20 de fevereiro, 2021
“A cultura da compaixão é o antídoto à cultura da indiferença de quem desvia o olhar dos irmãos feridos à beira do caminho”Festa Litúrgica dos Santos Francisco e Jacinta Marto, foi acompanhada por milhares de peregrinos em todo o mundo através dos meios digitais
O Dia dos Pastorinhos, é celebrado pela primeira vez apenas em ambiente digital. Esta manhã, a Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima acolheu uma celebração, presidida pelo Cardeal D. António Marto, bispo da diocese de Leiria-Fátima, que falou da proximidade, da compaixão e da ternura dos Pastorinhos de Fátima como o exemplo para resistir à pandemia e vencer o medo. “Vivemos um tempo difícil para todos, um tempo de crise a vários níveis, pela crise sanitária, económica, social, ecológica, cultural e também a crise de relações humanas, talvez a mais grave”, começou por dizer o prelado, alertando para o facto de que em momentos de crise “é muito fácil cair no desespero”. “Os nossos queridos Pastorinhos são estrelas em que resplandecem a proximidade, a compaixão e a ternura como estilo da relação de Deus connosco e que devem tornar-se estilo do nosso cuidado recíproco, de uns pelos outros”, e assim “resistiremos à pandemia e venceremos o medo, a insegurança, a solidão, o desânimo e o sofrimento nos seus aspetos negativos”. Numa celebração transmitida nas redes sociais e participada por milhares de peregrinos em todo o mundo, o cardeal português afirmou que “Não se pode viver ignorando o outro porque estamos todos na mesma barca, todos interdependentes”, ao considerar que esta foi a mensagem que Nossa Senhora deixou em Fátima, numa altura em que também o mundo atravessava uma crise pandémica e uma guerra mundial. “O cuidado de Deus pelo mundo é-nos testemunhado pelos santos Pastorinhos e deve inspirar o nosso, e podemos identificá-lo em três palavras muito usadas pelo Papa Francisco para caraterizar o estilo de Deus manifestado em Jesus: proximidade, compaixão e ternura”, disse. O Evangelho hoje proclamado “é um ícone expressivo da proximidade de Deus aos homens”, pois mostra como “Deus ama e cuida de todos os seus filhos, fazendo-se próximo, especialmente dos mais pequenos, isto é, dos mais frágeis, pobres, humildes, indefesos”. Nos diálogos com Nossa Senhora e na sua mensagem, “os pastorinhos fizeram a experiência gozosa desta proximidade de Deus até àquela intimidade intensa”. Neste experiência “davam-se conta de que a proximidade do amor de Deus se destinava a todos os homens, que não está à distância, longe e indiferente, mas é um Deus que se faz próximo e se deixa aproximar por todos, mesmo os afastados e pecadores e Não exclui ninguém da sua misericórdia”. “Todos se podem aproximar d’Ele com confiança, Sem medo”, assegurou o prelado. Na mensagem de Nossa Senhora em Fátima, “Deus não é indiferente à dor humana, é um Deus compassivo”. Os Pastorinhos “apreenderam um verdadeiro amor de «com-paixão» como participação na dor de Deus pelo sofrimento da Igreja perseguida e pelos terríveis sofrimentos da humanidade em guerra que eram expressão da crueldade do mal”, lembrou D. António Marto, dando exemplos concretos como era o caso da oração pelos doentes e pela paz, no sacrifício pela conversão dos pecadores, na partilha com os pobres. “A cultura da compaixão é o antídoto à cultura da indiferença de quem desvia o olhar dos irmãos feridos à beira do caminho”, disse, ao considerar que a Igreja “é chamada a ser, na sua missão, um hospital de campanha que acolhe e cuida dos feridos e ajuda a curar as feridas com o bálsamo da compaixão”. O Papa Francisco “surpreende-nos ainda ao convidar-nos a descobrir a ternura de Deus para connosco e a nossa ternura na nossa relação com Ele e nas relações entre nós e não se trata de um mero sentimento e emoção, trata-se, antes, de uma atitude de afeto, acolhimento, atenção, escuta, compreensão, bondade expansiva capaz de tocar o íntimo, de fazer vibrar as cordas do coração”. “Os pastorinhos viveram esta ternura de Deus, de Jesus e de Nossa Senhora para com eles e vice-versa, são um encanto de ternura”, reiterou. A ternura acarreta “pôr no centro o rosto do outro, olhar olhos nos olhos, a sua presença física que interpela, o corpo de carne com as suas feridas e dor ou com a sua alegria contagiante e nós, hoje, sofremos de um déficit de ternura nas relações agravado pela situação da pandemia”, alertou o bispo da diocese de Leiria-Fátima. A Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima acolheu ontem, a Vigília dos Pastorinhos, numa celebração que começou com a recitação do Rosário, seguida de veneração aos túmulos, onde se encontram as principais relíquias dos dois primeiros santos de Fátima: São Francisco e Santa Jacinta Marto. Num espaço especialmente cuidado e iluminado por velas, símbolo da luz de Fátima, o Reitor do Santuário que presidiu à celebração lembrou as “duas candeias que Deus acendeu” e que são para a humanidade inteira um exemplo de entrega a Deus. “A sua luz brota de Deus; sigamos o seu exemplo e acendamos a vela da nossa vida de olhos postos nos santos Francisco e Jacinta Marto” afirmou interpelando: “diante das suas relíquias sigamos o Cordeiro que é o nosso pastor” convidou o padre Carlos Cabecinhas. Durante a celebração houve um momento de veneração aos túmulos, com a incensação das relíquias dos pastorinhos intercalada com a leitura das Memórias da Irmã Lúcia de Jesus. Na ocasião, o reitor do Santuário pediu a intercessão dos Santos Pastorinhos para que a humanidade seja libertada do tormento desta hora que vive em resultado da pandemia. Ainda esta tarde, pelas 14h00, será exibido um documentário, Santos Vizinhos- duas crianças que se fizeram candeias da humanidade a partir de Fátima, produção do Santuário de Fátima, e que conta a história de vida dos dois primeiros santos de Fátima, a partir do olhar de historiadores, teólogos e religiosas, e integra testemunhos da ex-postuladora da Causa de Canonização, Irmã Ângela Coelho; da religiosa carmelita que pediu a intercessão dos santos na cura do pequeno Lucas e do próprio miraculado e da sua família. Francisco e Jacinta Marto foram canonizados pelo Papa Francisco no dia 13 de maio de 2017, no Santuário de Fátima, no ano do Centenário das Aparições. |