04 de junho, 2009
Comunicado do Departamento de Arte e Património do Santuário de Fátima A propósito do falecimento do Arquitecto Erich Corsepius (1929-2009) Detentor de um profícuo percurso reflexivo acerca da arte sacra, Erich Corsepius aceitou o convite que, em 1974, o Santuário de Fátima lhe dirigiu para integrar a equipa do Serviço de Ambiente e Construções que, durante mais de um quarto de século, viria a programar construções tão importantes como a renovação estética da Capelinha das Aparições, das Casas de Retiros e da Reitoria, a construção do Centro Pastoral Paulo VI e da Igreja da Santíssima Trindade. Licenciado em arquitectura pela Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, integrou, na década de 50, o Movimento de Renovação da Arquitectura Religiosa, importante areópago que mudou a forma de pensar a arquitectura em Portugal. Na viagem que trilhou pelos caminhos da arte sagrada, Erich Corsepius defendeu que a arquitectura religiosa se deveria revestir de formas novas relacionadas com uma «disposição [que] favorece[sse] positivamente a participação nos actos celebrativos», como refere num dos seus últimos documentos escritos. Nessa viagem, a cultura religiosa acompanhou sempre a artística e por isso, não raramente, vemos, na documentação que no futuro testemunhará acerca da programação das obras do Santuário de Fátima, as preocupações espirituais que introduzia no que projectava. Também a sua reflexão sobre a arquitectura se viu, múltiplas vezes, colocada em letra de forma, deixando a sua análise e seu pensamento registados quando foi chamado a escrever sobre o urbanismo de Fátima em artigos como “Análise Física do aglomerado Urbano – passado e perspectivas de futuro”, in: Expansão Urbanística de Fátima; “Urbanismo”, in: Enciclopédia de Fátima; “Aljustrel – Perspectivas para o futuro: mensagem e planeamento”, in: Aljustrel e Valinhos: o outro pulmão do Santuário de Fátima; “Breve História do Santuário desde 1975”, in: Arquitectura Ibérica. Nas palavras de Mons. Luciano Guerra, reitor do Santuário de Fátima entre 1973 e 2008, proferidas quando da inauguração da nova igreja do Santuário, em Outubro de 2007, Erich Corsepius foi «a ‘abelha-mestra’ desde o início [da criação do SEAC], delineando todos os programas, preparando três complexos concursos de arquitectura, dois dos quais internacionais, e acompanhando pari passu os projectos apresentados pelos concorrentes, e a respectiva execução» (Voz da Fátima, 2008.10.13). Efectivamente, para além da obra mais visível que o arquitecto deixou em Fátima, como é o altar do Recinto de Oração, como é a remodelação do presbitério da basílica ou como é a capela de São José, Corsepius foi o arquitecto invisível, mas omnipresente, em todas as obras do Santuário de Fátima, acompanhando o Santuário e por ele se fazendo presente junto dos autores dos planos em execução. Está, por isso, umbilicalmente ligado à grande mudança estética destes tempos em Fátima. Como director do Serviço de Ambiente e Construções do Santuário, coube-lhe, no momento ritual da inauguração da Igreja da Santíssima Trindade, entregar nas mãos do bispo de Leiria-Fátima uma grande chave como símbolo da igreja que, naquela hora, se entregava à autoridade diocesana. Ernest Erich Wolfgang Corsepius, com obra visível, por exemplo, na Igreja de São João de Brito e na Igreja de São Jorge de Arroios, em Lisboa, deixa no Santuário de Fátima uma incomensurável obra visível e invisível da qual foi especial protagonista. Santuário de Fátima, 3 de Junho de 2008 Marco Daniel Duarte Departamento de Arte e Património | Museu do Santuário de Fátima |