A missão “da nossa vida” é “fazer aos outros o que Jesus fez por nós”
4º Congresso Eucarístico reúne em Fátima centenas de participantes
Viver a Eucaristia como fonte de Misericórdia e refletir sobre a importância da adoração eucarística na conversão são dois dos temas centrais do 4º Congresso Eucarístico que decorre, pela primeira vez em Fátima, de 10 a 12 de junho. Organizado pela Conferência Episcopal Portuguesa, conta com o apoio do Santuário de Fátima e do Secretariado Nacional do Apostolado de Oração.
O Congresso, que reunirá vários conferencistas, entre eles o cardeal brasileiro D. João Braz de Aviz, Prefeito da Congregação da Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólico; o arcebispo D. Piero Marini, Presidente do Pontifício Comité para a Organização dos Congressos Eucarísticos; o reitor do Santuário de Fátima, Pe Carlos Cabecinhas e a postuladora da Causa de Canonização dos Beatos Francisco e Jacinta Marto, Ir. Ângela Coelho, realiza-se na Cova da Iria pela primeira vez porque a “Mensagem de Fátima está ligada à Eucaristia tanto no que respeita às aparições do Anjo, em 1916, quer às de Nossa Senhora”, disse à Sala de Imprensa do Santuário e ao jornal Voz da Fátima o Pe António Valério, representante do Secretariado Nacional do Apostolado de Oração na Comissão organizadora do Congresso.
Nesta entrevista à Sala de Imprensa e ao Voz da Fátima o sacerdote fala da importância da fé no Cristo Eucarístico e do papel da Eucaristia que “não é apenas para ser celebrada, comungada e adorada mas para pôr em prática, dando a nossa vida a quem precisa dela”.
Sala de Imprensa- Este congresso propõe-nos viver a Eucaristia, fonte de misericórdia. Vivemos o Ano Santo da Misericórdia, de que forma esta mensagem está a ser vivida entre os cristãos?
Pe António Valério- Estamos, de verdade, a viver um tempo de graça na Igreja, com o Ano Santo da Misericórdia. Poderia ser apenas um ano de celebrações grandiosas ou eventos comemorativos, e também o é, mas a Igreja tem estado certamente a crescer na consciência de que a misericórdia é o coração do Evangelho. Centra-nos na pessoa de Jesus, ao qual temos acesso de modo único no sacramento da Eucaristia. Celebrar a Eucaristia é tornar presente aquilo que Jesus fez por cada um de nós, oferecendo-Se até ao fim para nos salvar. É o acontecimento definitivo do amor de Deus pelos seus filhos. E a Eucaristia é a grande Obra de Misericórdia que Deus continuamente oferece à sua Igreja. A celebração deste sacramento, neste Ano Jubilar, reveste assim uma singular importância, e acredito que os cristãos estão a ter uma maior consciência deste dom central da vida e santidade cristãs.
Sala de Imprensa- Vivemos em Fátima o Centenário das Aparições do Anjo que precedem o centenário das Aparições de Nossa Senhora: a Eucaristia, a adoração eucarística e a misericórdia são palavras chave da mensagem de Fátima. De que forma este congresso contribue para a projeção desta mensagem?
Pe António Valério- A data e o local deste Congresso Eucarístico Nacional não são casuais, pois assinalam exatamente aquilo que pergunta. De uma forma muito feliz, o tema do Congresso Eucarístico sintetiza três elementos fundamentais do tempo que estamos a viver como Igreja em Portugal: a preparação já próxima do Centenário das Aparições, primeiro do Anjo e, depois, de Nossa Senhora, no contexto deste Ano Jubilar da Misericórdia. O oferecimento que o anjo pede aos pastorinhos, pedido que depois Nossa Senhora repete, tem como modelo o oferecimento de Jesus no seu Mistério Pascal, é um oferecimento eucarístico. Contemplar na adoração eucarística o mistério da Misericórdia do Pai por nós, que nos dá o seu Filho, é uma verdadeira escola de oração e de missão. Aquilo que os nossos olhos contemplam, o que o nosso coração adora é a missão da nossa vida, para fazer aos outros aquilo que o Senhor Jesus fez por nós.
Sala de Imprensa - Este congresso destina-se particularmente à Igreja – sacerdotes, religiosos, leigos consagrados e agentes de pastoral em geral. Mas estarão todos os cristãos cientes da importância da Eucaristia?
Pe António Valério- Na verdade, o Congresso, na sua riqueza de temas e na qualidade dos seus oradores, é uma oportunidade de formação para agentes pastorais, mas está aberto a todos os que queiram aprofundar a compreensão da Eucaristia na chave de leitura que aqui é proposta. Muitos cristãos estão cientes desta importância, outros com certeza terão ainda caminho a fazer, mas isso é o que motiva e justifica a organização de um Congresso Eucarístico: que seja uma oportunidade para lançar novos desafios às comunidades cristãs do nosso país, a partir do que aqui se aprenderá e celebrará.
Sala de Imprensa- A Eucaristia é banquete sagrado, no qual recebemos Jesus Cristo como alimento. O Papa Francisco na sua recente exortação apostólica refere que a comunhão é para quem precisa e não para quem é santo, abrindo um pouco o acesso à comunhão por parte daqueles que, não estando em absoluto estado de graça, não estejam em pecado mortal. Como vê esta questão?
Pe António Valério- O Papa Francisco abre novos caminhos para tratar a questão das chamadas “situações irregulares”, com uma abordagem que não pode ser centrada numa óptica legalista do “pode ou não pode”, numa “insuportável casuística”, como o Papa afirma na mesma Exortação. A chave de leitura do caminho de discernimento pessoal e pastoral que é proposto é sempre a Misericórdia, o desejo que ninguém se sinta afastado da graça de Deus e da ajuda da Igreja. Se nos perguntarmos sinceramente sobre quem somos diante de Deus, quem de nós é verdadeiramente digno de receber o Corpo e o Sangue de Jesus? Não podemos olhar para a celebração da Eucaristia como um merecimento, mas como uma graça, um dom de Deus para a nossa salvação, à qual, naturalmente, como pessoas responsáveis e frágeis, teremos que corresponder na coerência de vida que o Evangelho nos pede. Mas sobretudo ficam estas ideias: misericórdia, acolhimento, acompanhamento, discernimento. É um caminho extraordinário que se abre para a Igreja e marcará certamente um novo estilo pastoral diante das situações complexas e difíceis em que tantos irmãos e irmãs nossos se encontram.
Sala de Imprensa- Ao delinear este tema para o Congresso Eucarístico, assente na questão da misericórdia, o que é para o Apostolado de Oração o êxito deste Congresso?
Pe António Valério- O Apostolado da Oração, como Rede Mundial de Oração do Papa ao serviço dos grandes desafios da Igreja e do mundo, vê com muita expectativa este evento tão importante da Igreja em Portugal. A sua espiritualidade, na tradição da devoção ao Coração de Jesus, assumiu desde os seus inícios uma forte dimensão eucarística. O “oferecimento das obras do dia” tem como fonte e modelo a entrega de Cristo na Cruz, que se renova na sua entrega eucarística. Oferecer o dia pelas intenções do Papa é assumir um compromisso diário a oferecer-se com Jesus para fazer deste mundo um lugar melhor para todos. Neste sentido, o Apostolado da Oração, na realização deste Congresso, sentir-se-á certamente “em casa” e a visitar a sua identidade mais profunda, com o exemplo de Maria. É também por isso que nos organizámos para uma peregrinação nacional para a Eucaristia de Encerramento do Congresso, como momento de celebração de tantos milhares de pessoas que vivem esta espiritualidade.
CR
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