22 de junho, 2019
A bênção dos doentes, o serviço de lava-pés e as procissões são marcas da peregrinação a FátimaTrês intervenções marcaram a última parte dos trabalhos do Simpósio Teológico-pastoral este sábado
A importância da bênção dos doentes no final das grandes peregrinações internacionais aniversárias; o gesto do lava-pés no acolhimento aos peregrinos e as procissões- das velas, do adeus e do silêncio- foram esta tarde apresentadas como as “marcas da peregrinação a Fátima” pelos intervenientes no último painel do Simpósio Teológico-pastoral “Fátima, hoje: que caminhos?” este sábado. “A luz da procissão das velas; o silêncio da procissão do silêncio (exclusiva de Fátima) e a saudade expressa no adeus à Virgem constituem marcas importantes no imaginário deste lugar” afirmou o reitor do Santuário. O Pe. Carlos Cabecinhas foi um dos três oradores do último painel deste sábado e sublinhou o sentido da procissão como “uma caminhada comum” sinal da condição peregrina da Igreja enquanto povo de Deus. Em Fátima, particularmente, a procissão é uma forma “de aproximação” à veneranda imagem de Nossa Senhora e, simultaneamente, um momento de oração, meditação e peregrinação. O Reitor sublinhou a especial relação entre estas procissões e a própria Mensagem de Fátima, nomeadamente a Procissão das Velas que remete para a “luz de Deus”, relatada nas memórias da Irmã Lúcia por variadas vezes, em concreto, quando descreve a experiência de Francisco, tocado pela Luz de Deus. “A Procissão das Velas é a ritualização desta experiência de luz bem presente na Mensagem de Fátima. A luz que Nossa Senhora mete no coração dos pastorinhos é a luz de Deus”, afirmou o Pe. Carlos Cabecinhas. Já a Procissão do Adeus, sendo um rito de despedida, “um adeus emotivo” dos peregrinos a Nossa Senhora, representa um aspecto indelevelmente ligado à `alma portuguesa´: a saudade. O Reitor falou igualmente de uma outra procissão, criada por razões meramente funcionais, mas que hoje é um dos momentos mais “belos” e que mais dizem da experiência que se faz em Fátima: o silêncio. Trata-se da procissão de regresso da imagem à Capelinha, depois da missa da Vigília na noite dos dias 12, entre maio e outubro, durante a qual milhares de peregrinos rezam em silêncio, “o silêncio orante característico de Fátima”, acrescenta. É a mais recente das procissões mas tornou-se “marcante nos rituais processionais do Santuário”, frisou destacando que “para muitos é este silêncio que faz da Cova da Iria um lugar especial”. Em todos estes momentos, concluiu o reitor, os peregrinos são “os grandes protagonistas de Fátima”. Os peregrinos “criaram estes rituais e são eles que os protagonizam” quer quando levam as velas acesas, quer “quando se movimentam no recinto para ficarem mais próximos da imagem, quer ainda quando acenam os lenços brancos para se despedirem”. Outra das “marcas” da peregrinação a Fátima é a bênção dos doentes, no final da missa, particularmente nas grandes celebrações. A partir do Evangelho de São Marcos, o médico e sacerdote José Manuel Pereira de Almeida apresentou este gesto litúrgico como a “expressão da proximidade de Jesus” para com todos os doentes e os que são frágeis. “Jesus, no Santíssimo Sacramento, passa bem junto dos doentes para lhes dizer a Sua proximidade e o Seu amor”. E eles- tal como os Pastorinhos- confiam-lhes as suas dores, os seus sofrimentos, o seu cansaço”, afirmou o sacerdote, pároco em Santa Isabel, em Lisboa. “Como discípulos do Senhor, cada doente quer viver a sua vida como um `dom´. Naquele momento podem dizer-Lhe de novo, como os Pastorinhos, que querem oferecer-se a Deus de todo o coração”, afirmou ainda. “A nossa vida de comunhão com Jesus corresponde a vivermos com Ele e como Ele na terra” acrescentou lembrando as palavras do Papa Francisco, antes da bênção dos doentes em Fátima, no final da missa de canonização dos santos Francisco e Jacinta Marto, no dia 13 de maio de 2017: “Jesus sabe o que significa o sofrimento, compreende-nos, dá-nos força e consola-nos. Por isso, a bênção dos doentes é a certeza de que Jesus está presente, que nos compreende, nos dá força e nos consola”. Por último, foi apresentado o gesto do lava-pés como outra das grandes `marcas´ de Fátima. A diretora do Posto de Socorros do Santuário, a médica Ana Luísa Castro apresentou a história deste gesto, em Fátima como “um primeiro desejo daqueles que movidos pela compaixão para com os primeiros peregrinos, lançaram mãos à obra no apoio e assistência” a quem chegava a pé à Cova da iria. Uma iniciativa de um grupo “de cavalheiros e senhoras” que, em 1924 haveriam de formar a Associação de Servitas de Nossa Senhora de Fátima. O serviço do lava-pés “cabe nesse desejo de excesso, suscitado por Deus, podemos dizer, então nesse carisma, de se sacrificar para dignificar o outro, para o servir, ao jeito de Jesus na última ceia, mas também como única forma de realização plena do que se é chamado a ser em Cristo”, referiu a responsável, que é religiosa da Aliança de Santa Maria. Tendo atravessado já várias fases, o serviço do lava-pés assiste hoje a uma redução da procura pelos peregrinos. As razões para “esta curva descendente” podem ser consideradas de ordem prática, mas há “outras que nos devem interpelar” pois deriva da forma “como hoje o homem se coloca diante de Deus”. “Temos dificuldade em reconhecer que somos frágeis, que precisamos que nos lavem os pés” avançou a médica ressalvando uma convicção de “auto-suficiência” inerente ao homem de hoje, que privilegia o ritmo frenético imposto pelas mãos ao invés da “lentidão que os pés pedem”. “Os pés feridos são a manifestação física de um mundo interior magoado”, por isso, exortou a religiosa:“deixemos que os pés definam os nossos mapas, aceitemos percorrer um caminho interior, lento e esforçado, mas que permite ir experimentando os cheiros, as cores e os sons que a vida tem para dar”. “Temos que reaprender a usar os pés”, concluiu.
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