11 de maio, 2024

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Apoio aos peregrinos a pé: “uma forma de rezar”

O reitor do Santuário visitou, esta sexta-feira, 3 dos cerca de 60 postos que, por estes dias, prestam assistência aos peregrinos a pé, a caminho de Fátima.

 

Milhares de peregrinos estão, por estes dias, a caminho de Fátima, para participarem nas celebrações da Peregrinação Internacional Aniversária de 12 e 13 de maio, na Cova da Iria. No percurso até ao Santuário, são vários os postos de assistência fixos onde podem retemperar as forças, receber cuidados de enfermagem e fisioterapia ou apenas tomar um banho.

Na manhã desta sexta-feira, o reitor do Santuário de Fátima, padre Carlos Cabecinhas, e o diretor do Departamento de Liturgia do Santuário, padre Joaquim Ganhão, foram visitar alguns destes postos, no caminho a norte, para agradecer o serviço prestado pelas várias entidades que colaboram neste apoio.

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Centenas de peregrinos percorriam, esta sexta-feira, os últimos quilómetros do caminho do norte.

 

Uma massagem nos pés e dois dedos de conversa

A dois dias do 12 de maio, os passeios da estrada que liga Fátima ao posto de acolhimento mais próximo, a cerca de cinco quilómetros do Santuário, são já ocupados quase ininterruptamente por grupos de peregrinos a pé. Na derradeira reta, onde já se vislumbra a torre sineira da Basílica de Nossa Senhora do Rosário, o alento e os passos firmes e apressados não escondem a ansiedade de quem sente a meta ali bem perto. É a fase final de um longo caminho, onde os dias de sol ou chuva e as noites de sono improvisado dão lugar a um nervoso miudinho, que se adensa a cada passo na direção do Santuário.

“O longe se faz perto, quando se tem fé”, desabafa uma peregrina, à chegada ao posto de acolhimento de Santa Catarina da Serra, onde a Ordem Soberana e Militar de Malta acolhe quem por ali passa, a caminho da Cova da Iria. Uma lona com a imagem da Última Ceia marca a entrada do lugar, situado no salão paroquial. Ao fundo, cadeiras e mesas de apoio estão dispostas em linha, prontas para servir de apoio no tratamento de calos, bolhas nos pés ou pernas cansadas.

A dar a mão a este trabalho voluntário, desde 1978, está Manuela Machado, que distingue facilmente as diferenças com a peregrinação a pé a Fátima de há 40 anos.

“Atualmente, o peregrino aceita melhor as nossas recomendações e os grupos vêm mais bem preparados para o caminho”, assegura a médica reformada, natural do Porto. “Antes, muitos até vinham descalços e alguns chegavam a morrer”, conta, ao recordar histórias de grávidas, idosos e crianças que chegavam muito debilitadas aos postos de assistência.

Um tratamento é pretexto para dois dedos de conversa, “até porque a assistência ali prestada vai além da parte física”, garante a voluntária da Ordem de Malta. “É fundamental que haja tempo para ouvir e para relaxar, por forma a que o peregrino possa aguentar fisicamente o caminho que ainda falta fazer”.

Do lado de fora, um grupo de peregrinos da Gandra, Paredes, entoa, de mãos dadas, um cântico mariano, a finalizar um momento de oração. Na saída do posto de assistência, o reitor do Santuário abeira-se e cumprimenta alguns membros do grupo. “Estamos habituados a vê-lo ao longe, nas celebrações… Que bom tê-lo aqui ao perto”, confidencia uma peregrina, num sorriso grato pelo encontro fortuito naquele lugar, ainda a caminho do Santuário.

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Peregrina, à entrada do posto de assistência nas Colmeias, coordenado pelo Movimento da Mensagem de Fàtima, com a ajuda de estudantes do Instituto Politécnico de Leiria.

 

“Faço isto por amor ao irmão peregrino”

Para norte, o próximo posto de assistência é na freguesia das Colmeias, a 20 quilómetros de Fátima. No caminho até lá, a presença contínua de peregrinos à beira da estrada garante que se está no caminho certo.

A meio do percurso, uma imagem de Nossa Senhora é lugar de paragem obrigatória para muitos peregrinos, que ali deixam, em forma de agradecimento, coletes, varas e outros objetos que os acompanharam até àquele ponto.

É o Movimento da Mensagem de Fátima (MMF) que coordena o posto das Colmeias. O edifício é “um sonho cumprido” do responsável pelo Secretariado do MMF de Leiria-Fátima, Faustino Ferreira, que agilizou esforços para que os peregrinos pudessem ter naquele lugar de passagem um espaço onde se pudessem alimentar, pernoitar e tomar um duche.

“Faço isto por amor ao irmão peregrino e sinto-me realizado. Ainda ontem estiveram aqui 40 pessoas a dormir. Chegaram à noite, tomaram banho e, hoje de manhã, receberam cuidados das enfermeiras que aqui estão”, conta o responsável, ao apontar para um grupo de jovens voluntárias que recebem os peregrinos que vão chegando. São estudantes de enfermagem no Instituto Politécnico de Leiria (IPLeiria) e estão ali como voluntárias através de um protocolo que aquela instituição de ensino estabeleceu com o MMF (foto abaixo).

“Neste projeto de apoio aos peregrinos, prestamos cuidados de enfermagem aos peregrinos de Fátima, que aqui chegam com problemas de exaustão, desidratação e com feridas nos pés. O apoio é dado pelos estudantes do curso de enfermagem e de fisioterapia”, explica a professora Sónia Ramalho, da Escola Superior de Saúde do IPLeiria, que supervisiona o apoio dado pelas alunas com a colega Eva Menino, que se sente inspirada pela determinação e superação dos peregrinos que ali acorrem.

“Sensibiliza-me que, apesar de todas as dificuldades, das dores e do sofrimento físico que sentem neste caminho, os peregrinos encontrem na fé e na devoção uma energia incrível para continuar e chegar emocionalmente bem a Fátima”, revela a docente.

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Grupo de estudantes de enfermagem que prestam assistência no posto do MMF, nas Colmeias.

 

“Não estamos aqui por nós, mas pelas pessoas”

“Os cuidados de saúde são fundamentais, mas é a pessoa que tem de estar no centro dos nossos cuidados”, remata Eva Menino, antes de dar voz a Andreia Lains, uma das alunas voluntárias, que reafirma a ideia da supervisora.

“Não estamos aqui por nós, mas pelas pessoas. Nós estudamos muitas coisas, uma das quais é a comunicação terapêutica, com base na qual prestamos este apoio. É essencial interagir e ouvir as pessoas, para ir ao encontro das suas necessidades”, explica a jovem de 23 anos, ao reconhecer a experiência prática e de comunicação que este trabalho de assistência potencia.

Na cozinha, o reitor do Santuário fala com as três voluntárias do MMF que ali preparam as refeições para os peregrinos. A divisão está num dos cantos do edifício, que aparenta ser recente e muito bem cuidado. A sala principal, no meio, tem um formato de uma cruz e, a cada canto, além da cozinha, uma segunda sala serve de arrumos, numa outra estão dispostas duas marquesas e, logo na entrada, numa pequena capela, um pequeno grupo de peregrinos recita o Terço.

“A Imagem de Nossa Senhora foi oferecida por um emigrante que está nos Estados Unidos da América e que todos os anos nos vem visitar e apoiar”, conta Faustino Ferreira, enquanto se despede do padre Carlos Cabecinhas.

 

Uma forma de rezar

A frescura da manhã primaveril dá lugar a um duro sol do meio-dia, parco em sombras. Apesar das condições pouco favoráveis para a marcha, a viagem até ao posto de assistência do Barracão, já no limite do distrito de Leiria, continua a ser feita na companhia de pequenas multidões de peregrinos a pé.

Meia dúzia de tendas do exército compõem o posto que é coordenado pela Ordem Soberana e Militar de Malta, num baldio roçado recentemente. Do lado de fora, bancos e bacias oferecem um primeiro cuidado aos peregrinos, que ali podem lavar e refrescar os pés. Na tenda em frente, uma dezena de voluntários massaja cuidadosamente os pés de outros tantos peregrinos, animados por uma conversa que é alimentada entre ambos.

“Isto não é só cuidar das feridas. Aqui, também recebem uma palavra de conforto e uma conversa relaxante, que lhes dá ânimo para esta fase final do caminho”, garante Miguel de Mendonça, que coordena o posto de assistência. “Ainda há pouco, uma das enfermeiras falava com um jornalista de televisão sobre o tratamento das bolhas nos pés, quando o peregrino que ela tratava disse: ‘mas o melhor aqui é quando me tratam das bolhas da cabeça’”, conta, ao soltar o riso, o responsável, que no trabalho voluntário que presta há já quatro décadas nota uma “evolução muito grande”.

“Ao longo destes últimos anos, houve aqui um trabalho importante na organização do caminho e na formação que é dada aos guias de peregrinos a pé. Em resultado disso, os grupos vêm agora mais bem organizados e comandados, alguns até já com médicos e enfermeiros”, refere. “A peregrinação não tem de ser um momento de muito sacrifício, pelo contrário, até deve ser um momento de alegria, porque é com alegria que rezamos melhor”, acrescenta o coordenador do posto de assistência do Barracão.

É Miguel de Mendonça que recebe os peregrinos. Após o acolhimento inicial, oferece-lhes uma senha, que serve para marcar a ordem de chegada. Na proximidade da hora do almoço, o bloco já está quase vazio e o posto já se encontra com um número significativo de peregrinos. À medida que as horas passam, a assistência torna-se cada vez mais exigente, mas os voluntários que ali estão não dão sinal de cansaço.

“Para mim, este dar o meu tempo aos outros é uma forma de rezar. No final, posso sair daqui cansado, mas revigorado da alma”, afiança o responsável.

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Voluntárias da Ordem de Malta prestam assistência aos peregrinos, no posto do Barracão.

 


O apoio ao peregrino a pé é garantido por várias entidades, orientadas pela Comissão de Apoio ao Peregrino a Pé, que é coordenada pelo Movimento da Mensagem de Fátima. Além do Santuário de Fátima, integram esta ajuda a Ordem Soberana e Militar de Malta, a Associação dos Servitas de Nossa Senhora de Fátima, a Cruz Vermelha Portuguesa, a Associação Caminhos de Fátima, a GNR, Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, a VOST Portugal - Associação de Voluntários Digitais em Situações de Emergência, as Infraestruturas de Portugal e o Corpo Nacional de Escutas.

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