Assinala-se hoje o 20.º aniversário da morte da Irmã Lúcia
A Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado faleceu a 13 de fevereiro de 2005, no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, e está sepultada na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.
Neste 13 de fevereiro, em que se assinalam 20 anos desde o falecimento da Irmã Lúcia de Jesus, relembramos os momentos mais marcantes da vida da vidente das aparições de Fátima, que foi um exemplo de santidade através do amor e da oferta de si mesma a Deus.
A menina pastora de Aljustrel
Lúcia de Jesus foi a mais nova de sete irmãos. Viveu a sua infância em Aljustrel, no cume da Serra d’Aire, numa pequena comunidade que tinha como pilares a fé e a vida familiar.
Sua mãe, Maria Rosa, era uma mulher de reconhecido respeito e autoridade no meio e desempenhou um papel crucial na formação da filha, a quem ensinou a doutrina cristã e os valores morais, em conjunto com as outras crianças do lugar.
Desde cedo, começou a trabalhar como pastora, uma atividade que a ligou ainda mais à natureza e à vida simples do campo.
Em 1915, começou a guardar o rebanho, inicialmente com outras crianças da aldeia, mas a partir de 1916, já com os primos mais novos, Francisco e Jacinta Marto. Foi nesse contexto que a história singular da sua experiência de fé, como hoje a conhecemos, viria a ter início, marcada pelas aparições do Anjo, em 1916, e de Nossa Senhora, em 1917.
“Uma Senhora mais brilhante que o Sol”
Em 1917, a vida de Lúcia transformou-se radicalmente, quando “uma Senhora mais brilhante que o Sol” apareceu subitamente a si e aos seus primos, enquanto pastoreavam o rebanho na Cova da Iria, em Fátima.
Lúcia era a única das três crianças a quem Nossa Senhora falou diretamente nesta e nas cinco aparições mensais que se seguiram, tornando-se a principal transmissora da mensagem que a Mãe de Deus veio confiar ao mundo.
“Vimos, sobre uma carrasqueira, uma Senhora, vestida toda de branco, mais brilhante que o Sol, espargindo luz, mais clara e intensa que um copo de cristal, cheio d’água cristalina, atravessado pelos raios do sol mais ardente”, descreve a vidente, no relato que faz da primeira aparição, de 13 de maio de 1917.
Este acontecimento marcou profundamente a vida de Lúcia e dos dois primos, impulsionando-a a viver uma vida de oração, sacrifício e dedicação aos pedidos que a Virgem lhe confiou.
Um pedido especial de Nossa Senhora
O convite à devoção e reparação do Imaculado Coração de Maria foi deixado por Nossa Senhora a Lúcia, na aparição de Pontevedra, Espanha, a 10 de dezembro de 1925, quando Lúcia tinha iniciado o seu percurso em ordem à vida consagrada como Doroteia.
“Em seguida, disse a SS. Virgem: — Olha, minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos Me cravam, com blasfémias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante 5 meses, ao 1.° sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 mistérios do Rosário, com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes, na hora da morte, com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas”, conta a vidente, nas suas Memórias.
Lúcia assumiu a difusão deste pedido, que se tornou num ponto fundamental da sua espiritualidade, marcando a sua vida e a sua missão.
Um sentido, na clausura
Após a experiência das aparições, Lúcia sentiu o apelo interior para uma vida de oração e entrega total a Deus, entrando para o Carmelo de Santa Teresa em Coimbra, em 1948.
A vida de Lúcia como carmelita foi marcada por profundo silêncio, oração e entrega a Deus. No Carmelo, viveu em recolhimento, com a sua cela a ser um lugar de união com Deus e de serviço à Igreja.
O silêncio, que considerava uma graça, era essencial para a sua jornada espiritual, retirando-se para locais isolados para escrever.
A sua entrega a Deus era total, expressa através da obediência, considerando-se um instrumento nas mãos divinas. Lúcia acreditava que Deus operava através dela, aceitando a sua missão com humildade e confiança.
Através da sua oração, silêncio e entrega, Lúcia tornou-se um exemplo de dedicação e fé.
Uma vida pelo sucessor de Pedro
A vocação de Lúcia “foi vivida de modo radical como serviço à Igreja, Corpo Místico de Cristo, e em profunda união com o Santo Padre”, destaca o decreto sobre as suas virtudes heroicas.
Desde as aparições, Nossa Senhora deixou claro o lugar central do Santo Padre na mensagem de Fátima, pedindo orações por ele e sublinhando a sua missão no mundo. Lúcia assumiu este apelo com dedicação, refletindo-o na sua vida de fidelidade e oração constante pelo Papa.
Já na infância esta ligação com o sucessor de Pedro era assumida, conforme se comprova num relato da infância, nas Memórias da vidente: “Concebemos um amor tão grande ao Santo Padre que, quando, um dia, o Senhor Prior disse a minha mãe que provavelmente eu vinha a ter que ir a Roma, para ser interrogada por Sua Santidade, batia as palmas de contente”.
Toda a vida de Lúcia reflete esta fidelidade incondicional à Igreja e ao Santo Padre, testemunhando um amor e dedicação à missão que lhe foi confiada por Deus.
Um exemplo de entrega e devoção
O reconhecimento das virtudes heroicas de Lúcia de Jesus, a 22 de junho de 2023, destaca a sua fé inabalável, a sua esperança constante e a sua caridade ardente, bem como a sua humildade e obediência.
Nas suas Memórias, percebe-se uma pessoa profundamente unida a Deus, uma mulher de oração e sacrifício, que sempre procurou cumprir a vontade divina.
Por tudo isto, a vida da Irmã Lúcia é um legado para a Igreja e para o mundo, um exemplo de santidade através do amor e da oferta de si mesma a Deus.
A sua trajetória, desde a infância humilde em Aljustrel até à vida contemplativa no Carmelo, é um caminho para a santidade, uma esperança para o mundo e uma inspiração para todos aqueles que procuram viver uma vida de fé autêntica.
A Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado faleceu a 13 de fevereiro de 2005, no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, onde ficou sepultada durante um ano. A 19 de fevereiro de 2006, os seus restos mortais foram transladados para a Basílica de Nossa Senhora do Rosário em Fátima, onde está sepultada ao lado do túmulo de Santa Jacinta Marto, sua prima e também vidente das aparições de Nossa Senhora, em 1917.
A 13 de outubro de 2022, 17 anos após a sua morte, foi entregue no Dicastério para as Causas dos Santos, em Roma, o processo de Beatificação e Canonização da Serva de Deus Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado.
Cerca de 7 meses depois da entrega do processo, o Papa Francisco aprovava, a 22 de junho de 2023, o decreto que sublinhava as virtudes heroicas da vidente de Fátima, a partir de então considerada Venerável da Igreja.
“Se a Igreja reconhece a heroicidade das suas virtudes é fundamental que procuremos dar a conhecer melhor e mais profundamente a vida desta venerável, que procurou viver de forma intensa a sua relação com Deus”, disse, na ocasião, o reitor do Santuário de Fátima, padre Carlos Cabecinhas, convocando para a responsabilidade da promoção da oração para que ocorra um milagre que permita o fim do processo.
O título de Venerável significa que a Igreja reconhece que a Irmã Lúcia viveu de forma exemplar e praticou as virtudes cristãs em grau heroico. No entanto, para que ela seja beatificada, é necessário que seja comprovado um milagre atribuído à sua intercessão.
A oração pela beatificação da Venerável Irmã Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado está disponível AQUI.
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