01 de fevereiro, 2010

Foi esta a notícia que D. Maria da Purificação Godinho, que recebera a Jacinta, no seu patronato da Rua da Estrela, em Lisboa, no dia 21 de Janeiro de 1920, dava, quase um mês depois, ao Dr. Manuel Nunes Formigão: “Senhor Padre, vou dar-lhe uma notícia pouco agradável: a Jacintazinha vai morrer”. No dia seguinte, pelas 22.30 horas da noite, no Hospital de D. Estefânia, aquela menina que vira Nossa Senhora na Cova da Iria, voava ao Céu, menos de um mês antes de completar 10 anos. A notícia chegou depressa aos pais, através de duas cartas, uma, desconhecida, da mesma senhora, e outra de uma amiga da Lúcia: “É muito à pressa que lhe escrevo para lhe dar a triste notícia que faleceu ontem, a nossa querida Jacinta. Peço-lhe para prevenir a sua tia. Coitada, como lhe deve custar este grande desgosto!”
A sua caminhada de dor começara nos finais do ano de 1918. No dia 20 de Dezembro, a Jacinta ainda foi com a mãe a Boleiros, a uma procissão de penitência. Dois dias depois, ela e o Francisco adoeceram. Apareceu um tumor à Jacinta, no lado esquerdo. Levantou-se, oito dias depois, mas voltou à cama. O tumor rebentou. Por duas vezes, a mãe levou-a ao colo a Ourém, consultar o Dr. Preto, que determinou o seu internamento no Hospital de S. Agostinho daquela vila, no dia 1 de Julho de 1919. Escrevia o Dr. Formigão, a 24 de Julho desse ano: “A epidemia bronco-pneumónica, quase a declinar, roçou com a sua asa negra a pobre criança [o Francisco], ferindo-a de morte. A mais nova das videntes, irmã do finado, encontra-se actualmente no hospital de Vila Nova de Ourém, com um tumor, sendo convicção dos médicos que está irremediavelmente perdida”. Saiu do hospital a 30 de Agosto.
No dia 13 de Outubro de 1919, na Cova da Iria, Jacinta encontra-se com o Dr. Formigão: “Chega ao pé de mim Jacinta de Jesus Marto, uma das videntes de Aljustrel, acompanhada pela mãe. Ambas trajam rigoroso luto por motivo do falecimento de Francisco Marto, irmão de Jacinta. A pequena está esquelética. Os braços são de uma magreza assombrosa. Desde que saiu do hospital de Vila Nova de Ourém, onde, durante dois meses, se esteve tratando sem resultado, está sempre ardendo em febre. O seu aspecto inspira compaixão. Pobre criança! Ainda o ano passado, cheia de vida e saúde, e já hoje, como uma flor murcha, pendendo à beira do sepulcro! A tuberculose, depois de um ataque de broncopneumonia e de uma pleurisia purulenta, mina-lhe desapiedadamente o débil organismo. Só um tratamento apropriado num bom sanatório é que poderia talvez salvá-la”.
Contou a Srª Olímpia que “foi, muitas as vezes, a cavalo num burrinho, à Cova da Iria, a pedido dela”. A última vez foi a 13 de Janeiro de 1920. “Quando chegou à estrada, disse à mãe: “Cale-se agora, não diga nada, que eu quero rezar dois terços e, na Cova da Iria, oferecê-los a Nossa Senhora”. Ela tinha dois laços de fita de seda que lhe tinham dado. Pediu à mãe para os ir oferecer a Nossa Senhora. Pendurou-os e depois disse: “Nunca mais cá torno”.
Nesse dia 13 de Janeiro, o Dr. Formigão encontrou-se, em Fátima, com o Dr. Luís Vasconcelos (Alvaiázere), de Ourém, com o Dr. Eurico Lisboa, oftalmologista de Lisboa, e com a família da Jacinta para tratar da ida dela para Lisboa. A mãe e um irmão acompanharam a menina, no dia 21. Depois de alguns dias, em casa de D. Maria da Purificação, foi internada no Hospital de D. Estefânia, no dia 2 de Fevereiro, e operada no dia 10. No dia 20, foi confessada pelo pároco da igreja dos Anjos, Pe. Pereira dos Reis, mas já não pôde receber a comunhão, marcada para o dia seguinte, pois faleceu, nesse dia 20, às 22.30, menos de um mês antes de completar dez anos, pois nascera a 11 de Março de 1910.
O corpo foi depositado na igreja dos Anjos e foi resolvido enviá-lo num furgão para Chão de Maçãs, e daí para Fátima ou Vila Nova de Ourém, conforme quisesse a família, uma vez que a Jacinta mostrara “desejo de não descer à terra”. Fizeram-se subscrições para pagar a trasladação “porque me parece consolador para a família que o corpinho seja conduzido para Fátima”. O corpo seguiu para a estação do Rocio, às 17.30 horas da tarde do dia 24, mas a urna só seguiu às 4 da madrugada do dia 25, em comboio de mercadorias.
“Em Fátima – explica D. Celeste Alvaiázere - não havia jazigos, na igreja não podia ficar, e foi então que se resolveu que os restos mortais da Jacinta fossem para o nosso jazigo onde ficou carinhosamente depositado esse Anjo que, aureolado de santidade, fez cair sobre nós, nessa altura, uma chuva de graças e bênçãos do Céu”.
Na sua segunda Memória, escrita em 1937, a Irmã Lúcia diz que ficou muito triste com o falecimento da Jacinta. Recebida a notícia de que ela “havia voado ao Céu” e de terem trazido o seu cadáver para Vila Novas de Ourém, a tia Olímpia a tinha levado, um dia, “junto dos restos mortais da sua filhinha”, com o fim de a distrair. “Mas, por largo tempo, a minha tristeza parecia aumentar cada vez mais”.
A trasladação para o cemitério de Fátima só foi no dia 12 de Setembro de 1935, para o local onde fora sepultado o Francisco. Finalmente, a 1 de Maio de 1951, foi trasladada para a basílica do Santuário onde, a 13 de Março de 1952 foram também sepultados os restos mortais do Francisco. A 13 de Maio de 2000, foram os dois beatificados pelo Papa João Paulo II, que visitou os seus túmulos. Também o Papa Bento XV, na sua peregrinação ao Santuário, no próximo dia 13 de Maio de 2010, décimo aniversário da beatificação.
                                                                                                  P. Luciano Cristino,
director do Serviço de Estudos e Difusão do santuário de Fátima
Janeiro de 2010
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