12 de maio, 2009
Solidariedade, responsabilidade e confiança
Conferencia de Imprensa 12.05.2009
Nesta peregrinação não podemos deixar de ter presente o agravamento das dificuldades resultantes da crise económico-financeira em curso. Significa que a própria peregrinação nos provoca a assumir as nossas responsabilidades, nos estimula a empenharmo-nos com os outros e a favor dos outros e nos infunde coragem para realizar os passos necessários em ordem a enfrentar juntos a difícil situação actual. Cada um é chamado a realizar a sua própria parte animado por um grande espíritode solidariedade, que é reconhecer em quem está em necessidade um irmão a amar e a ajudar; e ao mesmo tempo, com um alto sentido de responsabilidade em ordem a encontrar respostas respeitadoras e promotoras da dignidade de todo o ser humano que comporta, entre outras coisas, garantir o direito ao trabalho. Este constitui o elo mais fraco em toda a cadeia de consequências desastrosas da crise. O espírito de solidariedade levou à mobilização de todos os organismos sócio-caritativosda Igreja, a nível nacional, diocesano e paroquial. Desejaria neste momento, renovar o convite a todas e cada uma das comunidades cristãs a uma leitura atenta e sábia das necessidades concretas e a elaborar projectos, inteligentes e em rede, de ajuda a fim de que quem perde o trabalho não perca também a dignidade. O meu pensamento vai, de modo particular, para as famílias em dificuldade, consciente de que a actual situação do trabalho não comporta só menor produção ou menores consumos e riqueza, mas significa sobretudo menor possibilidade para a família de olhar com serenidade suficiente para o próprio futuro. Em certos casos, a situação acaba por configurar-se não só como um grave problema, mas como um verdadeiro e próprio drama. É preciso também sabedoria e coragem para rever o estilo do nosso viver pessoal e social no sentido de uma maior sobriedade e para promover com quem está em dificuldade, a nosso lado, uma solidariedade feita de proximidade e partilha respeitosa e concreta. Segundo as funções que desempenhamos, devemos contribuir para que se desenvolva, com a intervenção das instituições e das várias forças sociais, económicas e financeiras, uma renovada e séria politica social de modo a dar resposta sistemática e contínua às necessidades primárias das pessoas e das famílias. Com esta mensagem desejaria apelar também ao sentido de responsabilidade. O temor ou, infelizmente, a realidade da perda do lugar de trabalho e do rendimento para si e para a família gera diversas reacções e sentimentos: o desconforto, o medo, a angústia, o sentido de fracasso, o protesto, a revolta. São sentimentos compreensíveis. Todavia não podemos deixar que a crise económica se transforme numa explosão social violenta. Para evitar este risco todos devem contribuir com a sua parte: Estado, empresários, trabalhadores, sindicatos, sociedade civil. É preciso uma atenta reflexão sobre as regras da finança e da economia, sobre o modo de fazer empresa, sobre a intervenção das instituições a favor de quem está em dificuldade por causa da crise. O sentido de responsabilidade é necessário ainda mais no momento em que as empresas vêem reduzir-se as encomendas, as margens de acção, as possibilidades de ganho. Um maior empenho de dedicação, de criatividade, de disponibilidade da parte de empresários e trabalhadores contribuirá seguramente para o bem de toda a empresa e de todo o tecido económico. Esta crise pôs em evidência como no trabalho empresarial é absolutamente necessária a referência ao fundamento ético. Os dirigentes da empresa devem estar conscientes de que têm responsabilidades precisasem relação aos seus dependentes e respectivas famílias: um trabalhadornão é simplesmente uma das muitas componentes da empresa, mas é uma pessoacom expectativas, sonhos e projectos que vão para além do tempo passado no trabalho. Nunca podemos esquecer que “ as coisas têm preço; as pessoas têm dignidade” (Kant). Talvez seja verdade que, neste momento de crise, a única coisa certa é a incerteza, mas devemos ter confiança. Não uma confiança simplista numa solução mágica dos problemas, mas uma confiança no empenho de solidariedade de todos e na nossa presença ao lado de quem está em dificuldade. +António Marto, Bispo de Leiria-Fátima |