06 de junho, 2021
“A crise ética e de valores” que a humanidade atravessa resulta “da adulteração da obra de Deus”, mas ninguém “está condenado eternamente”, afirma D. Rui ValérioBispo das Forças Armadas e de Segurança presidiu à missa dominical no Recinto de Oração
D. Rui Valério afirmou esta manhã que a “crise ética e de valores” que vivemos atualmente é o exemplo acabado da “adulteração” da obra de Deus pelo homem, mas não é uma inevitabilidade pois o projecto de Deus “é a salvação dos homens”. A partir da liturgia do X Domingo do tempo Comum, que gravita em torno da identidade de Jesus e da comunhão que Ele deseja estabelecer com aqueles que se colocam na posição de O seguir, D. Rui Valério convidou os peregrinos a fazer comunidade centrada na pessoa de Jesus. “É preciso recentrar nos critérios do Evangelho; quando vivemos segundo a vontade de Jesus tornamo-nos família de Deus” afirmou o prelado que esteve no Santuário de Fátima a acompanhar pastoralmente a visita dos dois chefes do Estado maior das Forças Armadas de Portugal e de Espanha, os almirantes António Silva Ribeiro e Teodoro Lopez Calderón, respetivamente, ao Santuário de Fátima, este fim de semana. “O Deus de Jesus Cristo é aquele que nos liberta; por isso, não desanimamos ainda que em nós o homem exterior se vá arruinando” com as suas próprias decisões, mas “nenhuma pessoa está encarcerada no seu pecado eternamente”. “Somos feitos para a liberdade; Jesus restitui-nos à vida e a esperança” pois “em Cristo o pecado e a lógica destrutiva foram e são esmagados”, esclareceu o prelado das Forças Armadas e de Segurança. “Existe algo em nós que Deus não toca: a liberdade. Deus não nos coage ou obriga, dá-nos liberdade; interpela-nos mas não derruba; só a verdade nos torna livres”, disse ainda. Aos inúmeros peregrinos que participaram na celebração, nomeadamente a família Dehoniana que este fim de semana realizou a sua peregrinação nacional a Fátima, D. Rui Valério lembrou que Deus procura sempre aqueles que ama, mesmo que nos confinemos “ao esconderijo de medo e de vergonha”. “Em Jesus, Deus falou à humanidade e veio à sua procura do homem como o pastor que não descansa até encontrar a ovelha tresmalhada. Ele procura o homem porque o ama eternamente, jamais desiste de nós”. Por isso, esta certeza, diz, deve transformar-se em missão e “todos nós somos convidados a assumir a condição de missionários com fé e caridade, no serviço aos outros”. O prelado lembrou a este propósito Nossa Senhora cuja atitude de procura é exemplar como fica expresso nos vários exemplos quando procurou Jesus no templo, quando esteve presente no momento da paixão e morte do Filho ou quando apareceu aos Pastorinhos. “Na sua aparição aos Pastorinhos veio à procura de uma humanidade dilacerada pela guerra e pelo pecado, para procurar e encontrar quem estivesse disponível para assumir o projecto de Deus” disse o prelado. Fátima é, por isso, “ o lugar onde cada um pode realizar e viver a experiência de ser procurado pelo Senhor, apesar dos medos e desilusões. Deus não quer que ninguém fique prisioneiro do pecado e das contrariedades” concluiu ao assinalar que não há inevitabilidades ou tragédias de que a humanidade não possa recuperar à luz do amor de Deus. Nesta celebração participaram quatro grupos de dioceses portuguesas que se anunciaram nos serviços do Santuário. Esta tarde, a Cova da Iria acolherá o primeiro de cinco Encontros da Basílica, às 15h30. A edição deste ano sofreu uma reprogramação devido à pandemia. Neste primeiro Encontro, o padre Ricardo Freire abordará o tema “’Jovem, eu te digo, levanta-te’: o Deus que levanta os fracos e dá a vida”. No habitual momento musical, o organista Gregório Gomes interpretará obras de Charles-Marie Widor. Este momento formativo terá como partida o cortejo fúnebre de Naim, narrado no Evangelho segundo São Lucas, que, “de forma surpreendente” se vai tornar um momento de alegria, pela "presença de Jesus, o seu encontro com a realidade dramática da humanidade e sobretudo os seus gestos de palavra e toque transformam a tristeza em alegria". “Os olhos de todos concentram-se em Jesus, e reconhecem-no como ‘um grande profeta’ (Lc 7,16), mas sobretudo como Aquele que dá corpo visível à fé de Israel. Hoje esta realidade tem ainda força? Quem são os fracos que Jesus levanta? Em que circunstâncias?”, interroga o palestrante, na sinopse de apresentação do encontro. O padre Ricardo Freire é membro da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos) desde 1998, tendo sido ordenado presbítero em 2006. É licenciado em Sagrada Escritura pelo Instituto Bíblico Pontifício de Roma. No campo da formação bíblica, tem prestado a sua colaboração nas escolas da Universidade Católica Portuguesa, bem como na Escola de Leigos do Patriarcado de Lisboa e no Curso de Inter-Noviciados, em Fátima. Na sua Congregação, é membro da equipa formadora do Seminário de Nossa Senhora de Fátima (Alfragide), onde se formam jovens religiosos provenientes de Portugal, Camarões e Moçambique. É também pároco de São José do Bairro da Boavista (Lisboa). Depois da palestra, segue-se um recital pelo organista Gregório Gomes, que apresentará três momentos da obra do compositor Charles-Marie Widor: “Bach’s Memento” – uma transcrição/arranjo para órgão sinfónico de seis obras para tecla de J. S. Bach, compositor que foi influência maior para Widor. O momento musical terminará com um improviso de Gregório Gomes. |