25 de junho, 2009

 
Caros irmãos Padres:
Após um frutuoso ano dedicado a S. Paulo, o Santo Padre propõe a toda a Igreja um “Ano Sacerdotal”, com o sugestivo lema “Fidelidade de Cristo, fidelidade do padre”. E coloca-o sob a égide e inspiração do Santo Cura d’ Ars, por ocasião do 150º aniversário da sua morte.
Ao completar três anos da minha tomada de posse como bispo da diocese, resolvi escrever uma carta aos meus irmãos padres sobre o Ano Sacerdotal, que mais directamente nos diz respeito, acrescentando algumas informações. Peço, pois, a vossa benevolência para a lerdes.
A acção do Cura d’ Ars desenvolveu-se numa situação caracterizada pela indiferença, pela  hostilidade e pelo cinismo em relação  ao cristianismo e à Igreja, num mundo pós-revolução francesa. O estado de crise da Igreja no seu tempo assemelha-se, em vários pontos, à situação que a Igreja enfrenta hoje.
A referência ao Santo Patrono não pode ser vista como uma “cópia” conforme ao modelo. Deve ser, antes, compreendida como uma dinâmica espiritual e pastoral de que ele continua a ser inspirador. De facto, o  povo apreciava nele o sacerdócio acorrendo em multidão, enquanto o via como testemunha da ternura salvífica de Cristo e da santidade na entrega total e quotidiana ao seu ministério de pastor.
Por que razões o Papa Bento XVI decidiu então proclamar um Ano Sacerdotal?
1. Em primeiro lugar, o Ano Sacerdotal pretende levar as comunidades cristãs a tomar consciência do ministério dos padres como um dom de Deus essencial para a vida e a missão  da Igreja, portanto, das próprias comunidades. É que hoje vivemos  numa cultura onde se mede tudo pelo funcional. E entre o povo cristão  também  se infiltrou esta visão deformada e redutora acerca do padre como funcionário duma instituição religiosa, um prestador de serviços de que se tem necessidade algumas  horas na vida. Assim perde-se a dimensão sobrenatural do sacerdócio de Cristo e dos padres para o povo de Deus e a humanidade.
 Hoje como ontem, os padres são um dom  inestimável e necessário para a beleza e a saúde espirituais da Igreja e do mundo.
Onde o bem estar é o limite  do horizonte, eles anunciam o Invisível que é Deus-Amor e a esperança que ele suscita e oferece.
Onde o que é rentável e mensurável domina e torna prisioneira a vida, eles querem ser “profetas”  do Evangelho do amor e da liberdade autênticos.
Onde as divisões ferem e destroem as relações, eles oferecem o dom do perdão divino e abrem caminhos de reconciliação, de comunhão e de paz.
No meio das mudanças profundas da nossa sociedade, os padres querem ser pastores bons e compassivos, incansáveis testemunhas da ternura e da misericórdia de Deus que salva o mundo. “Um bom pastor, um pastor segundo o coração de Deus, é o maior tesouro que Deus pode dar a uma paróquia e um dos mais preciosos dons da misericórdia divina” (Cura d’Ars).
2. Em segundo lugar, o Ano Sacerdotal pretende levar os próprios padres a redescobrir a beleza do seu sacerdócio, a dar um “salto de qualidade” na sua vida espiritual e pastoral, na sua entrega a Cristo e ao seu povo, para corresponderem o mais dignamente possível ao dom  e à responsabilidade de que são portadores. É o que chamamos  a “segunda conversão”.
Homens tomados dentre os homens, os padres também conhecem as suas próprias fragilidades e apoiam-se na graça de Deus (“Basta-te a minha graça”- disse o Senhor a Paulo), na fraternidade do presbitério e no amor e carinho das comunidades que servem.
A grandeza do ministério do padre não vem apenas do poder “agir em nome de Cristo” para anunciar o Evangelho, para celebrar a Eucaristia, para perdoar e para construir a comunhão. A força da sua missão vem também do facto de que as suas palavras e os seus gestos, pelos quais Cristo age no mundo, se enraízam na oferta que ele  faz da sua própria vida a Cristo e aos irmãos, em cada dia.
Tal como os pais fazem tantos sacrifícios para alimentar, vestir e educar os filhos, assim também o sacerdote os realiza, como pai espiritual, para assegurar os dons da salvação ao povo que Deus lhe confiou. E isto só  se faz com muita fé e muito amor! O próprio celibato é a expressão  dum amor que dá a vida pelo seu povo.
A usura do tempo leva porém a esmorecer os entusiasmos  do início: é o pó do tempo a cobrir  de insensibilidade mesmo as maiores realidades. Torna-se então mais propenso a “calcular” o que se dá; a sentir o peso de um cansaço subtil;  a agir de modo quase mecânico, privando de alma mesmo os gestos mais nobres e sagrados. Facilmente se pode resvalar para uma mediocridade de vida.
Não basta pois uma fidelidade puramente exterior, resignada, compensada por algum “sucedâneo” mais ou menos lícito ou  agradável.
Por tudo isto, o Ano Sacerdotal é um apelo aos sacerdotes a um exame de consciência e a dar um salto de qualidade na vivência do nosso sacerdócio. Em concreto: renovar o entusiasmo do primeiro “sim”; intensificar a renovação  da vida espiritual  “num coração a coração com Cristo” (Bento XVI), aproveitando as recolecções mensais e o retiro anual; ter uma “regra de vida” que assegure tempo e espaço para Deus e para os fiéis bem como para o repouso salutar; recuperar a fraternidade sacramental do presbitério frente a uma forte tendência para o individualismo no exercício do ministério; valorizar os dons e carismas dos fiéis, a sua corresponsabilidade na edificação da comunidade; cuidar, com desvelo, das vocações ao sacerdócio.
Que no vosso rosto brilhe a alegria de ser padre! Testemunhai com a vossa alegria irradiante que vale a pena ser padre! Proponde, com coragem, o caminho cristão da alegria!
Na sequência desta reflexão ouso solicitar a vossa participação interessada nos seguintes eventos eclesiais, marcando-os desde já na vossa agenda.
1.    O VI Simpósio do Clero de Portugal, de 1 a 4 de Setembro próximo, em Fátima, com o belo e apropriado tema: ”Reaviva o dom que há em ti”. As inscrições devem ser enviadas para o Vigário Geral, até 31 de Julho, com o valor requerido para a inscrição.
2.    A Festa da Dedicação da Catedral no dia 13 de Julho, com  celebração da eucaristia às 19 horas, que revestirá o tom de abertura do Ano Sacerdotal na nossa diocese.
3.    A “Festa da Fé. Rosto(s) da Igreja Diocesana”, de 21 a 23 de Maio de 2010, na cidade de Leiria, com vários eventos, a culminar o próximo ano pastoral dedicado à comunidade cristã. Mais tarde dar-se-à informação mais pormenorizada sobre esta festa de nível diocesano, que está em preparação.
4.    Os turnos de formação permanente para o clero de 18 a 22 e de 25 a 29 de Janeiro, que terão lugar na Casa das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, em Linda- a- Pastora, nos arredores de Lisboa.
A todos  e a cada um dos sacerdotes renovo a expressão da minha estima pessoal e toda a gratidão pelo trabalho dedicado e por toda a colaboração. Confio-vos a todos, na oração, à protecção materna de Nossa Senhora, Rainha dos Apóstolos.
Um abraço fraterno do vosso irmão bispo,
Leiria, 25 de Junho de 2009
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
 
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