27 de março, 2025
![]() A perseverança e a autenticidade da “guardiã da mensagem de Fátima”No aniversário do nascimento da venerável Irmã Lúcia de Jesus, traçamos um perfil da vidente que tomou a difusão da mensagem de Fátima como missão, pelo olhar de quem mergulhou na sua história de vida.
No 118.º aniversário do nascimento da Irmã Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, que se celebra a 28 de março, recordamos a vidente das aparições de Nossa Senhora em Fátima, em 1917, através do perfil traçado por José Rui Teixeira, o investigador que colaborou na elaboração da Positio sobre a vida, virtudes e fama de santidade da Irmã Lúcia, apresentada no Vaticano a 13 de outubro de 2022, no processo que levou ao reconhecimento da vidente como Venerável a 22 de junho do ano seguinte. Quando, no verão de 2018, foi convidado para assumir este “trabalho monumental”, José Rui Teixeira estava longe de imaginar que, após “dois anos de trabalho intenso”, este resultaria numa biografia de quase 500 páginas, com mais de 3500 citações. "No início, parecia-me muito angustiante, mas, aos poucos, tive a sensação de que tudo ia acontecer direitinho", assume o escritor, ciente de que a pandemia o ajudou a ganhar tempo útil para se dedicar de uma forma mais aprofundada a este projeto, que ficou concluído para tradução cerca de dois anos depois do início, em dezembro de 2020.
Uma vida fascinanteA metodologia que José Rui Teixeira assumiu para a redação da biografia teve de ser rigorosa, face às dezenas de resmas de documentos que se viu obrigado a ler, uma imersão que acabou por ser fundamental para que, progressivamente, Lúcia se tornasse “uma nova personagem do mais íntimo interesse pessoal". "Se não me apaixonasse por ela do ponto de vista histórico, seria penoso passar dois anos neste trabalho, mas Lúcia tem uma sensibilidade poética tremenda e uma personalidade extremamente forte e inabalável", afiança o investigador, que, rapidamente, se sentiu cativado a aprofundar a vida “fascinante” da vidente. “Lúcia é uma mulher profundamente marcada pelo sentido de providência e isso faz com que ela resista a vicissitudes que, humanamente, muita gente não seria capaz de ultrapassar, sempre marcada por um compasso de espera em função daquilo que Deus queria para a sua vida”, acrescenta, definindo este traço como “uma certa obstinação”. “Há uma luta por aquilo que ela considera ser a sua missão, a sua matriz, o âmago da mensagem de Fátima, que faz com que ela esteja disposta a seguir este caminho”.
A mãe, o bispo e os primosA convicção de que Lúcia “faz com que toda a sua experiência e memória se entranhem na sua existência” e que “nunca ninguém lhe arrancaria aquilo que levou" é clara para José Rui Teixeira. Talvez por isso aponte a perseverança e a autenticidade como os traços mais marcantes da personalidade da Irmã Lúcia, que não vacilou, mesmo sob pressão, desde logo da sua mãe. "A mãe de Lúcia era uma mulher inquebrantável, com uma moralidade rígida, e foi Lúcia que se impôs para seguir a sua vocação", constata, ao caraterizar a relação entre ambas como “profunda, de parte a parte”. No bispo de Leiria, Lúcia encontrou uma figura paternal, aponta José Rui Teixeira. “D. José Alves Correia da Silva era um homem muito compreensivo, meigo e preocupado com Lúcia, que tinha por ele uma verdadeira relação filial de confiança. Só ele teria arrancado de Lúcia as Memórias, que são uma espécie de grande carta escrita ao bispo de Leiria, a contar a sua história, a pedido”, revela. Já a amizade com os primos, Francisco e Jacinta, é descrita como enternecedora. “Que paixão tão grande! E nota-se esse carinho nas Memórias, onde Lúcia nos revela passagens absolutamente preciosas. Se a relação com a mãe é mais intensificada em termos dramáticos, quase literários, com a Jacinta e com o Francisco a relação é de profunda empatia”, salienta o teólogo.
A guardiã da Mensagem de Fátima“Apesar da clausura, é Lúcia que condiciona a imagética de Fátima, dando as indicações para as principais representações de Nossa Senhora e de todo o contexto de Fátima, e é ela que, na retaguarda, pugna incansavelmente pela dimensão devocional de Fátima”, admite José Rui Teixeira, ao destacar uma vez mais a resiliência da vidente. “Quando as coisas surgem em Fátima, nós não imaginamos que Lúcia está por detrás. Ela insistia até à exaustão, de modo a fazer vingar uma realidade que ela crê ser determinante, nesta história. Portanto, ela é uma lutadora incansável”. Para José Rui Teixeira, que estudou exaustivamente a vida longa e rica da Irmã Lúcia para construir uma narrativa biográfica, não será fácil sintetizar um perfil. No entanto, no final da conversa, desafiámos o teólogo com uma última pergunta: se pudesse definir a Irmã Lúcia numa caraterística, qual seria? “Se há algo a salientar da vida de Lúcia é a consciência simultânea de que só Deus sabe quem ela é e o permanente desejo de santidade. Ela é uma mulher de sacrifício, no sentido de não encontrar limites, cedências particulares em função de algo que considera maior”. A Positio sobre a vida, virtudes e fama de santidade da Irmã Lúcia, na qual consta a biografia da Irmã Lúcia, foi entregue no Dicastério para as Causas dos Santos, em Roma, a 13 de outubro de 2022, pelo postulador geral da causa de canonização, padre Marco Chiesa, e pela vice-postuladora, irmã Ângela de Fátima Coelho. Depois de ter sido analisada por um conjunto de nove teólogos, que emitiram o seu parecer favorável sobre a prática das virtudes em grau heroico, o parecer positivo do Dicastério para as Causas dos Santos foi apresentado ao Papa, que aprovou a publicação do respetivo decreto a 22 de junho de 2023, passando a Irmã Lúcia a ser considerada Venerável.
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