19 de junho, 2021

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A Igreja é convidada a ser o sinal da santidade de Deus, apesar dos seus pecados humanos, afirma o cardeal Tagle

O Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos foi o primeiro orador do segundo dia do Simpósio Teológico que decorre em Fátima até domingo

 

A santidade não é uma ideia “abstrata ou filosófica” antes um caminho que tem de ser percorrido por toda a igreja, ciente de que também ela é pecadora, afirmou esta manhã o Cardeal Luís António Tagle, no simpósio Teológico-Pastoral “Fátima, hoje: pensar a santidade”, que termina este domingo no centro Pastoral Paulo VI.

“O pecado na Igreja é entendido como a falta de santidade; alguns duvidam mesmo que a Igreja seja Santa, como dizemos no credo. As notícias sobre os abusos dentro da Igreja contra pessoas vulneráveis como as crianças, os problemas financeiros, mesmo os conflitos internos dentro da igreja, colocam a sua santidade em questão” referiu o prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos numa intervenção intitulada “Crise de santidade: o drama do pecado em Igreja”, na primeira conferência do dia que hoje decorrerá a partir da exortação da primeira Carta aos Coríntios “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?”.

“Mesmo feridos, os cristãos devem ser os primeiros, os mais próximos e os mais disponíveis para ouvir, encaminhar e levar a esperança de Deus aos outros”, disse o cardeal sublinhado que “é isso que nos torna santos”.

“Não podemos esperar ser como Deus; só Ele é verdadeiramente livre do pecado, mas temos a responsabilidade de levar a sua justiça, a sua misericórdia e o seu amor aos outros”, referiu ainda.

“A chamada à santidade chega-nos, hoje,  em situações de rutura como o tráfico humano, a escravatura, a exploração de pessoas. Parte da nossa santidade é olharmos para estes sinais horríveis de pecado, que percorrem a humanidade, e sermos o rosto de Deus para elas”, esclareceu ainda. 

O cardeal, arcebispo emérito de Manila, que interveio a partir de Roma, via zoom, lembrou que a santidade da Igreja “é uma questão de fé”.

“Não se trata de uma questão antropológica ou sociológica mas a santidade da Igreja é uma questão de fé que está localizada na acção da Santíssima Trindade. Só Deus é Santo e a Santíssima Trindade é a raíz da santidade da Igreja, que é um dom de Deus; é a acção de Deus, do Pai que envia o Filho; o Filho que fez da Igreja o seu corpo e que deu à igreja o Espírito Santo”, afirmou o cardeal Luís Tagle.

“Quando vemos sinais de pecado na Igreja é a isto que temos de recorrer: a santidade da Igreja é uma questão de fé; a santidade não é um produto da acção humana, da bondade humana, é um dom de Deus”, enfatizou ao recordar que há duas ameaças à santidade da Igreja, nomeadamente o gnosticismo e o pelagianismo, pois a santidade “não depende nem do conhecimento e da sabedoria nem de critérios de justiça humanos.”

“A santidade de Deus é a Sua bondade, o Seu amor que é diferente do amor e do poder humanos” afirmou ao sublinhar que “a nossa condição não pode conter a santidade de Deus. O povo de Deus está chamado a ser um sinal da santidade de Deus”.

O cardeal, membro da Cúria Romana, lembrou aos cerca de 300 participantes neste Simpósio, cem dos quais a seguir os trabalhos via digital, que a santidade de Deus “manifesta-se em Jesus pela proximidade”.

“Através de Jesus Deus abraça os nossos medos e perturbações; em Jesus Cristro vemos o Deus Santo que toca a fraqueza humana; ao mesmo tempo em Jesus vemos um ser humano que mostra a santidade através da obediência a Deus. É a  isto que somos convidados quando falamos da nossa santidade”, disse ainda.

“Nós somos santos por obedecermos a Deus e não por sermos iguais a Ele”, concluiu.

Jesus é um irmão compassivo que nos mostra o caminho para o Pai, que nos mostra o caminho da santidade: Ele não  só nos mostra como ser santos; ele guia-nos e ensina-nos o modo de sermos santos” e “o discipulado obriga-nos a este destino: o da santidade”.

Por fim, o cardeal Luís Tagle lembrou que todos os cristãos estão obrigados pelo batismo a ser santos nos nossos estados de vida.

“A santidade não é uma ideia abstrata; ela entrou no mundo humano em Jesus e, Nele, temos o caminho para a santidade e só correspondendo a este caminho é que nós podemos enfrentar o pecado” disse ao salientar que “ a santidade é admitir o nosso pecado, sabendo que há esperança de salvação por nos sabermos amados por Deus”.

“Esperamos que a Igreja possa ser este sinal de Deus contra o pecado”, concluiu.

Este sábado ainda usarão da palavra o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa que abordará o tema da reconciliação e Fabien Revol, professor da Universidade de Lyon que falará sobre a questão da Santidade e da Ecologia integral. As Imagens da santidade em Fátima serão o tema da segunda mesa redonda deste Simpósio, esta tarde, que reunirá o  professor José Eleutério da Universidade Católica Portuguesa e o padre Joaquim Ganhão, capelão do Santuário de Fátima para falar dos peregrinos e da luz de Fátima como expressões da santidade deste lugar.

O simpósio pode continuar a ser seguido online.

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