23 de junho, 2019

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A Igreja necessita de um aggiornamento permanente porque é peregrina

Teólogos espanhol e italiano deixam pistas para uma orientação pastoral desta peregrinação

 

A Igreja é peregrina e, neste caminho, que a coloca em diálogo com o seu tempo, que contributos dá Maria, ao longo da Sua história para que esta Igreja “povo de Deus”, siga o seu rumo fiel ao Evangelho, foi o tema dominante das duas conferências proferidas hoje no encerramento do Simpósio Teológico-pastoral “Fátima, hoje: que caminhos?” que terminou este domingo na Cova da Iria.

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O teólogo Benito Méndez Fernández, presbítero da diocese de Mondoñedo- Ferro, na Galiza, e professor titular da cátedra de Eclesiologia no Instituto Teológico Compostelano, defendeu que a Igreja está numa fase de “Paraconcílio”, por iniciativa do Papa Francisco que, à semelhança do que aconteceu há cinquenta anos com sacerdotes e especialistas convidados, agora se estende a todos os fieis.

“O que o Papa Francisco defende, e este é o caminho, por mais tentações que existam de regressar ao passado, é uma igreja que tenha a coragem maternal de Maria, para que Ela nos ensine a ter este espírito materno com a capacidade materna de perdoar, de acolher e de olhar para os nossos irmãos”, afirmou, defendendo o diálogo como premissa fundamental.

“O Concílio Vaticano II disse ao mundo que a Igreja queria ser construtora e uma ponte para o diálogo. Hoje temos de ser capazes de o promover e encontrar a melhor resposta a partir da nossa única verdade que é Jesus”, disse.

“O Cristianismo não é algo do passado e nós temos de ser capazes de o testemunhar”, precisou lembrando que Deus “está em relação constante: Deus quer manifestar-se aos homens, dialogando com eles e tratando-os como amigos”, em cada tempo.

O teólogo galego, que proferiu a conferência “Variações sobre a Igreja peregrina. Da Lumen Gentium ao pontificado de Francisco”, afirmou que “é necessário regressar aos textos fundamentais do Concílio” para que se “renove a fé” e se faça a “reforma da igreja”.

Diante de fenómenos como a “secularização, a mudança épocal, o crescente relativismo social e cultural, a Igreja tem de voltar ao Concílio Vaticano II” e “promover um novo aggiornamento para poder continuar a sua condição de peregrina” na sociedade e na cultura do seu tempo, qual “caravana sempre solidária na reconstrução da História”, afirmou Benito Méndez Fernández.

“A Igreja não é uma realidade acabada, não é divina, não é perfeita, está caminhando e por isso precisa de olhar sempre para as suas raízes, que estão em Jesus. Esta é a nossa verdade, ontem, hoje e por toda a eternidade”, afirmou o professor de Compostela defendendo que a Igreja, para se situar no seu tempo e responder aos desafios que cada tempo tem, e este em particular,  “tem de regressar a Jesus e essa é `reforma´que o Papa Francisco está a fazer”.

“Diante de uma situação de grande pluralidade, de uma nova forma de vida líquida, em que tudo parece opcional e susceptível de ser opinável” afirmou o sacerdote, a Igreja “tem de ser capaz de regressar “à sua condição de peregrina”, isto é, “deixar de ser triunfalista, centrada em si própria e apresentar-se como serviço”.

“Não há uma mudança dogmática mas sim uma mudança de paradigma que centra a Igreja naquilo que é: serviço”, esclarece ainda o professor de Santiago de Compostela.

“A cultura e a sociedade mudaram e a igreja também mudou. Já não vivemos uma igreja de massas; o nosso rebanho é cada vez mais pequeno e isto também nos deve fazer refletir” disse lembrando que esta atualização “não significa cedermos ao domínio do aleatório, da opinião, do casuístico”.

“Temos de nos atualizar, olhando para o mundo e dando-lhe respostas atuais a partir da nossa verdade de sempre que é Jesus Cristo”, reiterou lembrando o exemplo de Maria que “cheia da graça de Deus” se fez instrumento Dele.

Este foi, de resto, o grande repto deixado pela conferência de Nunzio Capizze, professor de Teologia dogmática na Faculdade de Teologia da Sicília, intitulada “Maria pôs-se a caminho: caminhos de hoje da peregrina da fé”.

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A partir da narração da visita de Maria à sua prima Isabel, feita no Evangelho de São Lucas, e considerando a Igreja à luz de Maria, em diálogo com teólogos contemporâneos, o professor italiano refletiu sobre a participação da “Mãe de Deus e da Igreja na obra da salvação”, deixando pistas sobre o papel que cada cristão deve ter, tomando- A como exemplo.

Aliás, Nunzio Capizze, deixou alguns desafios que se colocam à vivência eclesial europeia e que reclamam “necessariamente” uma “presença” da Igreja pensada à luz deste modelo.

24 horas depois do Papa Francisco ter anunciado que o lema que inspirará a Igreja na preparação da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa, em 2022, será justamente esta narração de Lucas, sintetizada na frase “Maria levantou-se e partiu apressadamente”, o teólogo sublinhou a importância do “caminho e da pressa” como duas características que devem acompanhar a atitude dos cristãos.

“Tal como a pressa de Maria, ou a de Zaqueu, ou ainda a dos pastores, também nós devemos ter pressa de entrar na graça de Deus, de cumprir a sua vontade que é levarmos essa graça aos outros”.  Isto é: “só há encontro quando alguém se dispõe a caminhar e só quem tem esta disponibilidade para o caminho pode encontrar-se com Deus, porque o Caminho significa sair de si e ir ao encontro do outro”. Por isso, acrescenta, “Maria não está só no caminho que faz e tem uma verdadeira sinceridade de fé”, que nos deve servir de exemplo.

“Os anunciadores do Evangelho são como Maria: Maria leva Jesus a casa de Isabel; leva-lhe a salvação. Os anunciadores do Evangelho levam Jesus aos outros, ao mundo e, por isso, a sua proposta de salvação”, explicitou.

“No seu caminho não está sozinha, leva a igreja, leva-nos a nós . De cada vez que saímos e levamos o Evangelho, estamos a fazer como Maria”, afirmou.

“Ela representa-nos a todos, no mistério do nosso serviço com vista ao anuncio da salvação”, conclui afirmando que todos os cristãos, a “Igreja de hoje”, tem de se fazer presente no mundo “sendo sinal mas também ação”.

Nunzio Capizze deixou, ainda, uma interpelação direta: “Que lugares de presença são hoje urgências pastorais”, respondendo com as famílias e a juventude a onde é "necessário e urgente levar a esperança”.

“Dar esperança é uma urgência pastoral”, afirmou sublinhando o papel que os santuários têm neste capítulo.

“O exemplo de Maria empurra-nos para o caminho, seja em direção ao santuário, seja na nossa vida e Ela empurra-nos para o encontro com Deus, mesmo quando não nos apercebamos disso”.

Por isso, concluiu, “tal como Maria se coloca a caminho apressadamente, com zelo, com paixão pastoral também nós, Igreja, temos de ser interpelados”.

Durante três dias especialistas, teólogos, sacerdotes, religiosas, investigadores universitários e leigos participaram no Simpósio Teológico-pastoral “Fátima, hoje: que caminhos?” promovido pelo Santuário de Fátima, que se realizou no centro Pastoral de Paulo VI, na Cova da Iria, no âmbito do tema do ano pastoral “Dar graças por peregrinar em Igreja”.

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