26 de julho, 2019

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Conceção utilitarista da vida “contamina” relações sociais e contribui para uma “sociedade do descarte”

Dia dos Avós foi celebrado no Santuário de Fátima, com missa e catequese sobre a importância dos mais velhos no seio das famílias e da sociedade

 

A visão utilitarista fomentada pela cultura atual faz com que o sentido da vida seja medido pela utilidade das pessoas e não pela necessidade que se tem delas e isso conduz a uma cultura do descarte, alertou esta tarde o diretor do Departamento de Pastoral da Mensagem de Fátima, que proferiu a catequese que assinalou a comemoração do Dia dos Avós no Santuário de Fátima.

“Há uma visão utilitária dos avós que acaba por gerar nos mais velhos a convicção de que a sua vida deixa de ter sentido quando deixam de ser úteis”, afirmou o Pe. José Nuno Silva lamentando que a sociedade de hoje basei o sentido da vida na utilidade que as pessoas possam ter.

“Isso é uma ofensa a Deus e uma ofensa aos homens”, enfatizou sublinhando que a vida do homem “não depende da utilidade que tem” pois “o seu valor é maior que a sua utilidade”.

O sacerdote, que abordou o problema da eutanásia, da institucionalização dos mais velhos, da falta de tempo e de espaço para eles, no seio da família, quando perdem algumas das suas faculdades, lamentou a falta de investimento social na promoção da dignidade e qualidade de vida dos mais velhos.

“Este é o grande desafio da nossa vida: garantir a dignidade das pessoas, do principio até ao fim”.

“Quantas vezes ouvimos dizer: eu já não sirvo para nada, não tenho qualquer préstimo, o que ando aqui a fazer, o melhor era Deus levar-me...Esta visão utilitarista das pessoas, sobretudo das mais velhas, contamina as relações sociais e está a dar cabo delas”, enfatizou.

“Temos de ser capazes de dizer aos avós, aos mais velhos, que mesmo não sendo úteis são necessários. Não podemos continuar a confundir utilidade com necessidade”, disse ainda.

O capelão do Santuário de Fátima abordou a questão da solidão dos mais velhos, da falta de atenção a que são votados e do “fardo” que vivem pelo seu isolamento.

“É aí que se joga a cultura do descarte que leva a uma cultura da morte porque, aí sim, a vida deixa de fazer sentido”, concluiu.

Na breve catequese que fez parte do programa da Peregrinação dos avós e dos netos, na Cova da Iria, o Pe. José Nuno Silva lembrou a uns e a outros que “é importante que ninguém abdique de ser o que é”.

Já de manhã, na missa na Basílica da Santíssima Trindade, o bispo de Bragança-Miranda, D. José Cordeiro, falou do “papel insubstituível e tão inestimável” dos avós não só no cuidado dos netos mas, sobretudo, na transmissão da fé.

“Essa missão hoje é muito entregue aos avós, que têm uma missão de serviço extraordinário. Estamos muito gratos e pedimos-vos que continuem esse trabalho, porque a Bíblia não é para estar escondida à espera que os meninos decidam se querem ou querem ser cristãos” afirmou D. José Cordeiro.

“A velhice é uma manifestação de estima por parte do Senhor; é um dom de Deus: os velhos têm de sonhar para que os novos possam profetizar para salvarmos a família e as relações entre nós” disse ainda lembrando que “precisamos uns dos outros até ao fim, na humildade e na gratidão. Por isso estamos gratos aos avós” e celebrar o seu dia em Fátima “tem um sabor diferente”, disse o prelado que encerrou também nesta eucaristia o 45º Encontro Nacional da Pastoral Litúrgica que decorreu durante a semana no Centro Pastoral de Paulo VI.

O Dia 26 de julho assinala a festa litúrgica de São Joaquim e Santa Ana, avós de Jesus e pais de Maria de Nazaré.

 

 

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