Ano Santo da Misericórdia “estimulou-nos a um olhar novo sobre o mundo”
Bispo de Leiria-Fátima desafiou os peregrinos a darem continuidade ao acolhimento, ao perdão e à solidariedade
O bispo de Leiria-Fátima encerrou esta manhã a Porta Santa do Santuário- a Porta de São Tomé- sublinhando que depois deste Ano Jubilar “abre-se um tempo novo” que “desafia todos os crentes a uma nova etapa evangelizadora”.
“Não é o momento de fazer agora um balanço. Mas, sem dúvida, ele (o Ano Jubilar) imprimiu uma sensibilidade espiritual e um estilo pastoral que devem ser impulso e pauta da atuação dos cristãos e da Igreja”, disse D. António Marto, na homilia que proferiu este domingo em que, para além do encerramento da Porta Santa do Santuário, se celebra o aniversário da Solenidade da Dedicação da Basílica da Santíssima Trindade e se faz memória das Aparições de Nossa Senhora aos pastorinhos, na Cova da Iria.
“É uma feliz coincidência. A dedicação da basílica evoca o aspeto central da mensagem de Fátima: o amor trinitário de Deus que na sua misericórdia se inclina sobre os dramas e as feridas da humanidade. Por sua vez, o Ano Santo, proporcionou-nos entrar, pouco a pouco, nas riquezas da misericórdia divina tão necessária para o nosso mundo tão carecido de perdão, de cura e de paz”, referiu o bispo de Leiria-Fátima.
Para o prelado diocesano, depois deste ano extraordinário da Misericórdia, “que foi um momento extraordinário de graça”, podemos dizer “que se abre agora um tempo novo e desafiante: a receção da misericórdia para a vida e missão da Igreja, para uma nova etapa evangelizadora no mundo de hoje”.
“O Ano Santo termina, mas o seu impulso não pode parar” precisou desafiando os peregrinos a questionarem-se sobre que marca deixou em cada um este Ano Santo e como lhe pode ser dada continuidade.
Para o bispo de Leiria Fátima uma das ideias essenciais deixadas por este Ano Santo prende-se com a “questão de Deus” que nos foi apresentado como “o rosto da misericórdia” e, hoje, mais do que nunca, é preciso viver com a certeza “de que Deus nunca nos abandona”.
Refletindo a partir do Evangelho deste domingo- o convite feito por Jesus a Zaqueu- D. António Marto afirmou que “Zaqueu é o milagre que a misericórdia de Deus realiza nas pessoas: o amor que cura, perdoa, levanta, recria a pessoa, restitui a dignidade”.
“A ternura e a misericórdia são única força capaz de atrair, conquistar e transformar o coração de cada pessoa com as suas fragilidades” disse o prelado sublinhando que a “misericórdia do Pai é imensamente maior que o nosso coração e mais poderosa que a nossa fraqueza e o nosso pecado”.
“Deus não se cansa de nos perdoar, não descansa sem nos encontrar e nunca desiste de nos buscar. Está sempre à nossa espera e espera sempre na possibilidade de bem que a sua bondade semeia no coração de cada um”, salientou.
Na homília, o bispo de Leiria-Fátima destacou que a misericórdia “há de ser a atitude constante da igreja”.
“Deve enformar toda a vida e ação da Igreja e das comunidades cristãs, para serem sinal e instrumento da misericórdia de Deus”, desde logo, porque “a Igreja não está no mundo para condenar, mas para permitir o encontro com aquele amor entranhado que é a misericórdia de Deus”.
“A Igreja e cada comunidade devem ser casa materna da ternura e da misericórdia onde cada um seja acolhido, escutado, compreendido, acompanhado, perdoado, ajudado e encorajado a viver a vida boa do evangelho; uma Igreja `hospital de campanha´ cuja prioridade é acolher e cuidar dos feridos e ajudar a curar as feridas” disse D. António Marto destacando a necessidade de um novo método pastoral assente no “acolher, acompanhar, discernir e integrar os seus filhos mais frágeis marcados pelo amor ferido ou extraviado, ou mesmo perdidos no meio das tempestades”.
O prelado, que falou para uma assembleia composta maioritariamente por peregrinos portugueses e espanhóis (cinco grupos inscritos), enfatizou ainda como este ano Santo se assume como a “profecia de um mundo novo”.
“A misericórdia pede uma Igreja que olhe para o mundo com olhos novos e se aproxime dele com atitudes novas; uma Igreja em saída que seja sinal da proximidade e da ternura de Deus nas periferias humanas a fim de que a sociedade atual redescubra a urgência da solidariedade, do amor e do perdão” o que se consegue através de gestos concretos, “simples mas de grande valor” como são as obras de misericórdia, que “promovem a qualidade de vida e uma nova cultura”, provocando uma “verdadeira revolução cultural, a revolução da ternura”
“A misericórdia não se reduz a um slogan de efeito ou a um bom sentimento. É vida concreta, é estilo de vida, é cultura de fraternidade” disse o prelado.
“A misericórdia dá o melhor e não o que sobra; é capaz de ir ao encontro dos outros e não fica na indiferença fria e cínica; é capaz de ternura, de proximidade, de compaixão, de acolhimento, de partilha, de solidariedade face à cultura do descarte e da exclusão” concluiu D. António Marto.
Este domingo, nas catedrais e santuários de todo o mundo, são fechadas as Portas da Misericórdia abertas no Ano Santo extraordinário convocado por Francisco, que se iniciou em dezembro de 2015. Este domingo, o Santuário de Fátima faz festa com a solenidade litúrgica da dedicação da Basílica da Santíssima Trindade, no dia em que faz memória das Aparições de Nossa Senhora na Cova da Iria.
A igreja recebeu o título de basílica pelo decreto de 19 de junho de 2012 assinado pelo prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos (Santa Sé), cardeal António Cañizares Llovera.
O documento indicou o 13 de novembro como o dia da festa litúrgica da Basílica da Santíssima Trindade, dedicada em 2007.
A igreja tem forma circular, com 125 metros de diâmetro, e é sustentada por um grande pilar que suporta toda a cobertura e evita colunas no interior do edifício, projetado por Alexandros N. Tombazis, arquiteto grego.
“Basílica” é o título concedido pela Santa Sé a algumas igrejas pela sua antiguidade ou por serem centros de peregrinações.
A palavra “basílica”, com origem nos termos gregos “basileus” (rei) e basilikos (real), era utilizada em Roma para designar grandes edifícios de reunião, como tribunais e átrios onde se celebravam os contratos.
No final da celebração foi benzida uma imagem de Nossa Senhora do Rosário de Fátima que será enviada para Moçambique.
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