma espiritualidade cristã à luz da mensagem de Fátima, numa edição em que no ano em que se assinala o centenário da morte de Santa Jacinta Marto, se aprofundará também o seu modelo de santidade e o do seu irmão, São Francisco Marto.

Estão agendados ainda mais dois encontros: a 6 de setembro, com o tema “Fátima: histórias de santidade”, por Marco Daniel Duarte e recital de Pedro Gomes, e a 8 de novembro, Joaquim Teixeira falará sobre “Fátima, escola de santidade”, seguindo-se um recital do coro Ad Libitum.

 

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