13 de agosto, 2022

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A nossa responsabilidade pela casa comum

Pelo padre Carlos Cabecinhas*

Todos os anos experimentamos o sobressalto dos incêndios florestais. A assustadora regularidade deste flagelo está bem expressa na nossa linguagem coloquial: falamos da “época de fogos florestais” como se de uma inevitabilidade se tratasse. Ora, esta é uma questão que nos diz respeito a todos e, por isso, vos proponho que reflitamos sobre a nossa responsabilidade pela casa comum.

Este ano, as condições climatéricas conjugadas com outros fatores, nomeadamente o estado de áreas florestais, trouxe-nos à memória a recente tragédia de 2017, que teve em Pedrogão Grande a sua expressão mais dramática e terrível. De um momento para o outro, os incêndios florestais relegaram para segundo plano a pandemia e a guerra na Ucrânia. Voltamos a reviver a aflição das populações ameaçadas, a destruição das florestas dos campos agrícolas e de casas. E voltámos a ouvir os apelos a penas mais severas para incendiários, como se a responsabilidade por este flagelo fosse apenas de uns tantos criminosos sem consciência. A maioria dos incêndios não começa propositadamente, mas por negligência. Os dados recolhidos sobre a origem dos incêndios mostram que a esmagadora maioria tem origem em ação humana: ou por incúria e irresponsabilidade – queimadas não controladas, uso indevido de máquinas em área florestal, ignições aparentemente inofensivas, etc. – ou por crime de fogo posto propositadamente. Mais do que apontar culpados – cabe às autoridades competentes tratar disso –, importa que cada um de nós teme consciência da sua responsabilidade.

Com a Encíclica “Laudato Si’”, de 2015, o Papa Francisco veio chamar a atenção para a responsabilidade de todos no cuidado pela casa comum. “Um cuidado que aprendemos com Deus, na medida em que assumimos que somos instrumentos dele, que todos podemos colaborar, como instrumentos de Deus, no cuidado da criação, cada um a partir da sua cultura, experiência, iniciativas e capacidades” (n. 14). Nenhum de nós se pode considerar excluído desta responsabilidade, pois todos podemos fazer alguma coisa e não apenas os proprietários de terrenos florestais ou agrícolas. Muitos de nós podemos fazer algo concreto, como apoiar os que combatem os incêndios e seguir os procedimentos recomendados de proteção das áreas florestais. Mas todos podemos fazer algo pela casa comum que é o planeta em que habitamos, de modo a combatermos as alterações climáticas, que provocam situações extremas como estas vagas de calor associadas a longos períodos de seca. Todos podemos ser instrumentos de Deus no cuidado da criação.

Não posso terminar sem uma palavra também sobre os bombeiros, os “soldados da paz”, muitos deles voluntários, e todos os que combatem os incêndios, dos membros da estrutura da proteção civil aos pilotos de aviões e helicópteros de combate a incêndios. Estas pessoas arriscam as suas vidas em prol de todos e são incansáveis no esforço pela salvaguarda da casa comum. É importante que sintam a nossa solidariedade e apoio concreto em todos os momentos, mas sobretudo nestes momentos dramáticos.

 

*O padre Carlos Cabecinhas é reitor do Santuário. Este texto é o editorial da Voz da Fátima de agosto

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