03 de fevereiro, 2009

Luís Matias, membro da Comissão Organizadora do Primeiro Congresso Nacional de Antigos Alunos dos Seminários, convidado a reflectir sobre o papel da instituição na sociedade portuguesa, não hesita a afirmar que apesar de ter “acordado” laico, o Século XX em Portugal deve muito aos seminários portugueses.  
Falta no entanto, sublinha, uma reflexão séria sobre esta realidade, objectivo que a iniciativa do Santuário de Fátima pretende concretizar no mês de Abril, com a realização do Congresso, uma organização conjunta com as associações de antigos alunos dos seminários, Confederação Portuguesa dos Antigos Alunos do Ensino Católico e a colaboração de todos os seminários portugueses.
“Durante séculos, poder temporal e religioso andaram próximos. Mas o Século XX acordou laico. Em certo sentido e em muitos casos, até ateu. Foi o legado directo do século anterior, e indirecto dos dois séculos precedentes. Mas sendo o século XX em Portugal um século laico, deve muito e em todas as suas dimensões aos seminários portugueses”, sublinha este antigo aluno do Seminário de Leiria actualmente a exercer funções na área da direcção hospitalar. Recorda ainda que “pelo menos até final da década de 60, o sistema de ensino era muito escasso e elitista. Pelos Seminários, instituição da Igreja para formar os seus ministros (sacerdotes), passaram milhares de alunos, a maior parte dos quais não chegaram ao Magistério da Igreja. Assim, de forma indirecta, os Seminários deram o maior contributo à vida laica portuguesa, em todos os seus quadrantes. Independentemente das opções futuras e do rumo que cada antigo aluno seguiu nas suas vidas, é inegável que a grande parte da cultura e da vida social portuguesa passou pelos seminários, e foi influenciada por eles.”.
Uma característica da Igreja desde os primeiros momentos, e que ainda a distingue, é a exigência na formação integral, devidamente estruturada e conseguida nos Seminários.
“A responsabilidade (da Igreja), desde cedo criou a exigência de garantir uma boa e profunda formação aos seus responsáveis, formação essa que, no contexto de cada época, sempre foi muito mais vasta que o estudo das ciências religiosas e das questões da Fé”, considera Luís Matias, casado, pai de menina, e que também dedica parte do seu tempo à solidariedade, trabalhando na ‘Aldeias de Crianças SOS’, uma organização internacional que apoia crianças em risco.
Também no mundo actual, sublinha este responsável, “além de todas as figuras da Igreja, estrutura que continua a ter enorme participação e influência em todos os quadrantes da vida social contemporânea, encontramos antigos seminaristas na política, música, artes plásticas, universidades e ensino, na investigação, na solidariedade, estruturas militares, autarquias, ciências económicas, magistratura e sistema jurídico, Medicina, na vida empresarial, comunicação social, na vida simples e indiferenciada, com influência nas famílias e nas pequenas comunidades. Mesmo pessoas ilustres e com contributos públicos relevantes que não passaram pelos seminários, foram muitas vezes influenciados por eles através dos seus mestres que, por sua vez, beberam a rica experiência destes completos locais de formação.”
Sobre a pertinência da realização deste primeiro congresso de antigos seminaristas de Portugal, agendado para o Centro Pastoral Paulo VI, no Santuário de Fátima, Luís Matias reitera que “até agora, muita gente reconhece a verdadeira missão dos seminários, e também o seu fundamental contributo a toda a sociedade. Contudo, não foi ainda feita (ou não conhecemos) uma reflexão global devidamente destacada na sociedade portuguesa”, e daí a importância da concretização de um congresso sobre este âmbito de trabalho da Igreja Católica.
“Estamos num crucial momento de mudança, e a grande escola que foram os seminários do Século XX (necessariamente diferentes do século XXI), não pode passar despercebida. Vamos reflectir sobre isso: a sua importância, o seu legado no seio da Igreja e à sociedade, o contributo que os seus antigos alunos podem dar à Igreja e à sociedade do futuro”, conclui Luis Matias, que está certo que o congresso será “um excepcional momento de reflexão, de encontro, de convívio, de partilha e emoções e, certamente, um importante contributo para o futuro”.
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